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Gigantes da tecnologia investem em leitor de notícias

Apple e Facebook distribuirão informação gerada pela mídia tradicional

José Manuel Abad Liñán
Usuários dedicam mais tempo para ler notícias nas redes.
Usuários dedicam mais tempo para ler notícias nas redes. KAREN BLEIER (AFP)

As grandes empresas tecnológicas ambicionam os leitores e espectadores dos meios de comunicação. A maior delas, Apple, anunciou há apenas um mês que incorporará a seu sistema operacional iOS 9 um app denominado News, que selecionará e mostrará conteúdos próprios da CNN e de revistas como Time, Wired e Vanity Fair. “Não será mais necessário ir de aplicativo em aplicativo para permanecer informado”, diz o texto promocional da empresa. Em outras palavras: para ler e ver esses conteúdos não será mais necessário entrar no portal ou no aplicativo específicos do veículo que os criou.

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O anúncio da Apple chega apenas um mês depois de o Facebook ativar o Instant Articles. No fundo, compartilha do mesmo conceito: a rede social integra uma seleção de conteúdos de vários meios (The New York Times, The Guardian e BBC entre eles) diretamente no mural, como se fosse o post de um amigo, e sem remeter à fonte original da notícia.

Para o proprietário do Facebook, Mark Zuckerberg, ninguém gosta de esperar que a rede social os redirecione para a página da imprensa: “Muitos abandonam as notícias antes mesmo de carregar”. Entretanto, por trás do projeto há muito mais que o desejo de melhorar a experiência do usuário. Diversos estudos, como o da consultora digital Parsely, indicam que o tempo dedicado a ler ou assistir notícias é maior que o de outros conteúdos. Além disso, os leitores de notícias, em busca de atualizações, consultam a rede mais frequentemente. São usuários apetecíveis para as redes sociais.

Habituadas a receber más notícias após anos de crise econômica geral, de vendas e de queda de receitas publicitárias, será que os veículos de imprensa vão aceitar a queda de movimento em seus sites? Admitirão que suas manchetes se dissolvam no magma das redes sociais e aplicativos alheios? Para o analista de mídia e jornalista norte-americano Jeff Jarvis, não há outro remédio. Os jornalistas “têm de ir aonde estão os leitores e não continuar esperando que venham até nós”, afirma ao EL PAÍS. Google e Facebook, em sua opinião, conhecem melhor os leitores que a mídia e, em todo caso, a maioria dos acessos aos jornais já procede dos buscadores e – embora em menor medida – das redes sociais. O Facebook é cada vez mais usado para compartilhar notícias na Internet: em um ano, cresceu 45% seu uso com esse fim nos 20 veículos anglófonos mais importantes do mundo.

Para acessar os conteúdos não será mais preciso entrar no portal ou no aplicativo específicos do veículo original

No lado positivo, os projetos podem trazer à mídia novos leitores e conquistar os mais jovens, que abandonaram a televisão e a imprensa em papel como meios de informação em favor do mundo digital. Também podem compensar as perdas de receita com o rendimento da publicidade digital. Nem o Facebook nem a Apple pagarão aos veículos de imprensa por seus conteúdos, mas darão a eles 70% dos lucros obtidos com publicidade que suas notícias gerarem nos novos plataformas.

As expectativas de crescimento do mercado publicitário digital se revelam, no mais, alentadoras. Segundo especialistas consultados, nos Estados Unidos esses ganhos já se igualam aos obtidos pela televisão. Na Europa, o farão logo.

Os veículos de imprensa têm de ir aonde estão os leitores e não continuar esperando que venham até nós

Jeff Jarvis

Os buscadores se beneficiam muito desse mercado. Só na Espanha, as receitas com publicidade digital passaram de 1 bilhão em 2014; desse montante, 560 milhões foram para o bolso dos buscadores (com a hegemonia do Google) e o restante foi dividido entre os veículos de imprensa e as redes sociais. Em troca, no pequeno mas crescente segmento dos celulares e tablets, que movimentou 42 milhões de euros, a mídia e as redes obtiveram 77%.

Outras empresas do setor tecnológico apoiam estratégias diferentes da Apple e do Facebook. O Google destina 150 milhões de euros a projetos em jornalismo inovador, a Amazon incorpora a seu tablet Kindle Fire conteúdos do The Washington Post (compartilham dono, Jeff Bezos) e uma equipe editorial do Twitter selecionará diariamente os 25 ou 30 melhores tuítes informativos. Até o WhatsApp se animou a entrar na dança, retransmitindo pela primeira vez um acontecimento informativo, a visita do papa Francisco a vários países da América do Sul.

A plataforma móvel tem futuro

O tempo de consulta da mídia em plataformas móveis está crescendo. Os norte-americanos já dedicam 2,8 horas diárias à consulta de notícias por essa via, frente às 2,4 do computador.

Entretanto, esse tempo ainda não rende lucros com publicidade nessas plataformas. Só nos Estados Unidos, calcula-se uma oportunidade de negócio perdida de 25 bilhões de dólares em 2014. O grande momento dos celulares está por chegar: "Seu crescimento coincidiu com a crise econômica e publicitária, e os anunciantes não se adaptaram ao ambiente móvel tão rápido como [em outras épocas] faziam aos novos formatos", explica um especialista em mercado publicitário do celular. "Muitos sites para os quais são redirecionados os anúncios já disponíveis nos celulares – acrescenta – continuam sem estar adaptados aos telefones e tablets. O anunciante não se atreve a dar o passo, embora haja cada vez mais formatos publicitários, menos intrusivos, que aproveitam as oportunidades específicas do celular".

O parque mundial de telefones celulares em 2014 chegava a 2,1 bilhões de terminais, 23% a mais que em 2013. O número de usuários de aplicativos se mantêm estável, mas aumenta o de sites móveis adaptados ao celular. O Google os favorece quando mostra resultados de uma busca após sua última mudança de algoritmo.

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