Exame de elitismo para trabalhar em empresas britânicas seletas
Estudo diz que 70% dos profissionais dessas empresas estudaram em escolas particulares A entrada de pessoas de classe trabalhadora é dificultada
Empresas financeiras e escritórios de advocacia britânica de elite aplicam provas de elitismo na seleção de pessoal, e essas provas impedem o acesso a postos chaves de profissionais de classe trabalhadora, perpetuando a desigualdade social. Foi essa a conclusão de um relatório oficial apresentado na segunda-feira e feito pela Comissão de Mobilidade Social e Pobreza Infantil, órgão consultivo designado pelo Governo do Reino Unido.
Segundo o estudo, os responsáveis pela seleção de pessoal nessas firmas levam em conta critérios que favorecem os candidatos vindos de famílias mais privilegiadas. Entre os critérios estão “o estilo pessoal, o sotaque e as boas maneiras”.
O ex-deputado trabalhista Alan Milburn, que dirige a comissão, disse que os jovens de origem operária estão sendo “sistematicamente excluídos dos melhores empregos”. “Parece que as empresas de elite exigem que os candidatos a cargos nelas passem primeiro por uma prova de requinte”, ele concluiu.
Baseada em extensas entrevistas pessoais com profissionais dedicados ao recrutamento de pessoal, a comissão analisou os processos de seleção em 13 companhias que oferecem alguns dos 45.000 melhores empregos do país. Ela concluiu que 70% das vagas oferecidas por essas empresas em 2014 foram ocupadas por candidatos que tinham estudado em escolas particulares, apesar de apenas 11% da população estudar nessas escolas.
O estudo conclui que, à medida que a educação universitária passou a estar ao alcance de mais pessoas, ela deixou de ser um elemento diferenciador, e os empregadores voltam sua atenção a outras características que lhes permitam ter uma força de trabalho “mais homogênea”. “Posso escrever um comentário na margem e essa pessoa de meu grupo vai saber exatamente do que estou falando. Ela vai entender minhas piadas”, diz um dos entrevistados, explicando por que empregaria alguém da mesma origem social que ele.
O relatório adverte as empresas de que estão “fechando a porta ao talento, criando obstáculos à mobilidade social dos jovens e alimentando a divisão social que freia o avanço do Reino Unido”. Existe uma consciência crescente da necessidade de mobilidade social, diz o documento, mas “a classe social é uma categoria de discriminação menos evidente”, comparada a outras.
“A entrada nessas empresas de elite continua fortemente dominada por pessoas de contextos socioeconômicos privilegiados”, conclui a comissão. “Isso pode ser atribuído à tendência a contratar novos funcionários saídos de um grupo pequeno de universidades de elite, onde estudam sobretudo os filhos de famílias de classe alta. Além disso, as empresas definem o talento segundo uma série de fatores, como uma aparência elegante e modos confiantes, que os participantes no estudo reconhecem estar ligados às classes altas”.
O estudo colheu depoimentos de alguns profissionais que conseguiram cargos nas empresas em questão, mesmo sem fazer parte da classe alta. “Quando volto para casa posso relaxar”, diz um deles. “Quando estou no trabalho, finjo ser mais chique do que sou.”
Um recrutador entrevistado no estudo admite que muitas empresas nem sequer levam em conta candidatos de origem trabalhadora. “Estatisticamente, é provável que haja um diamante bruto”, ele explicou. “Mas quanta lama vou ter que revirar para encontrar o diamante?”
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