_
_
_
_
_

Ferrovial reajusta o seu traje

Mercados exteriores, operações corporativas e dividendos vestem os resultados da empresa

Autoestrada 470 ETR do Canadá, um dos principais ativos de Ferrovial
Autoestrada 470 ETR do Canadá, um dos principais ativos de Ferrovial

A Ferrovial continua reajustando seu traje ao entorno, cortando aqui e recosturando ali, e assim melhorou o seu aspecto. Em 24 meses ela reduziu em mais de dois terços o seu elevado endividamento (passou de € 20 bilhões para € 6 bilhões), e isso que neste ano sua dívida cresceu € 970 milhões, por causa de investimentos destinados a autoestradas em construção nos EUA. Nos últimos nove meses ela registrou, além do mais, um lucro de € 485 milhões, 2% a mais do que no mesmo período de 2012.

O faturamento do grupo cresce 5%, apesar da deterioração no seu negócio principal, a construção, cujas vendas caíram 7%, já que o aumento das obras no exterior não basta para compensar o desmoronamento do mercado espanhol. Ela registrou também uma redução de 4% no seu lucro bruto operacional (Ebitda).

Sua carteira de encomendas em 30 de setembro, destacam os analistas do Bankinter, “chegava a € 24,4 bilhões, o que é um recorde histórico para a Ferrovial, e desse total 68% já provêm do exterior, atividade que aumentou 14% no terceiro trimestre”. Os analistas da Renta 4, por sua vez, matizam: “Apesar da falta de consistência na melhora operacional, a Ferrovial ainda mantém a visibilidade na geração de resultados, apoiada numa elevada carteira de projetos e no seu incremento, e numa estrutura financeira suficiente para investir em novos projetos”.

O generoso setor de serviços

A Ferrovial Servicios conseguiu três importantes contratos nos últimos dias: um de € 94 milhões na Austrália, junto com uma filial da ACS, para a manutenção de estradas; e dois na Espanha, no valor de € 253 milhões, para a prestação de serviços de atendimento a bordo e de restaurantes nos trens AVE e de longa distância da Renfe. Desde o verão boreal, a Amey, filial britânica da Ferrovial, obteve também um contrato de € 236 milhões para a manutenção de 500 km de rodovias britânicas; outro para a manutenção e gestão das instalações de três bairros de Londres (cerca de 2.000 edifícios), no valor de € 176 milhões; e um terceiro, em torno de € 30 milhões, para a manutenção de instalações do governo britânico. Ela foi também pré-selecionada para um contrato de manutenção de infraestruturas hidráulicas em Gales (€ 234 milhões) e para um macroprojeto de autoestradas (€ 570 milhões) na Escócia.

Em suma, a contribuição dos mercados internacionais nos distintos negócios em que ela opera, os dividendos que obteve e as participações que vendeu do aeroporto londrino de Heathrow e da autoestrada canadense 407 ETR, junto com outras operações corporativas (a venda do aeroporto londrino de Stansted ou a aquisição da britânica Enterprise, entre outras), impulsionaram os últimos resultados da Ferrovial e vão cimentar os do encerramento do exercício.

As atividades vinculadas aos serviços, que já absorvem quase dois terços da carteira de pedidos do grupo, 45% das suas vendas e um terço do seu Ebitda, emergem como uma grande oportunidade de crescimento em curto e médio prazo.

“A estratégia de fortalecer o equilíbrio que a Ferrovial seguiu nos últimos anos nos situa numa posição privilegiada”, afirmam fontes do grupo empresarial, “porque dispomos de caixa e podemos pagar dividendos aos acionistas e investir em novos projetos e mercados para continuarmos crescendo”.

No final de setembro, a Ferrovial apresentava uma posição de tesouraria, excluídos os projetos de infraestrutura, de € 835 milhões de caixa líquido, depois de ter arcado com investimentos da ordem de € 621 milhões e de ter pagado dividendos de € 273 milhões. Além disso, o grupo não conta com vencimentos significativos de dívida corporativa até 2018.

O convencimento do grande potencial de seus negócios no setor de serviços, que já contam com uma forte implantação no Reino Unido e na Espanha, levou a Ferrovial a promover uma profunda reorganização destinada a acelerar sua diversificação para novos países e para atividades que, por sua complexidade e tamanho, e também pela maior duração dos contratos, contribuam com um maior valor agregado.

O objetivo é crescer no patamar dos 30%, com ofertas integradas e especializadas, e passar de um faturamento de € 2,96 bilhões em 2012 para mais de € 4 bilhões em 2014.

Uma peça-chave para o cumprimento dessa meta é a integração em curso da Enterprise, adquirida em abril por € 443 milhões, com a Amey, filial da Ferrovial Servicios no Reino Unido. Essa integração cria um grupo com 21 mil empregados e faturamento de € 2,6 bilhões.

A operação da Enterprise, segundo se diz no grupo, junto com a recente aquisição da Steel Ingenería no Chile, atende ao objetivo estratégico de crescimento rentável da Ferrovial mediante operações seletivas e de potencialização da atividade de serviços, através “de uma crescente internacionalização” que já se refletiu na ampliação dessas atividades para Portugal, Chile, Colômbia e Catar. A meta principal agora é levá-las também para os Estados Unidos.

A reorganização da Ferrovial Servicios, segundo Olivares, se articula em três grandes eixos: Reino Unido, com a já citada integração da Amey à Enterprise; Espanha, onde opera por meio da Ferrovial Servicios España, e por último uma área dita Internacional. O Reino Unido responde por 62% das suas vendas, e a Espanha representa outros 36%.

Para impulsionar sua expansão, a Ferrovial Servicios definiu seu negócio em cinco linhas: serviços nas cidades; manutenção de infraestruturas de transporte (aeroportos, ferrovias, metrô e rodovias); tratamento de resíduos; manutenção de edifícios públicos (ministérios, escolas, hospitais, prisões); e serviços para instalações industriais (de mineração, água ou eletricidade).

A nova estrutura conta ainda com quatro centros de competência que permitirão à Ferrovial Servicios desenvolver novas capacidades técnicas e colocá-las à disposição das diversas unidades de negócio.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_