Polícia emite alerta por PCC em São Paulo e Governo diz que desconhece ameaça
Comunicado que circula entre policiais diz que facção se arma para ataques na terça-feira
Um alerta que tem se disseminado entre policiais civis e militares informa que a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) está se preparando para fazer ataques em série em diversas localidades de São Paulo na proxima terça, 17 de janeiro. As informações foram repassadas por meio de uma mensagem oficial direcionada aos agentes pelo Centro de Inteligência Policial de Araraquara. O órgão é um departamento da Polícia Civil paulista.
Diz o documento encaminhado para todas as unidades policiais: “Para conhecimento e demais providências, informo que chegou ao conhecimento deste Centro de Inteligência que comunicado entre os membros do PCC dão (sic) conta de que armas de fogo foram distribuídas aos integrantes da facção para possíveis ataques. Consta que no próximo dia 17 de janeiro o comando do PCC irá ordenar aos executores o tipo de ataque e o local onde cada um terá que agir”. A reportagem confirmou a veracidade do ofício com cinco policiais que pediram para não ter seus nomes divulgados.
De acordo com essas fontes, a razão dos ataques seria a possível transferência de 12 lideranças do PCC para presídios federais ou pela extensão dos prazos de permanência delas na penitenciária de Presidente Bernardes, onde prevalece o cumprimento do Regime Disciplinar Diferenciado (RDD). Esse tipo de punição tem o prazo máximo de 60 dias e é dado a detentos que cometeram penas graves nas prisões, como ordenaram a prática de crimes mesmo estando presos. Parte desses líderes, inclusive o principal deles, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, está cumprindo sua pena nele desde dezembro e, em princípio, seria transferido para outro presídio em fevereiro. O Governo do Estado, porém, estuda maneiras de prorrogar as punições a essas lideranças.
A mudança para esse regime mais rígido ocorreu por conta da suspeita do envolvimento da Camacho e de outras lideranças em um esquema desbaratado pela Operação Ethos. Essa investigação prendeu 32 advogados, em novembro do ano passado, suspeitos de receber dinheiro para favorecer lideranças da facção criminosa.
A Secretaria da Segurança Pública informou que "desconhece qualquer ameaça concreta de ataques de organizações criminosas"
Um sexto policial ouvido pelo EL PAÍS, com trânsito na Delegacia-Geral da Polícia, afirmou que a mensagem enviada pela seção de Araraquara era verdadeira, que foi obtida em uma investigação inicial envolvendo detentos, mas que, até agora, nenhum indício mostra que a facção está distribuindo armas ou se articulando para cometer crimes. De qualquer forma, ele ressaltou que todos os órgãos de segurança estão de prontidão e que as apurações continuam.
Procurada, a Secretaria da Segurança Pública da gestão Geraldo Alckmin (PSDB) não confirmou nem negou a veracidade do documento. Disse apenas que “desconhece qualquer ameaça concreta de ataques de organizações criminosas”. Já a Secretaria da Administração Penitenciária, negou-se a informar, por exemplo, se era contra ou a favor à remoção de presos paulistas para presídios federais.
Histórico sangrento
Há quase onze anos, em maio de 2006, São Paulo viveu um de seus momentos mais trágicos. Uma série de ataques orquestrados pelo PCC, tiveram uma dura retaliação da polícia paulista e resultaram na morte de 564 pessoas em um período de 14 dias – nesta conta incluem suspeitos de envolvimento com a facção, policiais e outros agentes de segurança, além de cidadãos que não tinham nenhuma relação com qualquer crime.
Oficialmente, na época, o discurso era de que os ataques aconteceram em decorrência da transferência de líderes do PCC, para um regime mais rígido, o RDD. Estudiosos da Universidade de Harvard, contudo, concluíram em 2011 que essa afirmação era apenas uma meia verdade. Em um extenso e bem documentado relatório, denominado “São Paulo sob achaque”, concluíram que a atuação dos criminosos do PCC aconteceu por conta de uma série de tentativas de policiais achacarem os chefes do grupo. O caso mais emblemático foi quando sequestraram um sobrinho de Camacho e só o libertaram após o pagamento de 300.000 reais como resgate.
Com informações de María Martín, do Rio de Janeiro.
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