Operação Carne Fraca da PF coloca JBS e BRF na mira por esquema de corrupção
Esquema de pagamento de propina a agentes fiscalizadores para evitar multas a frigoríficos abastecia PMDB e PP, diz delegado da PF
A Operação Carne Fraca, desencadeada pela Polícia Federal nesta sexta-feira, voltou os holofotes para grandes empresas do setor, como a JBS, responsável pelas marcas Seara e Big Frango, e a BRF, dona da Sadia e Perdigão. Informações preliminares dão conta de que havia um esquema de pagamento de propinas a fiscais agropecuários do Ministério da Agricultura para que frigoríficos pudessem vender produtos adulterados com produtos químicos e carnes vencidas. No total a Polícia cumpre 38 mandados de prisão que atingem executivos das duas empresas, e a Justiça Federal do Paraná determinou o bloqueio de 1 bilhão de reais nas contas da JBS e BRF. Além das duas gigantes do setor, outras 29 companhias também são alvo da operação. A PF cumpriu mandados nos Estados de São Paulo, Distrito Federal, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Goiás.
O delegado Maurício Moscardi Grillo, que até recentemente integrava a força tarefa da Operação Lava Jato, afirmou que o esquema abastecia partidos políticos. “Dentro da investigação ficava bem claro que uma parte do dinheiro da propina era revertido para partido político. Já foi falado ao longo da investigação dois partidos que ficavam claro: o PP e o PMDB”, disse Grillo. Segundo ele, foram detectadas irregularidades nas Superintendências Regionais do Ministério da Pesca e Agricultura do Estado de Minas Gerais, Goiás e Paraná. O delegado disse que ainda não é possível determinar os valores de propina pagos no esquema, mas as estimativas iniciais dão conta de que o dinheiro movimentado pode alcançar milhões de reais. Isso porque um dos investigados declarou ter 400.000 reais em dinheiro vivo na sua residência.
Parte dos alimentos adulterados teriam sido fornecidos para alunos da rede pública do Paraná. "Inúmeras crianças de escolas públicas estaduais estão se alimentando de merendas compostas por produtos vencidos, estragados e muitas vezes até cancerígenos para atender o interesse econômico desta poderosa organização criminosa", escreveu Grillo em seu despacho. Uma das técnicas envolvidas seria a substituição de carnes nobres utilizadas nas salsichas por outras mais baratas e até mesmo por farelo de soja.
Em nota, a Polícia Federal afirma que “agentes públicos, utilizando-se do poder fiscalizatório do cargo, mediante pagamento de propina, atuavam para facilitar a produção de alimentos adulterados, emitindo certificados sanitários sem qualquer fiscalização efetiva". Ainda não se sabe quantas pessoas podem ter consumido os alimentos irregulares. Além de abastecer o mercado interno, as duas empresas também são grandes exportadoras.
O atual ministro da Justiça, Osmar Serraglio (PMDB-PR), é citado em uma conversa grampeada pelas autoridades que investigam o caso. No diálogo, ele se refere ao fiscal agropecuário Daniel Gonçalves Filho, como “grande chefe”. Gonçalves, que ocupou o cargo de superintendente do Ministério da Agricultura no Paraná, é apontado como um dos principais articuladores do esquema. O juiz responsável pelo caso, no entanto, disse que não existem indícios suficientes de que o parlamentar tenha participado de algum ilícito. Serraglio assumiu a pasta da Justiça há poucas semanas, mas já protagonizou polêmicas: chegou a dizer que consegue identificar um criminoso ao “olhar nos olhos”.
Em um telefonema entre Serraglio e Gonçalves, o peemedebista diz que "o cara que está fiscalizando lá apavorou o Paulo, disse que hoje vai fechar aquele frigorífico (...) Botou a boca. Deixou o Paulo apavorado". O fiscal afirma que irá "ver o que está acontecendo".
A notícia de que mais um ministro de Michel Temer se vê envolvido em um escândalo de corrupção pode complicar a estratégia do Planalto de não falar sobre os aliados implicados em investigações. O presidente já afirmou que ninguém será afastado até que seja formalmente denunciado pela Procuradoria-Geral da República. Além de Serraglio, outros seis ministros do Governo foram alvo de pedidos de abertura de inquérito na Operação Lava Jato – o Supremo Tribunal Federal ainda não se manifestou com relação aos pedidos.
Em nota, Serraglio afirmou que a investigação deixa claro que ele não “interfere” nos trabalhos da Polícia Federal: “ O Ministro soube hoje, como um cidadão igual a todos, que teve seu nome citado em uma investigação. A conclusão tanto pelo Ministério Público Federal quanto pelo Juiz Federal é a de que não há qualquer indício de ilegalidade nessa conversa gravada”.
Já a JBS divulgou nota informando que "não há nenhuma medida judicial contra os seus executivos. A empresa informa ainda que sua sede não foi alvo dessa operação", e que "a JBS e suas subsidiárias atuam em absoluto cumprimento de todas as normas regulatórias".
O Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais Federais Agropecuários (Anffa Sindical) afirmou em nota que "apoia a operação Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal (...) e reforça que a denúncia partiu do próprio Sindicato".
A reportagem não consegui entrar em contato com os advogados da BRF.
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