América Latina sente o golpe
Crise chinesa e elevação das taxas de juros nos Estados Unidos aumentam a probabilidade de novos ajustes nos países emergentes
As quedas episódicas, mas virulentas, das Bolsas chinesas e a certeza de que o Federal Reserve (FED) está disposto a elevar as taxas de juros demonstram de forma inequívoca que as condições financeiras e monetárias globais vão mudar de modo significativo em muito pouco tempo. A volatilidade dos mercados chineses indica algo mais do que uma desconfiança conjuntural nas taxas de crescimento: revela que o modelo econômico-financeiro do país tem fendas que requerem reformas profundas. Não basta enviar a polícia ou o Exército para prender especuladores. Pequim terá de criar um entorno compatível com os mercados financeiros se pretende manter sua força monetária e não ser um risco para a economia mundial.
Não é por acaso que as divisas dos países emergentes estejam pagando o pato pelas novas perspectivas globais. Durante anos, países como Brasil, México, Colômbia e Argentina se aventuraram no endividamento em dólares. A elevação das taxas, que o FED prepara, e a desconfiança crescente nos valores chineses vão reduzir sensivelmente a entrada de capitais, dificultar a o pagamento da dívida e minar a estabilidade financeira. O resultado imediato é a depreciação do real e dos pesos argentino e mexicano, já prejudicados pela queda do preço das matérias-primas.
A perspectiva imediata para a América Latina é de um novo período de ajustes cuja intensidade está por calcular. Os efeitos secundários vão chegar às empresas espanholas que operam na região, não só pela depreciação da moeda, mas também pelo período de desaceleração econômica que os mais realistas preveem para os próximos trimestres. O problema de fundo é a debilidade estrutural das economias latino-americanas, com frágeis sistemas fiscais, dívida elevada e excessiva dependência da demanda externa.
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