9 fotosO dia a dia do carroceiro em São PauloRecolher material, empurrar a carroça de 70 quilos, vender tudo no ferro velho, receber o pagamento e descansar André de OliveiraSão Paulo - 24 abr. 2016 - 13:33BRTWhatsappFacebookTwitterBlueskyLinkedinLink de cópiaBaladas, restaurantes, padarias, escolas e escritórios, onde ele é conhecido, deixam tudo separado para Juliano pegar, botar na carroceria e levar até o ferro velho no qual trabalha desde que deu em Pinheiros."Graças a Deus, desde que cheguei em São Paulo, nunca tirei abaixo de 50 reais num dia. Teve uma vez, logo no comecinho, que eu tava no Itaim e um moço de um prédio bacana me chamou. Eles tavam trocando os corrimões da escadaria toda. Foi um monte de alumínio maciço. Cinco mil reais em um dia. Mas isso é igual tirar na loteria. O trabalho de carroceiro, de comum, vai de momento. Tem é que ter paciência."Faz uma busca em caçambas e outros cantos atrás de material de valor: cobre, alumínio, ferro. No caso de encontrar, dá um jeito de moquear o achado e volta rapidinho pra Ferreira de Araújo para trocar a bicicleta pela carroça. Hoje em dia, ele explica, tá cada vez mais difícil de fazer o garimpo. A crise chegou e ninguém tá bobeando com material valioso.Depois de percorrer cerca de 20, 15, quilômetros, Juliano leva tudo para o ferro velho com que trabalha há mias de um ano e meio. Lá, tem que deixar o ferro limpo antes de colocar para pesar.Do que ele realmente tem prazer em falar é do futuro: está juntando dinheiro, toda semana deposita uma quantia na poupança, nunca deixa a grana dando sopa na carroça, gosta do trabalho, sonha em comprar uma van e abrir uma empresa de reciclagem.Num cantinho da calçada da Ferreira de Araújo, vizinho de um comércio de restaurantes e bares tão descolados quanto caros, ele tem duas carroças: uma é a de trabalho, a outra é a de viver. A segunda tem porta, tranca, telhado, decoração e um cheiro constante daqueles espirais verdes que fazem fumacê para espantar mosquito. Juliano, aos 41 anos, se esforça para deixar tudo organizado e apresentável, afinal, é ali que vive há um ano e meio."E eu não bebo, não posso sentir nem o cheiro. Tem vez que vou pegar material nas baladas e fico enjoado só de sentir o cheiro de cerveja. Também não uso droga, só fumo os meus cigarros. É isso rapaz. Posso te chamar de rapaz porque você é menino novo, né? Eu sou diferenciado, tô aqui com um objetivo, não tenho passagem, quero juntar o meu e sair da rua.""A Pretinha é minha companheira, eu cuido dela e ela de mim. Quando me deram a Pretinha, em um Ecoponto, ela tava toda destruída. Alguém tinha jogado ela de cima da ponte da Cidade Universitária, lá na Marginal Pinheiros. Levei no veterinário, cuidei das feridas e hoje ela é minha companheira. Aqui na rua é muito sozinho, por isso eu quero juntar meu dinheiro e sair."Faz coisa de alguns meses, Juliano deixou de lado a preocupação com o dinheiro pingando na poupança, sacou uma quantia, foi na loja de departamento Magazine Luiza e comprou um tablet. Desde, então, toda noite, depois de ter deixado o aparelho carregando no bar do lado, se espraia no colchão que tem dentro da carroça, acende um espanta mosquito, acomoda a Pretinha em algum canto e liga o tablet.