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Coluna
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Educação? Para quê?

Estudos mostram que o Brasil pode deixar de investir até 58 bilhões de reais na educação nos próximos 10 anos

Adolescente L.C.A que cumpre medida socioeducativa conseguiu uma bolsa para estudar Farmácia através do Enem.
Adolescente L.C.A que cumpre medida socioeducativa conseguiu uma bolsa para estudar Farmácia através do Enem.Marcelo Sant Anna (Fotos Públicas)

O líder da bancada ruralista no Congresso, senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), comemorou a aprovação da PEC 241 que limita os gastos públicos afirmando que “não há mais espaço para discursos bolivarianos que levarão o Brasil ao caos”. Uma das áreas mais prejudicadas pela nova legislação será a educação, cujo orçamento, a partir de 2018, passa a ser reajustado apenas pelo valor da inflação do ano anterior. Cálculos otimistas da Consultoria de Orçamento da Câmara dos Deputados avaliam que as perdas do setor alcançariam R$ 15,5 bilhões em 20 anos, enquanto a União Nacional de Dirigentes Municipais de Educação fala em cifras bem maiores: R$ 58 bilhões somente nos primeiros 10 anos.

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A educação no Brasil já é um caos de proporções “bolivarianas”, para usar um adjetivo ao gosto do senador Ronaldo Caiado, o que as propostas do presidente não eleito Michel Temer só farão agravar – além da já aprovada PEC 241, está em discussão no Senado a Medida Provisória 746, que de forma autoritária modifica toda a estrutura do ensino médio. A situação é tão grave que a ONU (Organização das Nações Unidas), por meio do relator especial para pobreza extrema e direitos humanos, Philip Alston, condenou com veemência a mudança de rumo patrocinada pelo governo Temer, afirmando que ela representa um “retrocesso social”, pois ”vai atingir com mais força os brasileiros mais pobres e mais vulneráveis, aumentando os níveis de desigualdade em uma sociedade já extremamente desigual”. E essa desigualdade extrema pode ser mensurada pela educação, que no Brasil, cada vez mais, não é direito, e sim privilégio.

Pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) aponta que em 2014 contávamos com 13 milhões de analfabetos absolutos com mais de 15 anos de idade, definidos como "pessoas que não sabem ler e escrever um bilhete simples no idioma que conhecem", o que significa 8,3% da população. Se esse número já é tragicamente grande, tornam-se ainda mais assustadores os dados relativos ao analfabetismo funcional – pessoas que não conseguem interpretar o sentido das palavras, expressar suas ideias por escrito nem realizar operações matemáticas mais elaboradas. Segundo o Instituto Paulo Montenegro, 17% de todos os jovens brasileiros entre 15 e 25 anos são analfabetos absolutos ou funcionais. E, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), na média os brasileiros com mais de 15 anos estudam apenas 8,2 anos, menos tempo que os nove anos necessários para completar o ensino fundamental.

O resultado disso tudo é a alienação. Pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos Mori, um dos mais importantes centros de investigação do mundo, mostra que a população brasileira encontra-se entre as que mais ignoram a realidade na qual estão mergulhadas – está em sexto lugar entre 40 países analisados, para ser mais preciso. O estudo avaliou o conhecimento geral e a interpretação que as pessoas fazem sobre o país em que vivem e comparou esta percepção com dados oficiais. Por exemplo, os entrevistados disseram acreditar que 51% dos brasileiros acham que a homossexualidade é moralmente aceitável, mas dados reais indicam que só 39% da população pensa assim; que 43% da população acham que o sexo antes do casamento é inaceitável, mas o dado real é de 35%; e que 61% acham o aborto moralmente inaceitável, quando dados reais indicam que 79% da população pensa assim. Mas a percepção mais interessante é em relação à desigualdade: para os entrevistados, os 70% menos ricos do país possuem 24% da riqueza do Brasil, quando na verdade possuem apenas 9%.

É cada vez mais claro que a solução definitiva para o Brasil seria o investimento na criação de um sistema de educação pública de qualidade voltada para a construção da cidadania, única forma de combater com eficácia o nosso imenso abismo social – 1% da população detém 27% do total da renda do país. Mas nenhum dos nossos políticos deseja isso. É muito melhor manter a população alienada, submetida ao medo e à ignorância...

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