conflito empresarial

A aliança de Repsol e Pemex por um fio

A ruptura obrigaria o grupo mexicano a retirar seu representante do conselho de administração da petroleira espanhola, que se reúne no dia 27

Antonio Brufau, presidente da Repsol.Luis Sevillano

As explosivas declarações que o diretor-geral da Petróleos Mexicanos (Pemex), Emilio Lozoya, fez no último dia 20 ante a Comissão de Energia da Câmara dos Deputados de seu país colocaram à beira do abismo a Aliança Industrial Estratégica que a empresa assinou com a Repsol, em janeiro do ano passado. Lozoya atacou o presidente da petroleira espanhola, Antonio Brufau, e o responsabilizou pela evolução das ações do grupo, que ele considera negativa. Ainda criticou as “altas remunerações” de Brufau e deixou clara sua oposição a que ele continue no cargo.

As afirmações de Lozoya, ao serem feitas em sede parlamentar, seriam motivo suficiente para quebrar a citada aliança e, inclusive, que o representante da Pemex no conselho de administração da Repsol tivesse que abandonar esse posto. A aliança, que punha fim ao conflito que provocava a tentativa da construtora Sacyr com o apoio da Pemex de desbancar Brufau, se formalizou, precisamente, para facilitar a presença de uma empresa competidora no conselho de outra, como é o caso.

Pemex se comprometeu a apoiar a liderança da Repsol

As duas empresas assinaram acordos pelos quais salvavam as regras de concorrência. Entre eles, a Pemex se comprometia a não baixar de 5% e a não passar de 10% da Repsol, a “apoiar a estrutura de governo e liderança da Repsol e sua atual composição” e a contar com a empresa espanhola “para avaliar e promover as oportunidades de negócio que possam ser de interesse mútuo”. Nesse sentido, suspendeu-se a colaboração em um dos projetos que estavam mais avançados.

Também foram constituídos vários comitês com funções consultivas e informativas nas diferentes áreas funcionais (exploração, produção, comercialização...) e em condições igualitárias. Se qualquer um desses acordos não fosse cumprido, seria aplicada a regra geral que veta o acesso de competidores ao conselho.

A desconfiança que geraram as declarações e a rejeição de Lozoya a Brufau não sinalizam precisamente um avanço na aliança. No entanto, o presidente da Repsol prefere acalmar a situação e reconduzir o caso para que volte à normalidade. Em caso contrário, a empresa teria de convocar uma junta geral extraordinária para aprovação da maioria dos acionistas.

Reunião chave no próximo dia 27

O assunto será colocado sobre a mesa no dia 27 de novembro na reunião mensal que será realizada pelo máximo órgão de administração da petroleira. O conselho está formado por 16 membros, dos quais seis estão distribuídos entre os sócios do núcleo forte de acionistas (dois correspondem a CaixaBank, outros dois a Sacyr, um a Temasek e outro a Pemex), outros oito são independentes (Paulina Beato, Artur Carulla, Luis Carlos Croissier, Ángel Durández, Javier Echenique, Mario Fernández, Isabel Gabarró e Henri Philippe Reichstul) e dois são executivos (Brufau e o secretário, Luis Suárez de Lezo).

Será a primeira oportunidade para medir a temperatura na empresa. Tudo dependerá da atitude que a Pemex venha a manter antes e após o conselho. Seu representante, Arturo Henríquez, terá a oportunidade de explicar a postura do grupo mexicano no citado conselho. Também poderá explicar o objetivo da reunião que tiveram em Houston (Texas, EUA) Lozoya e o diretor de Pemex na Espanha, José Manuel Carrera, e ele com representantes do escritório de advocacia Cuatrecasas, do banco Crédit Agricole e de uma firma especializada em reunir votos de investidores (proxy).

Esse encontro insere-se na ofensiva lançada contra Brufau a partir do México e, segundo algumas fontes consultadas, buscaria a preparação de um pedido para convocar uma junta geral extraordinária e nela propor a substituição de Brufau à frente da Repsol. Para convocar uma junta é necessário 5% do capital, algo que a Pemex supera (tem 9,34%), e para substituir o presidente são necessários mais de 50%. Segundo todos os indícios, essa possibilidade parece bastante remota, uma vez que o restante dos acionistas do núcleo considerado forte (La Caixa, com 12,02%; Sacyr, com 9,52%, e Temasek, com 6%) saiu da operação. Isto é, precisaria tirar ao menos 41% de 63% do capital que está nas mãos de minoritários ou de fundos de investimento.

O objetivo prioritário da pretendida mudança seria fazer uma nova tentativa de acordo com a YPF para encerrar o conflito pela expropriação de 51% feita a Repsol. Precisamente, o início da ofensiva da Pemex foi a oferta da YPF proposta por Lozoya ao conselho da Repsol. Essa oferta — que consiste na criação de uma sociedade na qual participaria a Pemex e o pagamento de 5 bilhões de dólares mediante bônus de 1,5 bilhão e ativos não explorados da ordem de 42.300 dólares o acre — foi recusada pelo conselho, incluindo o conselheiro da Pemex. O grupo espanhol exigiu uma compensação de justamente o duplo, embora esteja disposta a negociar um acordo sobre cifras e ativos reais, segundo destacaram seus responsáveis reiteradamente.

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