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Os muros do mundo: 21 fronteiras históricas Barreiras fronteiriças são construídas para evitar a entrada de migrantes, traficantes ou inimigos. Depois da queda do Muro de Berlim, restavam apenas 11 deles no mundo. Atualmente, a cifra subiu para 70 A Zona Desmilitarizada (DMZ), essa linha que divide a península coreana entre norte e sul ao longo do paralelo 38, é a fronteira com o nome mais enganoso do mundo. Desde 1953, quando a assinatura de um armistício pôs fim aos combates –mas não à guerra – entre as duas Coreias, consumando a divisão de famílias, propriedades e estradas, esta tem sido uma das áreas com maior presença militar em todo o mundo. Com 248 quilômetros de comprimento e 4 de largura, esta faixa, onde há 64 anos não pisa nenhum ser humano, se transformou em um santuário ecológico involuntário, no qual se refugiaram espécies que já não são mais encontradas em outros lugares. ED JONES (AFP) No final de fevereiro de 2016, por iniciativa da chancelaria austríaca, os quatro países da rota balcânica percorrida por refugiados em sua jornada até o centro e norte da Europa se reuniram em Viena e decidiram interromper esse fluxo iniciado em meados do ano anterior. Em 9 de março, o fechamento efetivo da fronteira da Antiga República Iugoslava da Macedônia (FYROM, na sigla em inglês) transformou a Grécia numa ratoeira onde foram apanhados mais de 50.000 migrantes (um ano depois, já são quase 63.000, uma vez que as chegadas às ilhas do Egeu, embora muito reduzidas pelo pacto migratório UE-Turquia, continuam ocorrendo quase diariamente). ROBERT ATANASOVSKI (AFP) O forte controle militar na fronteira entre a Índia e o Paquistão começou depois do acordo de Simala, assinado pelos dois países em julho de 1972. Na década de 1990, teve início a construção de uma cerca fronteiriça nas cidades de maioria muçulmana de Jammu e Caxemira. Os combates entre os dois países pelo controle dessa região aceleraram sua construção no ano 2000. Em 2004, a cerca já percorria 750 quilômetros da fronteira indo-paquistanesa. NARINDER NANU (AFP) São conhecidos como muros da paz, mas inevitavelmente recordam a sua ausência. Começaram a ser construídos pelo Exército britânico em 1969, quando estourou o conflito que marcaria a Irlanda do Norte durante 30 anos. Seu objetivo era minimizar a violência entre as comunidades católica e protestante, separando seus respectivos bairros. PAUL FAITH (AFP) Em 1976, Espanha abandonou sua colônia do Saara Ocidental. Marrocos e Mauritânia dividiram o território entre si, e a Frente Polisário, fundada três anos antes com o objetivo de alcançar a independência em relação à Espanha, declarou guerra aos dois países vizinhos. À medida que o Exército marroquino avançava sobre as cidades do Saara, dezenas de milhares de saarauis – entre 60.000 e 150.000, segundo as partes enfrentadas – se exilaram em acampamentos erguidos perto da cidade argelina de Tinduf. O então rei de Marrocos, Hassan II, começou a construir o muro nos anos 1980. AFP A fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão foi traçada em 1893 pelos britânicos para fixar uma segunda linha de contenção contra os russos, com os quais dividiram a região. Por isso os afegãos nunca a aceitaram e protestam contra as tentativas paquistanesas de consolidá-la com estruturas fixas. Essa delimitação, conhecida como Linha Durand, em alusão ao então chanceler britânico, partiu ao meio as terras ancestrais de pashtuns e baluchis, tornando impossível a vedação dos seus 2.640 quilômetros. ABDUL MAJEED (AFP) O bloqueio de Gaza de pouco serviria a Israel sem a colaboração do Egito, que em 2009, com o apoio dos EUA, construiu um muro nos 12 quilômetros de fronteira com a Faixa palestina. A barreira, feita de aço, separou a cidade de Rafah de seus subúrbios meridionais, situados em território egípcio. Entretanto, isso não interrompeu os intercâmbios comerciais entre a população de Gaza e os egípcios, já que foram construídos centenas de túneis que comunicavam as duas áreas. Alguns eram tão largos que até veículos podiam transitar por eles. Durante um tempo, o Governo de Hosni Mubarak