Jon Matonis: “O bitcoin sobreviverá”
O responsável pela Fundación Bitcoin diz que o fechamento de Mt. Gox é "um incidente isolado"
Jon Matonis (Filadélfia, 1961) mudou de lado. Antes trabalhava para a Visa. Agora dirige a Fundação Bitcoin, a entidade que reúne a maioria dos operadores que usam essa moeda virtual. O bitcoin é fonte constante de notícias. A maioria são negativas: desde a prisão de seu vice-presidente, Charlie Shrem, ao fechamento do Mt.Gox, que deixou milhares de investidores presos num tipo de corralito (retenção dos depósitos bancários). Ou ainda notícias inexplicáveis: em um ano sua cotização subiu de 12 a 1.000 euros (de 38,50 a 3.200 reais) e agora caiu para 300 (963 reais). A missão de Matonis, economista e engenheiro de computação pela Universidade de Maryland, é dar prestígio a moeda e convencer as autoridades da sua validade. Os bitcoins, que completaram cinco anos, quer sejam levados a sério ou não, valem hoje 7 bilhões de dólares (16,45 bilhões de reais), metade do que valiam em dezembro passado. Além disso, a cada dia se realizam 58.000 transações com essa moeda (em dezembro a média foi de 102.000). Maconis participa do Mobile World Congress (Feira Mundial de Telefonia Móvel que se realiza em Barcelona).
Pergunta. Por que o senhor saiu da Visa para a Bitcoin?
Resposta. Foi uma evolução interessante. A Visa faz câmbio em muitos países e muitas moedas. Eu era o responsável pelas divisas. Depois trabalhei no Vale do Silício, em Verisign, que se dedica a encriptação. Nunca pensei que as duas coisas pudessem se unir, as finanças e a criptografia. Curiosamente, a Visa tentou, no final dos anos noventa, ter uma moeda virtual, mas nunca a concretizou.
P. Tenho umas economias. O que me recomenda, comprar um apartamento ou comprar bitcoins?
Você não deveria investir em alguma coisa na qual você não pode se permitir perder. Num futuro próximo, os assessores financeiros recomendarão os bitcoins entre os planos de investimentos
R. Se você considera um investimento de alto risco, eu te recomendo bitcoins. Você não deveria investir em alguma coisa na qual você não pode se permitir perder. Entretanto, as pessoas são diferentes e concebem o risco de formas diferentes; talvez um dedique 10% de suas economias ao bitcoin, enquanto o outro dedica 50%. Já existem fundos de investimento que começam a recomendar essa moeda virtual para acrescentar à carteira pessoal junto com os bônus, as ações, os imóveis ou o ouro. Num futuro próximo, os assessores financeiros começarão a recomendá-lo.
P. E quando aconselha que se compre? As diferenças de câmbio são constantes: de 20 a 1.000 euros em um ano e outra vez volta a cair. Por quê?
R. O bitcoin só tem cinco anos de vida. Está ainda em fase experimental e por isso é tão volátil. É como um bebê que está aprendendo a andar, por isso muda tanto seu preço. Estamos na versão 0.8 do software, ou seja, ainda não chegou a versão beta 1.
P. O principal banco de bitcoins, Mt Gox, fechou e nada se sabe sobre os bitcoins que estavam depositados lá. O que aconteceu?
Não estou preocupado com a moeda. Ela é resistente. Quando surgiu na mídia a notícia sobre Mt.Gox, caiu para 400 dólares (935 reais) e em dois dias subiu
R. É um incidente isolado. Não está relacionado com o protocolo do bitcoin, mas sim com como eles geriram a empresa de câmbio, suas atualizações das contas correntes de como não controlam essas contas correntes. O negócio que eles dirigiam era diferente do protocolo do bitcoin e por isso, no final, se separaram da fundação. A fundação não garante a qualidade das suas sociedades. Estou preocupado com as pessoas que tinham bitcoins ali.
P. Mas esses incidentes prejudicam a moeda...
R. Não estou preocupado com a moeda. Ela é resistente. Quando surgiu na mídia a notícia sobre Mt.Gox, caiu para 400 dólares (935 reais) e em dois dias subiu. O ecossistema da moeda pode suportar esses choques. O problema são as pessoas, porque com o bitcoin, por ser independente, sem uma autoridade central, se perde a moeda, perde o dinheiro. Não vai ser resgatado por um governo ou um banco.
