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Governo não cede a PM e paralisação no Espírito Santo completa uma semana

Polícia Civil também quer aumento e dá prazo de 14 dias para que seus pedidos sejam atendidos

Exército patrulha um terminal de ônibus, em Vitória, nesta terça.
Exército patrulha um terminal de ônibus, em Vitória, nesta terça.Gabriel Lordello (EFE)

Após mais de 10 horas, terminou sem acordo as negociações entre membros do Governo do Espírito Santo e representantes do movimento das esposas dos policiais militares do Estado que bloqueiam a saída dos PMs dos batalhões. Com o impasse, a paralisação da PM continuará nesta sexta-feira pelo sétimo dia seguido. Enquanto isso, a violência segue nas ruas da Grande Vitória e do interior do Estado. Nos últimos sete dias, 121 pessoas morreram assassinadas, segundo o sindicado dos policiais civis.

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Por volta da 1h da manhã, as mulheres saíram do Palácio da Fonte Grande, no Centro de Vitória, onde acontecia a reunião. De mãos dadas, elas cantaram o hino nacional e entoaram gritos: "Mulheres unidas jamais serão vencidas”. Uma hora antes, duas representantes já tinham saído revoltadas com o andamento da nova rodada de negociações.

Segundo o movimento, elas fizeram uma proposta de 43% de reajuste dos salários da categoria e um pedido de anistia total para os policiais. Nenhuma das duas reivindicações foi aceita, segundo Fernanda Silva, umas das representantes do movimento que participou da reunião. "O governo disse que chegou ao limite da negociação, a gente pede o reajuste, mas eles dizem que não tem mais negociação", explicou. "Nós já perdemos muitos nas ruas, já são 115 mortes, mas o governo não está vendo o tamanho da emergência", completou.

Nos últimos dias, o executivo tem reiterado que um aumento é inviável na atual conjuntura econômica. O governo capixaba alega que um reajuste representaria um custo adicional de meio bilhão de reais nos gastos com pessoal, o que desequilibraria as contas do Estado. O secretário de Estado de Direitos Humanos Julio Pompeu, que participava da mesa de negociações, afirmou que o Espírito Santo está dentro do limite da Lei de Responsabilidade Fiscal, sendo acionado pelo Tribunal de Contas com frequência.

Enquanto o impasse com a PM parece sem solução no horizonte, agora é a Polícia Civil que cogita deixar as ruas. Na tarde desta quinta, o Sindicato dos Policiais Civis do Estado decidiu dar um prazo de 14 dias para o Governo atender as reivindicações da categoria e, caso contrário, eles farão uma paralisação. Os policiais civis pedem recomposição salarial e nível superior para o cargo de agente de polícia. Os policiais também definiram que, por uma questão de segurança, as delegacias que funcionam com menos de quatro policiais serão fechadas e eles serão transferidos para delegacias regionais. O ultimato da Polícia Civil, que chegou a cruzar os braços por algumas horas na terça, tem potencial para agravar a crise.

Morte de sindicalista

A quinta-feira foi mais um dia de violência no Espírito Santo. O presidente do Sindicato dos Rodoviários de Guarapari (Sintrovig), Wallace Barão, foi encontrado morto a tiros dentro do carro ainda de manhã. A informação foi confirmada ao EL PAÍS pelo presidente do sindicato da Grande Vitória, Edson Bastos. Com a notícia, o sindicato dos Rodoviários de Vitória determinou que todos os ônibus na região metropolitana voltassem aos terminais e informou que o serviço será paralisado por tempo indeterminado devido à falta de segurança.

Foi mais um desdobramento de uma crise que deflagrou uma onda de violência e insegurança. Em seis dias, mais de 100 pessoas já morreram no Estado de forma violenta.

A morte do líder sindical aumenta a tensão porque o crime ocorreu apesar da presença das Forças Armadas na capital, cujos agentes estão na cidade há dias. O assassinato aumenta a sensação de medo da população que não sai às ruas com tranquilidade e vive uma espécie de estado de sítio. “Essa é a segunda vez que o Executivo promete segurança para que os ônibus voltem às ruas e falha. As tropas do Exército apareceram nos terminais com duas horas de atraso”, disse Bastos. Ele também explicou que motoristas sofreram ameaças quando tentaram sair das garagens. Em outro episódio que mostra o clima no Espírito Santo, a sede da Rede Gazeta, afiliada da rede Globo, na Ilha de Monte Belo, em Vitória, foi atingida por quatro tiros na madrugada. Algumas vidraças quebraram, mas ninguém trabalhava no local na hora.

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