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As músicas da crise

O Carnaval estará cheio de marchinhas satirizando a economia e a política do Brasil

As fábricas de máscaras apelam à popularidade de Eduardo Cunha e o japonês da Federal para avalancar suas vendas.
As fábricas de máscaras apelam à popularidade de Eduardo Cunha e o japonês da Federal para avalancar suas vendas.VANDERLEI ALMEIDA (AFP)
María Martín

O advogado paulistano Thiago de Souza, integrante da ala de compositores da Estação Primeira da Mangueira, passou os meses prévios ao Carnaval procurando inspiração no noticiário brasileiro. O resultado foi um divertido repertório de marchinhas que satirizam da carta de Michel Temer, enviada à presidenta Dilma Rousseff, ao romance frustrado entre uma petralha e um coxinha.

"Decidimos acompanhar as manchetes dos jornais, criando marchinhas correspondentes às notícias. Porém, nossa narrativa não é literalmente um relato da notícia em si, pois criamos cenários imaginários que correspondem, quando contrastados, à notícia real. O brasileiro tradicionalmente dá risada da própria desgraça, isso é meio histórico. Grandes humoristas, como Jô Soares ou Chico Anísio, já faziam isso. Dias Gomes descreveu há muito tempo, na novela Bem Amado, um cenário político praticamente idêntico ao de hoje. No nosso caso, achamos o humor uma forma extremamente forte de protesto. Além do que, é bem melhor rir do que chorar", explica de Souza. Colaboraram na criação das melodias Dani Battistoni, Jabolinha, Tigrão, Silo Sotil e Gu Moscardini, assim como Jussara Soares.

A primeira delas, que já foi um sucesso na Internet, conta a visita do agente japonês da Polícia Federal, Newton Ishii, por engano, a um cidadão comum.

Marchinha do Japonês da Federal

Aí meu Deus, me dei mal
Bateu à minha porta
O Japonês da Federal!

Dormia o sono dos justos
Raiava o dia, eram quase seis
Escutei um barulhão

Avistei o camburão
Abri a porta e o Japonês, então, falou:
"– Vem pra cá! Você ganhou uma viagem ao Paraná!"

Aí meu Deus, me dei mal
Bateu à minha porta
O Japonês da Federal!

Com o coração na mão
Eu respondi: o senhor está errado!
Sou Trabalhador...
Não sou lobista, senador ou deputado!

A hipotética resposta da presidenta Dilma à carta enviada pelo seu vice Michel Temer também foi motivo de inspiração.

Guarde bem sua cartinha

Meu latim, com você não gasto mais
Está tudo acabado, aqui jaz...

Nosso amor virou rancor
Não me escreva nunca mais

Guarde bem sua cartinha
Eu não vou ficar sozinha

Pra sempre eu hei de amada
E você... Meu ex-amor
Será motivo de piada

Nas letras, também há um Brasil imaginário, onde foi imposta a lei seca, e todos os bares foram fechados pela Polícia Federal. Exceto, por enquanto, o bar do Cunha.

O Bar do Cunha

Fecharam todos bares da cidade...
Só sobrou o bar do Cunha
Dizem que a cerveja é gelada
Vou atrás dessa parada

Sem beber não vou ficar...
"Vou tomar no Cunha
Enquanto, ainda, lá não fecha
É melhor eu não dar brecha

Sem beber não vou ficar"
Não vou ficar
Não vou ficar
Não vou ficar
Não vou ficar

Eu vou tomar
Eu vou tomar
Eu vou tomar
Eu vou tomar

E, em tempos de polarização política, um pouco de romance. Um amor improvável e impossível que teve seu fim de forma dramática no período eleitoral.

Ela Petralha e eu Coxinha

Estava errado
Devia ter ficado na minha
Nunca iria dar certo
Ela Petralha e eu Coxinha

Me lembro da 1a vez no metrô
Sujei todo meu mocassim
Só pra caminhar com ela na Paulista
Mamãe achava aquilo o fim

Seu pai, também, não aceitou
O amor que nasceu no carnaval
Morto de forma cruel
No período eleitoral

Estava errado
Devia ter ficado na minha
Nunca iria dar certo
Ela Petralha e eu Coxinha

Agora, afogo no champanhe
A saudade que tenho dela
Lembrando de sua boquinha
Com gostinho de mortadela

Letras de concurso

A Fundação Progresso, no Rio, a primeira a organizar um concurso de marchinhas 11 anos atrás, disponibilizou algumas das letras enviadas por foliões de todo o país.

Marcos Frederico Gomes e Vitor Augusto Ortenzio, de Belo Horizonte, imortalizaram com Não enche o saco do Chico o episódio em que o cantor foi hostilizado por uns jovens nas ruas cariocas por sua ideologia política.

No fiado

Daniel Orlando e Thiago Oliveira, do Rio, representaram o drama de não ter um tostão em pleno Carnaval.

Quando eu olho pro garçom
me lembro logo do fiado
do fiado do fiado

Sai de traz deste balcão
pra atender mais um fiado
um fiado um fiado

Neste carnaval sem dinheiro pra beber
ah meu Deus do céu o que posso fazer
a grana está tão curta não tenho pra gastar
mas tive uma ideia e no fiado vou botar

Sem dinheiro pra beber eu vou botar é no fiado
no fiado no fiado

Sai de traz deste balcão
pra atender mais um fiado
um fiado um fiado

Pra curtir legal os 4 dias de folia
Como eu vou beber com a dona Maria
A crise está tão braba não tenho pra gastar

Querendo ou não querendo no fiado eu vou botar
Pra beber no carnaval eu vou botar e no fiado
No fiado no fiado

Quando eu olho pro garçom
me lembro logo do fiado
do fiado do fiado

Sai de traz deste balcão
pra atender mais um fiado
um fiado um fiado

SAI DE TRAZ DESSE BALCÃO!!!

Não enche o saco do Chico

Se encontrar Chico na rua
E não tiver nada pra dizer
Talvez seja melhor ficar na sua
Ou achar outro saco pra encher

Você pode ter sua opinião
E pode discordar do Chico
Mas se for pra tirar satisfação
É melhor você fechar o bico

Não phode
Não phode
Playboy, patriota de araque
Não pode
Não pode

Encher o saco do Chico Buarque
Não vai passar! Não vai!
Intolerante, nem por um segundo
Cálice filhinho de papai!
Vai trabalhar vagabundo!

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