tolerou os túneis, que constituíam um verdadeiro negócio para os habitantes do Sinai. SAID KHATIB (AFP) A invasão de Chipre pelo Exército turco, em julho de 1974, depois de um golpe de Estado dos partidários da união cipriota com a Grécia, dividiu essa ilha mediterrânea em duas partes. Os turco-cipriotas se concentraram na metade norte (pouco mais de um terço do território), enquanto os greco-cipriotas ficaram com o resto. Houve uma dolorosa transferência de comunidades; abandono, perda ou confisco de bens na fuga, e numerosos casos de desaparecidos que ainda hoje, quase cinco décadas depois, não foram resolvidos. Mas o resultado mais simbólico e tangível da ocupação – 30.000 soldados turcos continuam presentes no norte – é a chamada ‘linha verde’, ou de demarcação, entre as duas entidades da ilha. IAKOVOS HATZISTAVROU (AFP) O muro, de um quilômetro de comprimento e quatro metros de altura, foi construído quando mal havia migrantes na região. De modo que o motivo para erguer esta paliçada de cimento e ferro é, sobretudo, para que não voltem. A vergonha de Calais, um inferno no paraíso da terra de asilo, era visível demais. De uma só vez, em outubro, a polícia desalojou 5.300 homens, mulheres e crianças que se amontoavam entre escombros, ervas daninhas e lixo, à espera de uma oportunidade para entrar no Reino Unido – obviamente arriscando a vida, no interior de caminhões ou cruzando a pé pelas vias do túnel da Mancha. O método mais habitual consistia em forçar a parada de caminhões que se aproximavam do maior porto da França a fim de pegar uma carona clandestina para Dover. Jovens que fugiam da fome e das guerras às vezes acabavam esmagados sob as rodas dos caminhões. Para evitar isso, além dos vários quilômetros de cercas metálicas que rodeiam o porto foi construído o muro. PHILIPPE HUGUEN (AFP) As barreiras de Ceuta e Melilla – duas cidades espanholas encravadas na costa de Marrocos – são a primeira fronteira da Europa em solo africano. Erguidas nos anos 1990, inicialmente eram simples cercas fáceis de saltar, mas à medida que cresceu o fluxo de imigração ilegal elas foram sendo reforçadas. Esta pressão alcançou seu ponto culminante em 2014: em Melilla houve 22.000 tentativas de salto, e mais de 2.000 imigrantes conseguiram passar para o outro lado. Então os obstáculos foram redobrados, e as cifras desabaram, a tal ponto que o Governo de Mariano Rajoy apresentou esse recurso à Europa como um modelo de controle imigratório. FADEL SENNA (AFP) O fotógrafo Roi Kuper, nascido em 1956 num kibbutz próximo à Faixa de Gaza, expôs há dois anos no Museu de Israel, em Jerusalém, a obra que batizou como ‘O Sonho de Gaza’. Pouco antes de eclodir a última guerra, percorreu com sua câmera o perímetro terrestre do enclave costeiro palestino e registrou uma sucessão de imagens à distância que refletiam a vida do outro lado da fronteira. Encerrados os 50 dias da Operação Margem Protetora – um conflito que terminou com a morte de 2.250 palestinos (sendo três quintos civis, incluindo 550 crianças) e de 73 israelenses (sendo 67 militares) – Kuper retornou para completar seu trabalho, mas depois do muro já encontrou apenas desolação. JACK GUEZ (AFP) Depois da invasão iraquiana do Kuwait, em 1991, a ONU autorizou o emirado a construir uma grade ao longo dos 200 quilômetros de fronteira com o Iraque, a fim de se proteger das ambições territoriais de Saddam Hussein. Com ajuda dos EUA, cujas tropas escorraçaram as forças iraquianas do pequeno país petroleiro, os kuaitianos levantaram uma cerca eletrificada que vai da costa do golfo Pérsico até a fronteira com a Arábia Saudita. A barreira, que não aparece nesta imagem feita na localidade fronteiriça iraquiana de Umm al Qasr, foi rodeada com arame farpado e com um fosso de quase cinco metros de largura e outros tantos de profundidade. HAIDAR MOHAMMED ALI (AFP) No segundo semestre de 2015, quando a crise migratória estava em seu auge, os países balcânicos por onde refugiados e imigrantes transitavam rumo ao norte da Europa e à Alemanha começaram, num efeito-dominó, a fechar suas fronteiras. Foi então que a Hungria, governada pelo nacionalista, xenófobo e eurófobo