10 fotosLonga vida ao carvão mexicano: o negócio ‘sujo’ que ninguém quer deixar morrerO setor de mineração celebra o apoio do presidente López Obrador, mas ambientalistas alertam para o impacto para a sustentabilidade da manutenção da atividade Coahuila, México - 22 abr. 2019 - 19:25BRTWhatsappFacebookTwitterLinkedinLink de cópiaO estado mexicano de Coahuila, na fronteira com os Estados Unidos, concentra quase todas as reservas de carvão do país. Tajo Purísima, em San Juan de Sabinas, é uma das 60 minas ativas da região. "O que todos nós faríamos se a exploração acabasse? Bem, nós morreríamos de fome, porque aqui não há mais nada a fazer", diz Homero Bermea, supervisor da mina.Gladys SerranoA região carbonífera do México vive quase exclusivamente da atividade de mineração, que produz cerca de 500 milhões de dólares por ano. Na imagem, dois mineiros terminam seu turno na mina de Santa Bárbara, em San José del Aura. A maioria começa nessa indústria aos 16 anos, mas deve esperar mais dois para entrar nas escavações. Mais de 1 bilhão de toneladas de minério no subsolo e duas usinas elétricas movidas a carvão levaram os aldeões mexicanos da região a se dedicarem quase que exclusivamente a esse setor.Gladys SerranoAs duas usinas de carvão que estão localizadas na área são os principais clientes do carvão produzido no Estado. O consumo anual entre as duas plantas chega a 10 milhões de toneladas. Até quatro meses atrás, a principal fonte de renda para essa região do nordeste do México tinha uma data de expiração. O então presidente Enrique Peña Nieto já havia assinado sua sentença de morte em 2013: em 2026, as usinas mexicanas movidas a carvão, os principais compradores dos produtores locais, teriam que fechar.Gladys SerranoExceto por um punhado de fábricas e empresas, a maioria das pessoas na região trabalha na indústria do carvão. "Você ganha mais nas minas", comentam os mineiros. O plano de fechamento das minas anunciado por Peña Nieto pretendia reduzir emissões poluentes para alcançar os compromissos firmados pelo México. Mas a situação deu uma reviravolta com a chegada de Andrés Manuel López Obrador à Presidência em 1º de dezembro.Gladys SerranoNenhum governo federal ou estadual propôs em décadas um plano de desenvolvimento para a região que não esteja focado na mineração. Embora a política energética de Obrador ainda esteja cercada de incertezas, os primeiros passos dados pelo governo federal reacenderam o otimismo na região carbonífera. O novo governo quer que "as usinas que atualmente trabalham com carvão sejam mantidas até o final de sua vida útil", como afirma o diretor de operações da Comissão Federal de Eletricidade (CFE), Carlos Morales Mar.Gladys SerranoCoahuila tem mais de 1 bilhão de toneladas de carvão enterradas em seu subsolo, de acordo com o Serviço Geológico Mexicano. Na imagem, a boca da mina de Santa Bárbara, a 200 metros de profundidade. "Há uma aposta sem dúvida em reativar a economia do lugar e a produção de carvão", afirma o delegado do governo nacional em Coahuila, Reyes Flores. O representante federal garante que, quando chegaram ao poder, em dezembro passado, eles se depararam com um "claro abandono" das usinas pelo Executivo de Peña Nieto. Diante dessa situação, ele diz, optaram por investir na manutenção.Gladys SerranoAs palavras dos novos governantes se refletiram em fatos. No Orçamento deste ano - o primeiro de López Obrador - o México destinou 7,3 bilhões de pesos (390 milhões de dólares) para melhorar o desempenho das três usinas a carvão, quase quatro vezes mais do que em 2018. "Eles estão investindo, isso não aconteceu antes. Agora o dinheiro flui mais fácil ", diz Eulalio Gutiérrez, secretário geral do sindicato dos trabalhadores da Usina Termelétrica Carbon II. Com essa inclinação, calcula-se, será possível continuar operando pelo menos mais 15 anos.Gladys SerranoNa imagem, um painel de controle da Usina Termoelétrica Carbon II, em Nava. Eulalio Gutiérrez diz que em uma visita recente López Obrador prometeu investir nas usinas de carvão para "gerar energia sem depender de ninguém", um discurso de soberania que acompanha o presidente em vários campos. O que a indústria do carvão interpreta como um discurso esperançoso é observado pelos ecologistas, contudo, como uma aposta "regressiva".Gladys SerranoTanto o Ministério da Energia do México quanto a Comissão Nacional de Direitos Humanos advertiram sobre os problemas ambientais causados pela mineração na região. Reativar as usinas elétricas para obter independência energética é "uma visão nacionalista, incompreendida e antiga", diz Alejandra Rabasa, advogada da organização ambientalista Ceiba. "Não reduzir a geração de eletricidade à base de carvão é uma violação dos acordos internacionais e da Lei Geral sobre Mudanças Climáticas, que estabelece a descarbonização da economia."Gladys SerranoAo chegar e sair da escavação em Santa Bárbara, os operários que descem ao poço devem fazer uma marcação, para que seus supervisores mantenham o controle das pessoas que estão no subsolo.Gladys Serrano