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Benefício para o Brasil com a abertura de Cuba divide opiniões

Participação brasileira na construção do Porto de Mariel já antevia fim do embargo comercial dos Estados Unidos

Dilma Rousseff e o presidente cubano, Raúl Castro.
Dilma Rousseff e o presidente cubano, Raúl Castro.-- (AFP)

Foi em meio a um churrasco improvisado, em 2009, na casa do então embaixador Bernardo Pericás, em Havana, que o então ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, encontrou-se com Raúl Castro. O encontro informal trataria dos detalhes do porto de Mariel, no qual o Brasil pretendia ter um papel de protagonista. “Claramente, o porto de Mariel foi dimensionado para um país que acabaria com o embargo”, diz Jorge, que celebrou o anúncio feito nesta quarta-feira pelo presidente Barack Obama, de retomar as relações diplomáticas com a ilha de Cuba. Naquele tempo já haviam conversas com o Governo dos Estados Unidos para que o bloqueio imposto há mais de meio século fosse revisto logo.

Ainda não está claro de que forma essa eventual retomada das relações comerciais entre os antigos inimigos pode beneficiar as empresas brasileiras. Mas, pelo sim pelo não, diversas companhias participaram de feiras de negócios entre Brasil e Cuba. Em março deste ano, uma missão da Agência Brasileira de Promoção de Exportações (Apex) levou diretores de comércio exteriores de 31 empresas brasileiras, que também foram conhecer as instalações do Porto. Muitas que já exportam para o país, como a indústria de chuveiros Fame, ou a empresa Globoaves, de carne de frango. Outras, marcando posição num momento em que a ilha se abre ao capitalismo. Em novembro deste ano, outras tantas participaram da Feira Internacional de Havana.

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A Apex tem um escritório na capital cubana e atesta o crescimento das exportações para o país de Fidel Castro. A empreiteira Odebrecht, responsável pela construção do porto de Mariel, também mantém um quartel-general em Havana, e, embora não tenha planos de curto prazo para o país, as perspectivas abertas com a possível revogação do embargo comercial, é vista de maneira positiva pela empresa. O fato de estar instalado numa região estratégica pode render frutos, num futuro em que as relações comerciais com o antigo inimigo da ilha se normalizarem.

Miguel Jorge, que foi um dos articuladores da participação do Brasil no porto de Mariel, acredita que é líquido e certo que empresas brasileiras vão se instalar ali pois a ilha caribenha só reúne vantagens: mão-de-obra qualificada disponível, custos baixos e proximidade com os Estados Unidos e a os demais países do Caribe. “Empresas que se instalarem ali terão isenção de impostos por dez ou vinte anos, dependendo do segmento de atuação”, completa.

Para o embaixador Rubens Barbosa, o potencial fim do embargo é uma notícia positiva, embora ainda venha a levar um tempo para ser concretizado. Seja como for, a simples sinalização de que ele está perto do fim é um marco importante a ser comemorado, avalia . “Atende ao anseio de todos os países latino-americanos. Há décadas o Brasil defende essa posição”, afirma Barbosa. Mas, o embaixador não vê grandes perspectivas para o Brasil. José Augusto Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), avalia que ainda é preciso ter uma certa cautela para dizer que esta mudança de postura entre Estados Unidos e Cuba é bom para o Brasil. “Temos de saudar do ponto de vista político, sem dúvida. Mas do ponto de visto econômico, temos de esperar”, acredita.

Até abril deste ano, o governo cubano teria recebido o pedido de pelo menos 70 empresas de 15 países, de se instalarem no porto de Mariel. Dentre eles, o Brasil.

O anúncio histórico desta quarta-feira teve, de qualquer forma, um sabor especial para a presidenta Dilma Rousseff, duramente criticada pelos opositores ao longo do seu Governo, e durante a campanha eleitoral, pelo investimento em Mariel. “Justamente para mim é fantástico”, disse ela ao fim da sua participação na cúpula do Mercosul, na Argentina, segundo a Folha de S. Paulo. "Fico muito feliz porque toda a política do governo brasileiro até agora tem sido enfatizar que a forma pela qual Cuba tem de ser integrada é [com] ações concretas. Algo que foi tão criticado durante a campanha foi o Porto de Mariel", disse.

Entre os petistas, a retomada das relações diplomáticas foi celebrada. O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, comemorou o gesto do presidente Obama de reconhecer o fracasso da política de embargo a Cuba. “Para nós, da ‘madura’ guarda, este momento é histórico. Cuba sempre foi bem-vinda à comunidade latino-americana. Parabéns Raúl e Obama”, escreveu ele em seu twitter.

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