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A onda populista pode atingir o Brasil, avisa o ex-ministro Nelson Jobim

FHC relativiza pesquisas que mostram Lula como favorito para 2018: "Ele não é um bicho papão"

Xosé Hermida
Expresidente Fernando Henrique Cardoso, primeiro ministro espanhol Mariano Rajoy
Expresidente Fernando Henrique Cardoso, primeiro ministro espanhol Mariano RajoySebastião Moreira (EFE)

A crise política do Brasil deixa o país em risco de ser atingido pela onda populista que percorre a Europa e os EUA. Esse é o diagnóstico de Nelson Jobim, ex-ministro de Defesa dos governos Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, e também ex-presidente do Supremo Tribunal Federal. O reitor da USP, Marco Antônio Zago, ressalta que não é um cientista político, mas concorda que o Brasil não está a salvo desse risco.

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A questão veio à tona num dos debates do I Fórum Brasil-Espanha, nesta segunda-feira em São Paulo, que reuniu empresários, políticos e professores dos dois países. Ao longo de uma discussão sobre a nova economia digital, foi o presidente da Telefônica, José María Àlvarez-Pallete, o primeiro a lançar o alerta. "Estamos vivendo a maior revolução tecnológica da história da humanidade", disse o executivo espanhol. "Tudo vai mudar: os negócios, nenhum de nós vai ficar como é agora. E são necessários novos valores. Se não atuarmos na distribuição da riqueza, vai aumentar a desigualdade e, então, chegarão os populismos para se opor a isso".

Com alguma ressalva, o reitor da USP concordou que esse perigo pode afetar ao Brasil. Muito mais claro foi Jobim. Segundo ele, se "a herança do Governo Temer não der estabilidade ao país" e não apresentar uma melhora da situação econômica e social, explodirá 'o populismo de direita e de esquerda'". "Chegarão partidos novos de populistas para vender esperança", vaticinou o ex-ministro, cujo nome chegou a ser cogitado para ser eleito pelo Congresso Nacional à presidência da República, caso o presidente Michel Temer deixasse o cargo. 

Jobim de destacou no Fórum empresarial após protagonizar uma controvérsia com uma representante do governo espanhol, a responsável de Pesquisa e Desenvolvimento, Carmen Vela. Em meio aos louvores mútuos entre brasileiros e espanhóis, Jobim rompeu a paz quando disse que para aproximar mais os dois países é preciso primeiro "identificar as divergências". Então criticou o papel da Espanha dentro da OTAN e da União Europeia. Jobim bateu contra o eterno adiamento do acordo entre Mercosul e UE, e também contra a política europeia protecionista dos produtos agrários. Ele ainda recusou os conceitos de Iberoamérica e América Latina, porque, segundo ele, exclui países do Caribe de fala inglesa e outros, como Guiana e Suriname. A representante espanhola retrucou incomodada — com os aplausos de alguns brasileiros do público — que, ante os desafios da nova economia digital, os países têm que trabalhar unidos e não procurar as divergências.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também falou do momento político do Brasil, questionado pelos jornalistas nos corredores. Não quis dar muita importância às pesquisas que situam Lula como o político com mais apoio popular, já que ainda falta quase um ano e meio para as eleições. E opinou sobre as últimas acusações de corrupção contra o ex-presidente: "Se for verdade todo o que estão dizendo sobre Lula, isso viraria um arma eleitoral e pode afetar a votação". Mas também assinalou que Lula não é um "bicho papão" e que ainda que ele não ache que o líder do PT tenha murchado como possível candidato eleitoral, "há outros que vão crescer", afirmou FHC sem citar nenhum nome.

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