P. O vice-presidente da fundação, Charlie Shrem, foi preso relacionado com Silk Road, um ponto de venda de drogas com bitcoins. Deve reconhecer que as notícias não facilitam o seu trabalho. Foi tudo casualidade?
R. Shrem pediu demissão e agora tem que se concentrar em resolver seus problemas legais. De fato não é uma boa notícia, mas o bitcoin sobreviverá, passou por coisas piores.
P. Poderíamos chegar a ver uma aliança entre Paypal e Bitcoin?
R. Paypal pode ser um concorrente ou um aliado. Está na mesma disjuntiva que esteve Visa nos anos noventa. Na área da internet somos concorrentes, mas a vantagem do bitcoin é que tem uma moeda. Eles são intermediários entre o comprador e o vendedor, não são a própria moeda. Poderiam adotar bitcoins, que têm as siglas de código de moeda xbt, como o ouro ou a prata, valores que não têm respaldo de um país.
P.Moedas virtuais existem há muitos anos. Agora, no entanto, existem em abundância. Por que o bitcoin conseguiu tanta expansão?
R. O sucesso do bitcoin deve-se ao fato de estar disponível em qualquer canto do planeta. É necessário apenas baixar o software. Não há barreiras. A outra razão para seu rápido crescimento é porque quando o software está disponível no celular ou laptop, é possível ser vendedor e comprador ao mesmo tempo. As operadoras, os governos, os bancos estão competindo por uma fatia do bolo dos pagamentos em dispositivos móveis, mas a realidade é que nós já estamos fazendo isso.
P. A Amazon e a Apple tentarão ter sua própria moeda?
R. Vão tentar, mas não será a mesma coisa. Porque a moeda está centralizada, e porque se a Amazon ou a Apple vão à falência, sua moeda desaparece. O bitcoin sobrevive às empresas e instituições. Não vai para nenhum lugar.
P. Mas em quantos lugares é possível fazer compras com bitcoins?
R. Em milhares. Em lojas online como Overstock, que compete com a Amazon, Tigerdirect. A maioria de comércio eletrônico.
P. Por que é proibido na China? Por que os bancos rejeitam a prática?
R. Na verdade, somente é proibida na Rússia. Em outros países, não. No caso da China, o governo queria esclarecer aos cidadãos que suas poupanças em bitcoins não estariam protegidas pelo governo nem pelo banco central. E os bancos, na realidade, não o rejeitam, não se importam. O inimigo dos bitcoins são os bancos centrais, os reguladores, os que dizem quanto vale a moeda. Esses ficam sem trabalho sem os bitcoins.
P. Onde são mais usados?
R. Os países com maior atividade são os Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, China, Canadá e, em décimo terceiro lugar, está a Espanha.
P. A crise econômica ou a instabilidade de uma moeda influenciam na expansão do bitcoin?
R. A vantagem do bitcoin para as pessoas varia segundo o local de residência. Se você mora nos Estados Unidos, nesse caso é importante pelo valor da privacidade; se mora na Argentina, que enfrenta uma alta inflação e as pessoas não podem sacar dinheiro dos bancos, o uso é para a proteção contra as leis do governo. No Chipre, por sua vez, a adoção aumentou depois do fechamento dos bancos e da proibição para sacar dinheiro. Temos também o caso dos bancos espanhóis com as preferências. Existem muitas razões para usar os bitcoins.
P. Mas muita gente acredita que isso tudo é ilegal
R. Não é ilegal em nenhuma parte do mundo, exceto na Rússia.
P. Mas isso de valer 1.000 e em poucos dias subir para 500 vai continuar?
R. Isso é consequência de dois problemas que vão desaparecer: a dificuldade de acesso a locais com bitcoins e os obstáculos impostos pelos governos para sua normalização. Quando isso desaparecer haverá menos volatilidade.
P. E em cinco anos? A moeda vai existir?
R. Existirá e terá crescido muito; e se você quer um conselho, compre hoje, o bitcoin vai subir.
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.