_
_
_
_
_

Professores de São Paulo: em greve e cobrando Alckmin há um mês

Categoria que pede aumento e melhores condições de trabalho reúne 20.000 em marcha

Professores em manifestação nesta sexta.
Professores em manifestação nesta sexta.Taba Benedicto (Folhapress)

Ao menos 20.000 pessoas, segundo a Polícia Militar, e 60.000 de acordo com o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) se reuniram na tarde desta sexta-feira em frente à sede do Governo Estadual na capital paulista em mais um ato da categoria que está em greve desde 13 de março e decidiu, em assembleia, continuar a paralisação.

Segundo a Apeoesp, a greve teve adesão de 75% dos professores da rede de ensino estadual. As principais reivindicações são aumento de 75% no salário, melhores condições de trabalho, redução do número de alunos em sala de aula, redução da jornada de trabalho e a reabertura das salas de aula que foram fechadas.

Segundo Maria Izabel Noronha, presidenta da Apeoesp, "essa é uma das maiores greves da história dos professores da rede estadual". Ela explica que, no início do ano, o governo de Geraldo Alckmin (PSDB) garantiu aumento de 18% no salário de dirigentes, supervisores e diretores das escolas, o que causou um racha na categoria. Devido ao aumento de salário, esses profissionais não aderiram à paralisação.

"A greve deste ano é muito forte", diz. "Contamos com o apoio dos alunos e dos pais também". Segundo Noronha, autoridades da Secretaria de Educação do Estado conversaram com os líderes do movimento no dia 30, mas não houve negociação. Por isso, a categoria decidiu por seguir com a paralisação.

O tom da nota da Secretaria da Educação é um termômetro da inexistência de negociação. A pasta rebateu os professores e disse que, nesta semana, o índice de comparecimento dos professores nas escolas foi de 91%. E que "ao contrário do que o sindicato prega enganosamente, a valorização dos professores tem sido foco da gestão. Os docentes garantiram, ao longo de quatro anos, um aumento de 45% em seus salários. O último reajuste se deu há oito meses".  A secretaria acusou o sindicato de "incitar os pais a não levarem seus filhos às unidades escolares para inflar a paralisação e usado, em alguns casos, até mesmo de violência".

Mais informações
'Merenda escolar não pode ser o bode expiatório da crise', por J. ARIAS
Metade dos jovens não consegue concluir o Ensino Médio até os 19 anos
O dia a dia de uma professora modelo num sistema nada exemplar
O Brasil aprova um novo plano que quase dobra a verba para a educação
Uma fraude mantém Alagoinha do Piauí como a cidade mais analfabeta do país
América Latina aumenta o gasto com educação, mas continua distante da média

Para os professores, um dos fatores que compromete a adesão é o medo dos profissionais de perder parte do salário. "Muitos professores temem pelo desconto no salário pelos dias parados de greve, por isso, não levam adiante a paralisação", disse a professora Sônia Mara de Paula, da escola Estadual Regina Barteleda, em Lorena (204km de São Paulo).

Apoio de estudantes

A manifestação ocorreu de forma pacífica e não houve confrontos. A PM não divulgou o tamanho do efetivo de policias que realizaram o trabalho nesse dia e tampouco publicou informações sobre a manifestação - e as ruas que estavam sendo bloqueadas - como costuma fazer em atos na cidade. Ao longo da marcha, realizada em um bairro nobre, diversas pessoas saíram nas janelas para apoiar o movimento.

Julia Ferreira, de 16 anos, era uma das estudantes que estavam presentes na manifestação. "Falta papel higiênico, água, as salas de aula têm mofo e estão superlotadas", disse ela, que estuda no colégio Nossa Senhora da Penha, em São Paulo. Steffany Alves Santos, de 17 anos, que faz parte do Movimento Estudantil Livre (MEL), diz que o maior problema de sua escola é a acessibilidade à infraestrutura oferecida. "Na minha escola tinha biblioteca e laboratório, mas não tinha funcionário lá", diz ela. "Por isso, para usar esses equipamentos, tínhamos que fazer requerimento, pedir a chave e só conseguíamos usar três semanas depois", contou ela, que estudava no colégio é o Santa Olímpia, em São Bernardo do Campo.

"O governador cortou muita verba para a educação", disse Sirlei Ferreira Camargo Carvalho, professora em duas escolas da cidade de Franca (393 km da capital). "Por isso, falta tudo, de água, a copo descartável. Mas o que mais falta mesmo é segurança, já que eu trabalho em locais muito vulneráveis."

Segundo Maria Izabel Noronha, o ato terminaria em frente à Rede Globo para pedir "mais isenção" na cobertura da paralisação. "A cobertura da imprensa é uma grande injustiça", disse.

Partidos como o PCO, PSOL e PCdoB estavam presentes com bandeiras e camisetas, assim como anarquistas e lideranças da torcida do Corinthians. Entre os cartazes, alguns com a foto de Geraldo Alckmin chamando o governador de "o exterminador do futuro". Também havia faixas contra a Lei da Terceirização, aprovada nesta quarta-feira pela Câmara dos Deputados.

Uma nova assembleia, seguida de manifestação, está marcada para a próxima sexta-feira, 17 de março em frente ao MASP.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_