Víktor Orbán, tomou a decisão de construir uma cerca para se blindar dos que chegavam. Primeiro com a Sérvia, depois com a Croácia e, futuramente, também com a Romênia. ATTILA KISBENEDEK (AFP) A Bulgária foi um dos últimos países a construírem uma cerca contra a imigração na fronteira oriental da Europa. Quando, em 2012, a Grécia inaugurou seu muro de 12 quilômetros na faixa de terra que a separa do território turco (o rio Evros funciona com uma divisão natural nos demais 194 quilômetros), a Bulgária começou a receber um fluxo crescente de refugiados e migrantes; assim, as autoridades de Sófia decidiram imitar o seu vizinho helênico e levantar uma cerca de três metros de altura ao longo de 33 quilômetros na fronteira com a Turquia. A obra foi concluída em 2014. NIKOLAY DOYCHINOV (AFP) Israel está a caminho de se tornar um país cercado por todos os lados, exceto pelo mar. A fronteira norte, com Líbano, onde opera o partido-milícia xiita Hezbollah e onde foi travada uma guerra em 2006, já está selada. Também a das Colinas do Golã, no outro lado das quais o regime e os rebeldes da Síria lutam desde 2011. Idem quanto ao limite sul, com o Egito, cercado inicialmente em 2013 para frear a imigração clandestina, e agora por causa da ameaça da filial do Estado Islâmico na península do Sinai. THOMAS COEX (AFP) Disperso entre os 11 campos de refugiados palestinos do Líbano, o de Ein el Helwe, próximo à cidade sulista de Sidon, parece à primeira vista um centro penitenciário. Nesta microcidade de 1,5 quilômetro quadrado se amontoam 75.000 pessoas, em um dos pedaços mais densamente povoados do mundo. Aberto em 1948, depois da criação unilateral do Estado de Israel, fato que neste lado da fronteira é conhecido como Naqba (catástrofe), mantém os refugiados e seus descendentes cercados por muros e cercas. As quatro únicas entradas e saídas do campo são custodiadas por soldados libaneses. AFP Em 15 de setembro de 2015, tudo mudou. Essa era a data marcada a fogo pela caravana de refugiados que atravessavam o mar Egeu àquela altura. Nesse dia, as autoridades húngaras selavam sua fronteira com a Sérvia e interrompiam o fluxo. Foram as ordens do controvertido primeiro-ministro Viktor Orbán. E assim se fez. Os jornalistas que poucos dias antes havíamos visitando os campos improvisados em Kanjiza e Horgos, no lado sérvio, fomos testemunhas de uma corrida da esperança. ATTILA KISBENEDEK (AFP) Com mais de 300.000 pessoas cruzando diariamente de Shenzhen (China continental) para Hong Kong, e vice-versa, a fronteira que separa as duas cidades foi durante anos a via de escape de muitos cidadãos chineses ávidos por encontrar uma liberdade da qual não gozavam em seu território. De livros proibidos pelo regime comunista a produtos como o leite em pó para os recém-nascidos e cremes hidratantes que passaram por rigorosos controles sanitários, esta passagem foi e ainda é a porta de entrada para um grande armazém que, acima de tudo, fornece segurança aos consumidores. ANTHONY WALLACE (AFP) A Áustria se tornou, no segundo semestre de 2015, o país de trânsito de centenas de milhares de refugiados a caminho da Alemanha ou da Suécia. Em poucos meses, e após acolher 90.000 solicitantes de asilo, o Governo austríaco promoveu uma reviravolta, à sombra do crescimento ultradireitista, e decidiu blindar seu território. Enviou 500 soldados a Spielfeld (na imagem), na fronteira com a Eslovênia, e construiu vários quilômetros de cerca em torno desse controle fronteiriço – mesmo depois de ter criticado duramente a Hungria por construir suas grades. RENE GOMOLJ (AFP) É improvável que o presidente Trump consulte o Irã sobre o assunto. Mas antes que o magnata lançasse sua ideia de construir um muro na fronteira com o México, os iranianos já estavam havia anos trabalhando numa grande barreira em seus limites orientais, para impedir a entrada de drogas vindas do Afeganistão e Paquistão. Embora sua composição mude ao longo de quase 2.000 quilômetros, segundo o terreno, consta de uma tripla defesa cuja estrutura mais chamativa é uma trincheira gigante de quatro metros de profundidade por cinco de largura. ATTA KENARE (AFP / Getty Images)