900.000 humanos apertaram esse botão e nenhum sabe por quê
Reddit cria experimento social com contagem regressiva que faz sucesso entre usuários
No dia 1° de abril foi comemorado, como é tradição, o dia da mentira nos países anglo-saxões. A comunidade online Reddit decidiu festejá-lo incluindo um botão e uma contagem regressiva de 60 segundos em sua página na Internet. A dinâmica é simples, cada vez que um usuário o aperta, o contador recomeça. Mais de dois meses depois, o já famoso botão está prestes a bater um recorde: quase um milhão de pessoas o apertou e, por enquanto, nunca zerou.
Para participar do jogo é preciso ter-se registrado no Reddit antes de 1° de abril e cada usuário só pode apertar o botão uma vez. É, portanto, um experimento finito. Como aconteceu no seriado Lost, foi feito um pacto tácito entre os membros dessa comunidade e ninguém permite que o contador zere. O que acontecerá se ele zerar? Somente os responsáveis pelo Reddit sabem, e ainda assim ninguém está disposto a comprová-lo. Não são tão corajosos como os sobreviventes do voo Oceanic 815 que deixaram de colocar os números na estação Cisne e liberaram energia eletromagnética. Nessa comunidade não estão tão dispostos a viver um incidente semelhante.
O segundo ponto para entender o sucesso desse experimento é a competição. Quando um redditor (nome dos usuários) aperta o botão seu perfil fica marcado com uma cor dependendo do segundo restante no contador. Os mais rápidos recebem a cor roxa. Se for apertado a partir dos 45 segundos, azul. Até os 32, verde. Até os 22, amarelo. Se aguentarem até o segundo 12, laranja. E os mais valentes conseguem uma marca vermelha. Aqueles que não têm interesse pelo jogo ficam com a cor cinza. Alguns usuários começaram a fazer estatísticas por cores e como é possível comprovar na rede, por enquanto somente uma pessoa teve paciência (e sorte) suficientes para aguentar até o último segundo.
Essa hierarquia gerou, também, pequenas comunidades por cores com conversas e nomes oriundos dos reinos de Game of Thrones: O Conclave Roxo, O Conselho Esmeralda, Os Cavaleiros do Botão (sua cor não importa, somente manter o contador em funcionamento) ou Os Seguidores da Sombra (compostos pelos insubmissos). Todos aparecem no mapa A Terra do Botão, criado por outro redditor, no qual é possível comprovar como se comportam os habitantes desse novo mundo virtual.
A organização dos usuários em “tribos” e seu decidido pacto para que o contador jamais zere chamaram a atenção dos pesquisadores do centro de estudos norte-americano Brookings Institute. Joshua Bleiberg e Darrell M. West, autores do estudo e especialistas em tecnologia, explicam que esse experimento oferece conclusões interessantes que podem ser aplicadas à política e em novos modelos de governo. “Aqueles que apertam o botão não compartilham um interesse comum, não estão organizados [pelo menos até o momento em que a análise foi feita], o processo realizado é mundano e não obtêm um grande incentivo, uma recompensa”, escrevem os analistas.
Com os motivos explanados eles concluem que as pessoas na Internet participam de tarefas tediosas sem pensar muito no benefício que elas podem trazer. “Em parte, a maior motivação vem com as cores recebidas, colocam, “distintivos que uma organização com fins públicos, de serviço social, poderia usar sem nenhum custo”. Além disso, os especialistas observam que os usuários participam de atividades que criam uma ilusão de controle sobre algo e de maneira livre. Ou seja, os redditors decidiram por conta própria evitar que o marcador zere. “Esse aspecto da natureza humana pode ser usado aproveitando-se das pessoas e depois canalizado para o bem comum”.
Existem outras teorias que vão para o lado do medo que o ser humano tem da morte. Tom Pyszcynski, um antigo estudante de psicologia social da universidade do Colorado formulou a ideia de que as pessoas criam esses tipos de experimentos ou os imbuem de um determinado significado para afastar seu medo existencial de morrer, como reconheceu o The Washington Post. “O botão vicia porque é uma interpretação de nosso próprio final”.
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