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O Rio se blinda diante do aumento da violência

A publicação de novas estatísticas sobre o crime a quase 40 dias do Mundial disparou todos os alarmes mais uma vez O Governo do Rio do Janeiro mandará paras as ruas toda a sua equipe policial a partir desta segunda-feira

Manifestação em Copacabana contra a violência, em abril.
Manifestação em Copacabana contra a violência, em abril.A. Lacerda (EFE)

Depois de uma preocupante escalada dos protestos nas ruas e as ofensivas armadas, promovidas pelos grupos de traficantes que dominam o comércio de drogas no Rio de Janeiro, o Governo estadual liderado por Luiz Fernando Pezão admitiu que a situação da segurança está bem longe de ser a ideal para receber uma Copa do Mundo. A publicação de alarmantes estatísticas sobre o crime a quase 40 dias do início do Mundial disparou todos os alarmes mais uma vez. O Governo do Rio, em uma decisão que se contradiz com o mantra pronunciado até agora de que os esforços para garantir a segurança representam um patrimônio duradouro para a cidade e não uma medida ocasional para controlar a violência durante o mês da Copa, mandará paras as ruas toda a sua equipe policial a partir desta segunda-feira. Os agentes não terão dias de folga e receberão horas extras para evitar o descontentamento da tropa ou a possibilidade de que surjam movimentos grevistas durante os próximos dois meses.

Um contingente adicional de dois mil policiais já estava previsto para o início do evento, mas o secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, decidiu adiantar a medida com o propósito de mandar uma mensagem de confiança ao mundo todo. Durante as últimas semanas, várias favelas foram palco do conflito armado entre policiais militares e traficantes que, em alguns casos, culminaram com vítimas fatais. Os vizinhos destas periferias, fartos de serem tratados como cidadãos de segunda classe e descrentes do denominado processo pacificador, parecem ter herdado o espírito contestador das mobilizações do ano passado e hoje protagonizam os principais protestos registrados na cidade. Eles se manifestam contra a violência policial que costuma cobrar vidas de forma injustificada, como a do bailarino, de 26 anos, Douglas Rafael da Silva Pereira, que recentemente morreu com um disparo durante uma operação feita por policiais pacificadores na favela Pavão-Pavãozinho, no coração do turístico bairro de Copacabana.

Com esse pano de fundo, o Rio se transformará em uma cidade blindada ao crime, principalmente em duas áreas antagônicas: os setores turísticos (os prósperos bairros a beira mar de Copacabana, Ipanema e Leblon) e as favelas que antes se presumiam pacificadas mas que  já há alguns meses registram duros choques entre policiais e traficantes que resistem a desaparecer. Para dissuadir os criminosos, os agentes realizarão nestas áreas um trabalho de patrulha ostensiva, que no Rio costumam ser traduzidos em rondas de pequenas unidades de agentes equipados com armamento de guerra.

A contundente decisão do Governo ocorreu depois que o Instituto de Segurança Pública (ISP) revelou suas últimas estatísticas que confirmam uma volta da insegurança na cidade durante o primeiro trimestre deste ano. Os homicídios dolosos aumentaram 22%, passando de 1.197 entre janeiro e março de 2013 a 1.459 no mesmo período deste ano. A polícia também matou mais. Os denominados autos de resistência (quando os agentes matam em defesa própria) dispararam em 59%, pulando de 96 mortes em 2013 para 153 em 2014. Os roubos a pedestres também aumentaram em 45% no primeiro trimestre (13.822 em 2013 e 20.152 em 2014).

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