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Após prisão de tesoureiro, PT veta doações de empresas privadas

Legenda anuncia o ex-deputado federal Márcio Macêdo como novo tesoureiro

Felipe Betim
O presidente nacional do PT, Rui Falcão, nesta sexta-feira.
O presidente nacional do PT, Rui Falcão, nesta sexta-feira.DIVULGAÇÃO

O Partido dos Trabalhadores (PT) decidiu na tarde desta sexta-feira, depois de uma reunião do diretório nacional, que não vai mais receber doações de empresas privadas. "Ao mesmo tempo que lutamos pelo fim do financiamento empresarial decidimos que os Diretórios Nacional, estaduais e municipais não mais receberão doações de empresas privadas", afirma o documento divulgado. A decisão, segundo o partido que há 12 anos governa o país, deverá ser "detalhada, regulamentada e referendada" durante 5º. Congresso Nacional do PT, que ocorrerá em junho, na Bahia.

A decisão ocorre dois dias depois da prisão do tesoureiro do partido, João Vaccari Neto, pela Operação Lava Jato, que investiga o esquema de corrupção e desvio de dinheiro da Petrobras. Vaccari é considerado um dos principais atores da trama e foi acusado de ser um intermediário entre o partido e a rede corrupta instalada na petroleira pública. Em seu lugar, o partido escolheu o ex-deputado federal Márcio Macêdo, do Sergipe. A escolha também deverá ser ratificada em junho. 

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Mergulhado em uma profunda crise, o PT tenta, com a medida, reagir ao desgaste de imagem e a associação entre a sigla e escândalos de corrupção. Em menos dez anos, o financiamento ilegal de campanha da legenda esteve no coração de dois escândalos —antes da Lava Jato, foi o mensalão.  Com a decisão desta sexta, o PT deixará de receber legalmente milhões de reais de doações privadas, colocando em prática o principal ponto defendido em sua proposta de reforma política: proibir o financiamento privado e estabelecer o patrocínio público de campanhas eleitorais com o fim de, segundo dizem, acabar com a corrupção. "O Partido revitalizará a contribuição voluntária, individual dos filiados, filiadas, simpatizantes e amigos", diz o documento. 

O partido é o que mais vem recebendo doações privadas nos últimos anos. Em 2013, o PT arrecadou legalmente um total de 79,8 milhões de reais, enquanto que o PSDB, o PMDB e o PSB conseguiram, juntos, 46,5 milhões. Já em 2014, ano que reelegeu a presidenta Dilma Rousseff, o partido arrecadou no primeiro turno 47,8 milhões de reais das empreiteiras investigadas pela Lava Jato, em contraste com os 38,1 milhões do PMDB e dos 28,7 milhões do PSDB. Além disso, do total de 200 milhões de reais que as empresas investigadas "investiram" na passada campanha eleitoral, 124 milhões (62%) foram para a base aliada do governo.

Dessa vez, o PT assegura que irá estimular doações físicas de entre 15 e 1.000 reais, segundo detalhou o presidente nacional da legenda, Rui Falcão.

Além disso, o partido definiu em seu documento que o maior desafio da atual conjuntura é derrubar o Projeto de Lei nº 4330, que regula a terceirização do trabalho. Para a legenda, o projeto é "um dos principais núcleos da política neoliberal". "A maioria conservadora no parlamento empenha-se na aprovação de contra-reformas que retiram direitos dos trabalhadores, preservam mazelas do atual sistema político e impõem retrocesso a avanços com relação a direitos civis, políticos e sociais", diz o documento.

Ainda sobre a prisão do "companheiro" Vaccari, "nas condições em que ocorreu, demonstra que o clima de ódio e revanche envolve também fatias da Polícia Federal, do Ministério Público e do Judiciário".

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