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A pergunta mais difícil para a presidenta

Em entrevista ao Jornal Nacional, a presidenta foge do debate sobre a condenação de políticos pelo caso do mensalão petista

Dilma Rousseff no último dia 13, em Brasília.
Dilma Rousseff no último dia 13, em Brasília.EVARISTO SA (AFP)

Havia bastante expectativa na noite de ontem em relação à entrevista da presidenta Dilma Rousseff no Jornal Nacional, da TV Globo, principalmente por ocorrer depois do drama da morte repentina do candidato presidencial Eduardo Campos e do terremoto político que se seguiu à tragédia. De fato, foi o dia em que a Globo teve seu maior índice de audiência.

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Acossada por perguntas duras e contundentes dos entrevistadores, William Bonner e Patrícia Poeta, mereceu especial interesse a questão que acabou sendo, sem dúvida, a mais difícil para Rousseff: sua opinião sobre a sentença promulgada pelo Supremo Tribunal de Justiça sobre o escândalo do mensalão, que levou à prisão importantes dirigentes do Partido dos Trabalhadores (PT) e que é considerado o maior escândalo de corrupção política da democracia brasileira.

Bonner lembrou a Presidenta que seu partido descreveu os condenados como “heróis políticos”, e pediu sua opinião sobre isso. Dilma se refugiou no fato de que, como Presidenta da República, não é adequado para ela comentar as decisões da Suprema Corte.

“Não faço nenhuma observação sobre julgamentos realizados pelo Supremo Tribunal, por um motivo muito simples: a Constituição exige que o Presidente da República, assim como os demais chefes de Poder, respeitemos e consideremos a importância da autonomia dos outros órgãos”, afirmou. Uma resposta que significava muito pouco para seu partido.

Os entrevistadores, então, quiseram saber sua opinião sobre a atitude tomada pelo PT, que negou a culpabilidade dos condenados e considerou o julgamento uma perseguição política.

Era a pergunta mais difícil porque durante o longo processo que levou à condenação de importantes dirigentes petistas, o partido não tinha visto com bons olhos o silêncio de Rousseff, que, em momento algum, como ela mesma afirmou, interveio publicamente, ao contrário de seus correligionários, para julgar as decisões do Supremo.

Alguns dos condenados chegaram a criticar aquele silêncio da Presidenta, que sempre se abrigou na defesa da independência dos três poderes do Estado.

Diante da insistência para que desse uma opinião sobre a atitude beligerante de seus colegas de partido sobre o mensalão, Dilma foi taxativa: “Tenho minhas opiniões pessoais, mas não vou tomar nenhuma posição que me coloque em confronto. Eu respeito a decisão da Suprema Corte”.

A Presidenta recordou, e com razão, que manteve essa posição de respeito das decisões do Supremo durante todo o seu governo.

Dilma poderia, de fato, ser acusada de muitas deficiências na gestão de seu governo, mas não de ter hesitado, por medo de ser criticada por seu partido, na hora de opinar direta ou indiretamente sobre as decisões dos juízes em relação ao mensalão.

Nesse caso e no de sua outra oposição a uma parte do PT para que fosse introduzido em seu governo o que foi chamado eufemisticamente de “controle social dos meios”, é preciso fazer justiça à Presidenta. Também em relação a isso, ela foi sempre fiel na defesa da liberdade de expressão, contradizendo seus partidários.

Dilma manteve até hoje, não sem sofrer duras pressões, a postura que adotou em seu primeiro discurso, ao tomar posse em 2011, quando afirmou: “Prefiro o barulho da imprensa livre ao silêncio das ditaduras”.

Ontem à noite, Dilma teve que sofrer na carne, com as incisivas perguntas dos jornalistas, a dureza ocasional do “barulho da imprensa livre”.

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