O mundo, inundado de açúcar
Excesso sem precedentes se espalha globalmente com a disparada da fabricação
O mundo nunca esteve tão inundado de açúcar. Enquanto a colheita de cana cresce na Índia e na Tailândia, os agricultores do Brasil, o maior produtor do mundo, elevam as exportações para aproveitar a queda do real, que aumenta sua margem de lucro. As plantações, prejudicadas pela seca do ano passado, foram reanimadas pela chuva. Estima-se que a produção mundial supere a demanda pelo quinto ano consecutivo, levando os estoques ao nível mais alto da história, segundo dados da Organização Mundial do Açúcar, com sede em Londres.
Essa abundância de açúcar indica que os preços mundiais, que já caíram cerca de 50% em três anos, baixem ainda mais, reduzindo os custos para grandes compradores, como a Krispy Kreme Donuts e a Mondelez International, fabricante dos chocolates Cadbury e dos biscoitos Oreo. Para os fabricantes de chocolate, a queda do preço do açúcar compensa apenas em parte o encarecimento de outras matérias-primas, como o cacau e o leite.
“A tendência é absolutamente de baixa”, diz o gestor de ativos Donald Selkin, da National Securities Corp., de Nova York. “A oferta é muito alta. A boa colheita e a fraqueza da moeda brasileira também estão tornando suas exportações mais atraentes”, acrescenta.
A produção global de açúcar no ano vai superar a demanda em 620.000 toneladas, levando os estoques acumulados ao nível recorde de 79,89 milhões de toneladas, número que seria quase suficiente para abastecer por um ano os sete maiores mercados consumidores, segundo números da organização intergovernamental do setor.
O preço no mercado futuro do açúcar não refinado para contratos com vencimento em maio caiu 12% este ano, para 12,71 centavos de dólar, uma das maiores baixas entre as commodities.
Consumo cresce fortemente
Duas décadas de crescimento ininterrupto do consumo e quatro anos de preços em baixa podem pôr algum freio no excesso de oferta. Na Europa, o consumo per capita médio foi de 37,1 quilogramas (kg) de açúcar em 2013, contra 35,1 kg em 2011. Nos Estados Unidos, o consumo aumentou de 31 para 32,5 kg por pessoa, segundo informações da organização com sede em Londres. A média no mundo é de 23 kg por pessoa.
Preço do produto no mercado futuro está no nível mais baixo desde 2009
Mesmo que o consumo cresça, há mais açúcar a caminho. A Índia, o segundo maior produtor, terá sua melhor colheita em três anos, de 26 milhões de toneladas, segundo estimativas de analistas. Além disso, aprovou subsídio à exportação de até 1,4 milhão de toneladas de açúcar não refinado para ajudar os produtores no pagamento do que devem aos agricultores. Maharashtra, o Estado com produção mais alta, pretende aprovar ajuda adicional para enviar o produto ao exterior.
O Centro-Sul do Brasil, a região de maior crescimento, pode moer até 585 milhões de toneladas de cana-de-açúcar na temporada que começa em 1º de abril, 2,6% a mais que na safra anterior, segundo cálculos de fontes do setor.
“Tivemos vários anos consecutivos em que a produção superou o consumo, e houve acúmulo de estoques enormes”, afirma Stefan Uhlenbrock, analista sênior da empresa de pesquisa sobre matérias-primas F.O. Licht, de Ratzeburg, Alemanha.
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