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Segundo turno, um pesadelo para a candidata Dilma Rousseff

A presidenta tentará alcançar a vitória no primeiro turno das eleições de 2014, para evitar confronto com adversários. Tempo de TV para propaganda eleitoral é seu maior trunfo

Faltando menos de um ano para as eleições presidenciais brasileiras, levantamentos apontam que a presidenta Dilma Rousseff (PT) está, ao menos por enquanto, liderando as preferências. Segundo o instituto de pesquisa Datafolha, Rousseff venceria as eleições em primeiro turno em todos os cenários possíveis. Ou seja, teria mais da metade dos votos válidos (excluídos os brancos e nulos), se as eleições fossem realizadas hoje. A presidenta responde por 47%% da preferência dos eleitores, de acordo com o instituto.

Mas o cenário das candidaturas ainda é incerto, ainda com os eleitores indecisos, ou os votos que podem mudar de lado até outubro do ano que vem. O desempenho da economia e o tempo de TV devem ser o fiel da balança para uma vitória ainda mais tranquila de Rousseff ou mesmo uma disputa mais acirrada. “A corrida começou com a Dilma muito na frente, mas como em qualquer corrida, o que interessa é a chegada, e não a largada”, avalia o jornalista José Roberto de Toledo, colunista político do jornal O Estado de S.Paulo e comentarista da emissora Rede TV!. E é justamente um possível segundo turno que representa um grande risco para Rousseff, segundo o cientista político Murilo Aragão, o que deve pautar a campanha da candidata à reeleição. “O maior desafio dela é ganhar no primeiro turno”, diz. “Existir um segundo turno abre espaço para reflexão, que pode gerar algum tipo de ameaça a ela”, explica.

Se confirmado o segundo turno, o cenário mais provável, até aqui, é a disputa de Rousseff com o candidato do PSDB, Aécio Neves. “Se houver segundo turno, é provável que seja com o Aécio (Neves), por uma questão estrutural, que são as coligações”, diz. “O Aécio tem apoio nos Estados do Pará, Tocantins, Minas Gerais, São Paulo, entre outros, além de ter lugar cativo na oposição, em seu partido. Já Campos, não se sabe exatamente de que lado está”, diz Aragão, referindo-se ao partido de Eduardo Campos, atual governador de Pernambuco, virtual presidenciável pelo PSB. Campos foi ministro do ex-presidente Lula e o seu partido já esteve na base de sustentação do Governo de Rousseff, inclusive com alguns integrantes do seu partido como ministros da presidenta.

Ainda de acordo com Aragão, a onda de manifestações ocorrida no Brasil em junho deste ano, embora tenham aberto espaço para o debate, não devem interferir na popularidade da presidenta. “As manifestações tiveram um caráter difuso, que não atingiu o Governo Federal, partiram da classe média. A popularidade da presidenta continua sofrível nesse estrato, enquanto a população em geral não se abalou”, diz.

Ele afirma que a economia, historicamente o principal “driver” das disputas presidenciais no país, deverá voltar a ser um fio condutor no pleito em 2014.

Isso porque, no ano em que serão celebrados 20 anos do real, o nível de crescimento, as decisões das agências internacionais de classificação de risco e os impactos de uma retirada de estímulos por parte do Federal Reserve (banco central norte-americano) nos Estados Unidos certamente serão temas de grande importância nos debates, podendo pesar na preferência dos eleitores.

Mas Aragão avalia que o cenário econômico é, justamente, um dos motivos pelos quais Rousseff é líder nas pesquisas. "Ela lidera pelo ambiente que tem sido impactado pelos programas sociais. Além disso, a debilidade da oposição e o desinteresse geral com a política favorecem a situação", explica.

Entre os outros fatores que têm impacto, está o chamado “tempo de TV”, a duração dos programas de cada coligação no horário eleitoral gratuito no rádio e na TV. Grande parte desse tempo é determinada proporcionalmente às bancadas dos partidos no Congresso Nacional.

E nesse aspecto, a presidenta sai na frente. "Rousseff está em vantagem também porque ela tem seis minutos de TV. Em segundo lugar, está Aécio, com três minutos, e em seguida, Eduardo Campos (do PSB) com apenas um minuto e meio", diz Aragão. "Pelo menos no primeiro turno, a vantagem é muito grande para a presidenta. A maioria dos eleitores se informa pela TV". Por isso, o quesito desempenha papel fundamental na formação das alianças, que podem somar tempo de TV, e até lá, Campos também pode crescer na preferência dos eleitores. A seu favor, tem um dos melhores índices de aprovação como governador do seu Estado. As alianças, em todo caso, podem ser definidas até junho.

Suicídio político

A terceira colocada das presidenciais de 2010, Marina Silva, deve mesmo ficar de fora da disputa em 2014. Isso porque o projeto de legenda da ex-candidata do Partido Verde (PV) não conseguiu registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para participar a tempo das eleições de 2014. O motivo foi a ausência do número mínimo de assinaturas exigidas pela corte.

“A união com Campos foi um suicídio político do ponto de vista da Marina, porque ela se juntou a uma coligação que ela não comanda. A chance de ele (Campos) não ser candidato tende a zero. Se assim fosse, ele iria contra todo o discurso que fez até agora”, acrescenta Toledo. Marina Silva tinha o projeto de ser candidata à presidência, mas abriu mão do projeto para ser a vice da chapa encabeçada por Eduardo Campos.

Na oposição, falta apenas a formalização da candidatura de Aécio Neves. No último dia 16, o ex-candidato presidencial José Serra anunciou em sua página no Facebook estar deixando a disputa, após as derrotas nas presidenciais de 2002 e 2010.“Como a maioria dos dirigentes do partido acha conveniente formalizar o quanto antes o nome de Aécio Neves para concorrer à Presidência da República, devem fazê-lo sem demora”, afirmou Serra na ocasião.

Para o PSDB, o jovem candidato, que foi governador de Minas Gerais por duas vezes, seria melhor para o projeto de fazer o partido voltar ao comando do Palácio do Planalto.“Não faço previsões, mas o que dá para dizer é que a rejeição do Aécio é menor do que a do Serra. Em havendo segundo turno, o Aécio teria menos obstáculos que ele”, avalia, por sua vez, Toledo.

As eleições presidenciais serão realizadas em 5 de outubro. No mesmo dia, os brasileiros vão às urnas para escolher também senadores, deputados federais, governadores e deputados estaduais. Se houver segundo turno, o pleito ocorrerá em 26 de outubro. O voto no país é obrigatório para os cidadãos de 18 a 70 anos.

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