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Coluna
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Não era para tanto

O Mundial transcorre melhor do que o esperado. É verdade. Em parte, porque o esperado era muito ruim, uma espécie de apocalipse brasileiro em que pouco ou nada funcionaria como deveria

Antonio Jiménez Barca

Já são muitos os artigos na imprensa de todo o mundo que afirmam que o Mundial está transcorrendo melhor do que o esperado. É verdade. Em parte, porque o esperado era muito ruim, uma espécie de apocalipse brasileiro em que pouco ou nada funcionaria como deveria. E havia quem pintasse uma imagem negra desta Copa do Mundo, que podia ser resumida assim: estádios inacabados aos quais se chegava por ruas não finalizadas e desalojamentos desumanos rodeados de manifestantes antifutebol, e policiais antimanifestantes em meio a bandos de delinquentes assaltando o atribulado torcedor, que se maldizia por não ter se conformado em ver os jogos em casa pela televisão e que não podia fugir dali porque o metrô não funcionava devido a uma greve selvagem que submetia a cidade a um engarrafamento insuperável, obscuro e final.

É verdade que os estádios foram concluídos na última hora ou não foram terminados como estava previsto. No Itaquerão, ao leste da cidade, que serviu para a abertura do torneio, os operários pintavam a saída do metrô um dia antes da cerimônia, e várias passarelas de acesso era provisórias. Mas as partidas ocorreram de maneira aceitável e os torcedores de todas as equipes que utilizaram esse estádio, para não irmos mais longe, chegaram a ele sem problemas e puderam aproveitar o jogo.

A inauguração foi precedida por uma greve no metrô que ameaçou colocar São Paulo de pernas para o ar. De fato, foi isso o que ocorreu, só que dois dias antes. Os trabalhadores voltaram a seus postos e, desde então, o metrô funciona como um relógio suíço, muito melhor do que antes da Copa do Mundo. A ponto de muitos habitantes de São Paulo andarem meio chateados, intuindo que tudo vai piorar quando os jornalistas internacionais forem embora.

Os aeroportos iam ser um caos de malas perdidas, filas nos pontos de táxi, corredores transformados em labirintos ou ratoeiras por falta de sinalização, e voos cancelados. Não tem sido assim. Ou não mais que em outros lugares. Na realidade, o cancelamento de voos tem sido menor do que em dias de férias.

Os protestos de um ano atrás e as imagens de latões de lixo em chamas nas ruas de São Paulo e de cordões de policiais com uniformes de Robocop no mesmo dia da partida inaugural traziam os temores de um campeonato imerso em uma revolta social.

Não foi para tanto. A bola começou a rolar e os brasileiros, em sua grande maioria, se alinharam à seleção declarando uma trégua a si mesmos até que o torneio acabe ou que o Brasil seja eliminado. Enquanto isso, há protestos e manifestações ocasionais e não muito numerosos, marcados quase sempre para as datas em que a seleção brasileira joga e que, às vezes, se tornam atos violentos por causa de grupos descontrolados.

Mas, em geral, as partidas ocorrem pontualmente, de maneira brilhante. As ruas se enchem de torcedores felizes, envolvidos em um clima cada vez mais festivo. Por isso, cada vez fica mais arraigada a certeza, inclusive para os brasileiros desconfiados, de que não era para tanto.

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