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Coluna
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É urgente um novo Brasil

Entre as mil incertezas sobre o Brasil de hoje, uma certeza começa a abrir caminho: algo está morrendo definitivamente no mundo da política. E depois? Mais difícil é profetizar que novo Brasil nascerá de seus escombros.

Juan Arias
A educadora Graciara da Silva, moradora da favela do Mandela, grafita em homenagem ao líder sul-africano.
A educadora Graciara da Silva, moradora da favela do Mandela, grafita em homenagem ao líder sul-africano.Tomaz Silva (Agência Brasil)
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Os responsáveis por analisar o que está acontecendo neste país continente, que já parecia ter chegado ao futuro e descobriu que estava andando para trás, deveriam convocar os especialistas em tendências para analisar o que começa a aflorar de novo.

Os analistas políticos e os intelectuais mais lúcidos já falam que é necessário dar vida a uma República nova, ou reinventar o país. É a confissão de que o que existe hoje, da concepção do Estado à forma de governá-lo, está esgotado.

Sem dúvida, já existem vários Brasis. O de uma geração de políticos, de todas as tendências, presentes em todos os partidos, que esgotou sua imaginação para reinventar a política que transformou em um negócio, e o da nova geração que não se conforma em continuar sofrendo sob os escombros e quer começar a construir algo novo.

Hoje ninguém é capaz de dizer se o novo que deverá nascer será melhor do que o que agoniza. E é difícil imaginar quem poderá ser o arquiteto do Brasil novo. O que é certo é que não parece existir a possibilidade de voltar atrás, ou de permanecer vegetando no velho sistema em crise.

A literatura mundial sempre proporcionou à humanidade frases que atravessaram os séculos pela força do seu simbolismo, e que continuam nos alimentando até hoje. A literatura bíblica também nos deixou algumas afirmações que permanecem atuais, como a resposta que o profeta judeu Jesus deu a um daqueles que queriam segui-lo em sua aventura de reinventar o judaísmo e libertá-lo da sua carga farisaica. O jovem pediu ao Mestre, antes de segui-lo, para ir enterrar seu pai. Jesus respondeu: “Deixe que os mortos enterrem os mortos" (Mt.8.21ss).

Quando os tempos urgem e as circunstâncias históricas já nãose sustentam, não há tempo para compromissos, para esperar para ver se a tempestade passa, se a Lava Jato acaba, se as novas eleições absolverão os corruptos. São mortos-vivos.

É preciso deixar para trás o que não tem mais valor. Mortos são os que desejam se conformar com o status quo, os que preferem um compromisso para continuar em cena a qualquer preço. Vivos são os que sabem que os remendos não servem, os que compreenderam que “não se remenda uma roupa velha com um pano novo”.

Não é a política que está morrendo aqui e em metade do mundo, porque sem ela não há democracia e nos degolaríamos vivos. Seria como voltar para a floresta. O que está morrendo é uma maneira de governar de costas para a sociedade, pensando apenas em tirar proveito dos privilégios que o poder oferece.

Se os partidos e seus responsáveis não entendem isso e pensam que tudo pode continuar como estava com uma simples plástica para parecer novo, é melhor que percam suas ilusões. Nada de realmente novo poderá surgir sem um diálogo franco e aberto com a sociedade, com toda.

Uma sociedade que hoje está dividida e que também precisa deixar que os mortos enterrem os mortos. Para tanto, é urgente alguém que em vez de inflamar o fogo da discórdia, se mostre como pacificador.

Mais do que um Trump, criador de conflitos, o Brasil parece necessitar de um Mandela, que foi capaz de convencer seu país, dividido e confrontado entre brancos e negros, a abandonar a arma do ódio para empunhar a do diálogo e da persuasão capaz de criar uma nação nova.

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