_
_
_
_
Coluna
Artigos de opinião escritos ao estilo de seu autor. Estes textos se devem basear em fatos verificados e devem ser respeitosos para com as pessoas, embora suas ações se possam criticar. Todos os artigos de opinião escritos por indivíduos exteriores à equipe do EL PAÍS devem apresentar, junto com o nome do autor (independentemente do seu maior ou menor reconhecimento), um rodapé indicando o seu cargo, título académico, filiação política (caso exista) e ocupação principal, ou a ocupação relacionada com o tópico em questão

E se os governantes deixassem Deus em paz?

Toda vez que os políticos se veem em apuros e não sabem como resolver um problema, invocam a divindade para que lhes facilite as coisas

Juan Arias

Toda vez que os governantes, por exemplo na América Latina, se veem em apuros e não sabem como resolver um problema (muitas vezes criados por eles mesmos) invocam a Deus para que lhes facilite as coisas. Ou melhor, tentam convencer os cidadãos de que, no fim, será a providência divina quem irá tirar o pai da forca.

Na mesma semana, fizeram isso o recém-empossado Ministro de Minas e Energia do Brasil, Eduardo Braga, e o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro.

Mais informações
Seca e consumo recorde pressionam sistema e mantêm risco de apagão
Maduro apela a Deus pela economia venezuelana e anuncia medidas
350.000 ficam sem luz em São Paulo, e empresa diz que culpa é de verão “atípico”

O Brasil sofreu há alguns dias um apagão elétrico que afetou 10 Estados. O problema da energia no país é tão grave que o Governo teve de pedir socorro à Argentina.

Só porque o crescimento está à beira da recessão, como confessou com realismo em Davos o ministro da Economia, Joaquim Levy, é que o Brasil ainda não sofre racionamento de luz.

No entanto, o novo ministro Braga tranquilizou o país com essas palavras: “Deus é brasileiro e vai fazer chover e aliviar a situação”. Ao que parece, os técnicos de seu ministério “ficaram de cabelo em pé” ao ouvir o ministro, como escreveu um jornal brasileiro.

Em seus escritórios e dormitórios, os políticos são livres para cultivar suas devoções religiosas. O ideal, no entanto, é que deuses e santos fiquem ali, na intimidade

Quase lhe fazendo eco, na Venezuela o presidente Maduro, diante do problema da queda dos preços do óleo cru que tanto está afetando a já martirizada população, pediu aos venezuelanos que não se preocupem, pois “Deus proverá. Ele jamais faltou à Venezuela”.

Diante desse uso político do religioso por parte dos governantes incapazes de resolver eles mesmos os problemas de seu país, seria o caso de perguntar: por que não deixam Deus em paz?

Deus, para os que nele creem, não pode ser um coringa, sempre disposto a resolver os erros e incapacidades dos políticos.

Essa não é a função da fé e também não corresponde aos ensinamentos básicos do cristianismo, no qual tanto o ministro brasileiro como o presidente venezuelano se inspiram.

Ambos poderiam recordar que, nas Escrituras, Jesus respondeu a quem tentava envolvê-lo nos assuntos profanos da política com a frase que se tornaria célebre: “A César o que é de César e a Deus o que é de Deus”.

Que os governantes se preocupem em resolver os problemas para os quais foram nomeados sem refugiarem-se nos braços de uma divindade e que deixem Deus em paz, pois sua missão nada tem a ver com os problemas dos políticos e menos ainda com suas insuficiências, erros e corrupções.

A fé dos que creem e a não fé dos agnósticos e ateus é muito mais importante, séria e pessoal do que os jogos do poder temporal.

No Brasil, os gabinetes dos políticos costumam estar repletos de virgens e santos, quase em uma corrida para demonstrar quem crê mais. Até a presidenta Dilma Rousseff, que nunca foi uma devota declarada, tem, ao que parece, quatro estátuas da Virgem Maria.

Em seus escritórios e dormitórios, ou onde preferirem, os políticos são livres para cultivar suas devoções religiosas. O ideal, no entanto, é que deuses e santos fiquem ali, na intimidade. Fora, em seu trabalho político, diante dos que lhe deram seu voto para governar, têm de se apresentar sem muletas religiosas protetoras que lhes sirvam de para-raios para seus erros e fracassos. Graças a Deus ainda não vivemos em Governos teocráticos, mas em estados laicos que, pela Constituição, sancionam a separação entre o poder político e religioso.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_