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Macri visita o Brasil para encontro com Dilma e Skaf, aliado de Temer

Presidente eleito da Argentina visita presidenta para tratar do acordo do Mercosul e a União Europeia e almoça na FIESP

Carla Jiménez
Dilma Rousseff e Mauricio Macri, em encontro em Brasília.
Dilma Rousseff e Mauricio Macri, em encontro em Brasília.AFP

A visita do presidente da Argentina, Mauricio Macri, ao Brasil nesta sexta-feira já teria uma relevância natural pela estreita parceria entre os dois países. Mas sua chegada durante a semana do furacão político que sacode o gigante sul-americano, com a abertura de um processo de destituição da presidenta Dilma, a passagem de Macri ganha uma dimensão extra. O novo mandatário eleito no último dia 22 escolheu o Brasil para sua primeira visita internacional pela importância estratégica do seu principal parceiro no Mercosul, e porque os países vizinhos estão numa situação de paralisia na economia. Visitou primeiro a presidenta Dilma Rousseff em Brasília na parte da manhã, e seguiu para um almoço em São Paulo, na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) na sequência, onde era esperado por cerca de 100 empresários, entre eles, Jorge Gerdau, Benjamin Steinbruch, e Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central do Governo Lula.

Nada mais natural do ponto de vista econômico. Mas num momento delicado como o que o Brasil vive desde quarta-feira, quando o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, disse que acolhia o pedido de impedimento de Dilma, Macri conseguiu, na sua passagem, colocar os pés nas duas canoas que podem conduzir o Governo até 2018. O presidente da FIESP, Paulo Skaf, é aliado de Michel Temer, com quem teve diversos encontros ao longo do ano. É, também, filiado ao PMDB, partido pelo qual concorreu ao Governo de São Paulo em 2014. Se por ventura o impeachment vingar, o primeiro na linha sucessora é Temer.

Macri certamente não fez esse cálculo político quando insistiu que o Brasil deveria ser o primeiro destino para uma viagem internacional, antes mesmo da sua posse no dia 10. Até terça, não havia certeza se o encontro ia acontecer. O foco era visitar o principal sócio do Mercosul, e colocar para a presidenta que a Argentina está mudando e quer retomar o crescimento, depois de 12 anos de kirchnerismo. “A Argentina terá regras claras e previsibilidade na economia”, disse Macri a Dilma durante o encontro. A mesma mensagem foi dada para os empresários da FIESP, convidados a investir no país vizinho.

Paulo Skaf e Mauricio Macri em almoço na FIESP
Paulo Skaf e Mauricio Macri em almoço na FIESPS.Moreira (EFE)

Ele afirmou ainda que sua intenção era “desideologizar” as relações dentro do Mercosul e assim se concentrar nos aspectos práticos para garantir o avanço dos negócios. “Não temos um minuto mais a perder para organizar o que está faltando e nos conectar com a União Europeia, com o grupo Transpacífico, e assumir uma vez por todas esse desafio”, disse Macri. O acordo com a Europa, em todo caso, foi o principal tema de conversa com Dilma. “Ambos acreditamos que os dois blocos têm de colocar propostas em cima da mesa ao mesmo tempo, sem excluir a questão da agricultura”, completou.

Os dois líderes também acordaram que conversarão sobre a situação da Venezuela na próxima semana, durante uma reunião no dia da posse de Macri (no dia 10). Até lá, as eleições venezuelanas –previstas para este fim de semana – estarão definidas e haverá um quadro mais claro sobre o futuro.

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Apesar da boa disposição dos presidentes, eles estão em campos diferentes. Macri, por exemplo, não era o preferido de Dilma, que apoiou o candidato de Cristina Kirchner, Daniel Scioli. As palavras de boas-vindas do anfitrião da FIESP também sublinharam essa diferença. “Sua vitória marca o início de um novo ciclo para o nosso continente, com uma economia mais liberal e com menos Governo pesando sobre nossas costas”, disse Skaf, repetindo o mantra dos empresários do Brasil, que se queixam de que os excessos na intervenção do Governo Dilma contribuíram para frear a economia.

Durante a semana em que o Congresso iniciou o processo de impeachment da presidenta, no entanto, suas palavras ganham tom provocativo. O representante dos empresários diz que algo precisa acontecer. Se será por um impeachment, ou não, é parte do jogo. “A crise política contamina a economia e do jeito que está não pode ficar”, afirmou. Para ele, a destituição de Dilma não seria negativo para a economia, que está passando por uma profunda recessão.

Macri apoiou o relato de Skaf dizendo que os dois países precisam empreender um caminho de desenvolvimento e de crescimento. “Nesse caminho é necessário que os dois grandes braços de uma nação funcionem: o setor público e o setor privado, ao mesmo tempo. Se um dos dois não estiver presente, não se pode crescer”, disse. É a síntese do Governo Dilma neste ano, que ficou parado por falta de unidade no Congresso e a guerra política deflagrada com Eduardo Cunha.

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