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O dia a dia dentro de um gueto dinamarquês O Governo da Dinamarca quer acabar com os bairros de estrangeiros até 2030. Os moradores, a maioria muçulmanos, começam a notar o estigma que pesa sobre eles e têm medo do giro xenófobo no país escandinavo Muhammed Aslam chegou do Paquistão à Dinamarca quando tinha apenas sete anos. Na imagem, sobe em elevador com Liliana, uma mulher romena de 53 anos. Ambos vivem há três décadas em Mjølnerparken, um dos maiores guetos de Copenhague, que as autoridades querem derrubar em prol da integração. Estão preocupados porque toda sua vida está aqui. Sentem-se estigmatizados pela sociedade pelo fato de viver em um gueto e por serem muçulmanos. Pensam que são utilizados como bode expiatório e responsabilizados pelos problemas do país, ao qual já não se sentem bem-vindos. Saúl Ruíz Detalhe de caixas de correio de Mjølnerparken. A maioria dos vizinhos tem nome e sobrenome não dinamarqueses. Na Dinamarca, para que um gueto seja considerado como tal, o bairro em questão tem que cumprir certos requisitos, como que as famílias tenham rendimentos baixos e, esta medida é mais polêmica: que ao menos 50% dos vizinhos sejam "não ocidental" ou que, mesmo tendo nascido em território dinamarquês, um dos dois progenitores seja "não ocidental". Saúl Ruíz Uma mulher passeia por um dos parques que ligam os diversos blocos do gueto semicerrado de Mjølnerparken, no centro de Copenhague, no qual vivem quase 2.000 pessoas. Saúl Ruíz Liliana, romana de 53 anos, vive há quase três décadas em Mjølnerparken. Agora as autoridades lançaram um plano para erradicar esse gueto e realocar os moradores em outras zonas em prol da integração de seus vizinhos, de maioria muçulmana. Saúl Ruíz Muhammed Aslam foi eleito representante dos interesses dos 2.000 moradores de Mjølnerparken no ano passado. Agora se uniu aos líderes de outros grupos para lutar e negociar o plano do Governo de erradicar esse gueto até 2030. Ele, como seus vizinhos, acha que o programa responde a interesses eleitorais dos partidos, "cada vez mais à direita". A Dinamarca tem eleições em 2019. Saúl Ruíz Morten Pape, de 31 anos, é um escritor dinamarquês que nasceu e cresceu em um gueto: Urbanplanen, no centro da capital dinamarquesa. Essa zona já não é considerada um gueto porque o Governo altera a cada ano os parâmetros de medição para que novas zonas deprimidas entrem ou saiam da lista. Desde 2015, Pape foi ganhando popularidade nos debates sobre o assunto dos guetos, por conta da publicação de seu livro 'Planen' (Politikens Forlag, 2015) sobre como é ser branco em Urbanplanan. Saúl Ruíz Uma garota muçulmana brinca em parque de Mjølnerparken. O xenófobo Partido Popular Dinamarquês (DF, na sigla em dinamarquês) quis instaurar um toque de recolher para as crianças dessas regiões às oito da tarde. A medida acabou não sendo aprovada. Outras medidas especiais para estas zonas estão, no entanto, em vigor, como quando um bebê completa um ano e as autoridades dinamarquesas o levam durante 30 horas por semana para aprender o idioma e os valores do país escandinavo, sob pena de multa em dinheiro para seus pais. Saúl Ruíz Maria (nome fictício) é uma dinamarquesa de 55 anos que se converteu ao islã há uma década. Na mesquita sunita mais próxima ao gueto de Mjølnerparken, diz que foi o Governo que criou os guetos nos anos 60 e 70 para alojar os trabalhadores do Oriente Médio e da Ásia que chegaram ao país. Há anos, conta, a comunidade muçulmana se viu debaixo do foco midiático e social e, agora, eles têm temem represálias. Saúl Ruíz Sara (nome fictício) é uma marroquina de 30 anos que vive em Copenhague. Concorda com as autoridades que os guetos são foco de problemas porque seus moradores não trabalham. "É preciso contribuir com a sociedade, sobretudo quando se chega a um país novo", afirma. Ela quer que os imigrantes sejam como os dinamarqueses e está aprendendo o idioma para se integrar 100% ao país, conta. Saúl Ruíz Nas redondezas do gueto de Mjølnerparken, no centro de Copenhague, os muçulmanos e os dinamarqueses convivem pacificamente e as leis especiais que regem o gueto não se aplicam quando se sai dele. Saúl Ruíz Interior da mesquita sunita mais próxima ao gueto de Mjølnerparken, no centro de Copenhague. Nas sextas-feiras de reza, a polícia dinamarquesa revisa todas as orações do imã em busca de discursos que radicalizem os fiéis. Saúl Ruíz Mette Smidl, de 60 anos, ensina dinamarquês a um grupo de mulheres enquanto toca canções populares de seus países de origem com o violino. Trabalha na organização Fakti, perto do gueto de Mjølnerparken, onde mulheres -as mais excluídas da sociedade dinamarquesa- comparecem a cada amanhã para se sentir "livres", dizem suas diretoras. Saúl Ruíz Afaf, com lenço de flores vermelho, é de Bagdá (Iraque). Chegou à Dinamarca em 2001 porque seu país "não era seguro". Agora atende às aulas de dinamarquês de Fakti para poder ser integrada à sociedade que, diz, a recebeu então com os braços abertos. No entanto, Afaf notou que a sociedade dinamarquesa deu um giro e que o tratamento já não é tão amável. Saúl Ruíz Zohreh, de 48 anos, é do Irã e vive no gueto de Tingbjerg, em Copenhague. Sofreu traumas físicos e psicológicos e vai a Fakti para aprender dinamarquês, e para se sentir bem e falar com outras mulheres em circunstâncias parecidas. Quer mudar de casa por conta da violência em seu bairro. "O Governo nos deu uma casa [do gueto], mas é muito difícil sair dali", lamenta. Saúl Ruíz Visão de uma das entradas para o gueto de Mjølnerparken, no centro de Copenhague. Na Dinamarca, as autoridades atualizam a cada ano uma lista de guetos. No ano passado havia 22, neste ano há 25. Saúl Ruíz Uma mulher caminha pelas ruas adjacentes ao gueto de Mjølnerparken, no centro de Copenhague. Saúl Ruíz Um grupo de mulheres aprende dinamarquês em Fakti, uma organização que apoia mulheres imigrantes, em sua maioria muçulmanas, no centro de Copenhague. A organização conta também com um jardim onde as mulheres plantam as ferva de seus países. O cheiro atiça as lembranças da infância das mulheres, explica a diretora da organização. É uma lembrança que lhes faz sentir bem, que lhes faz sentir cômodas e a salvo, explica. Saúl Ruíz