8 fotos“Não se arrependam como eu, abracem seus filhos todos os dias”EL PAÍS acompanha passeata pelos cinco jovens mortos pela polícia no RioMaría MartínRio de Janeiro - 06 dez. 2015 - 10:39BRTWhatsappFacebookTwitterLinkedinLink de cópiaNo último sábado, três policiais militares metralharam o Fiat Palio onde viajavam cinco jovens do Morro da Lagartixa, no subúrbio de Costa Barros, no Rio de Janeiro. Os agentes, segundo as primeiras conclusões da perícia, dispararam mais de 100 tiros de fuzil e pistola contra o carro, atingido por, pelo menos, 60 balas. As famílias dos rapazes chegaram à cena do crime quando eles ainda agonizavam. Na foto, Jefferson Correia (14), um dos seis irmãos de Cleiton (18), mostra as marcas de tiros no muro onde ocorreu a tragédia.M. M.Na foto, Luiz Henrique, de dois anos, que perdeu o pai Wesley Rodrigues, de 26 anos, na noite do último sábado. O menino é hoje “o único sustento” da avó, Rosileia Castro, de 46 anos que criou seu filho sozinha. Copeira em uma rede de hotéis, a mulher voltou a trabalhar na sexta-feira, mas desabou e teve que voltar para casa.“Eu só me pergunto por quê? Sair atirando assim sem perguntar, como um ser humano pode pensar dessa maneira? Eles [os policiais] não têm noção de como ficou minha vida agora”, lamenta Rosileia. Os policiais, acusados de homicídio doloso e fraude processual por ter tentado forjar a cena do crime, declararam que dispararam ao ver que um dos rapazes atirava contra eles. A perícia não encontrou indícios de tiros disparados do interior do veiculo.M. M.Adriana Peres perdeu o filho Carlos Eduardo, de 16 anos, nos disparos. Uma semana depois, ela continua sem trabalhar e sai de casa graças a tranquilizantes. Carlos Henrique, o ex-marido e pai do rapaz, também não conseguiu voltar a dirigir o táxi com o qual trabalhava. Naquela noite, o capitão Daniel Floriano de Moura, do 41º BPM (Irajá), pediu aos agentes envolvidos no crime que recuperassem um caminhão de cerveja da Ambev que teria sido roubado na região. A ordem veio a pedido do major Moisés Pinheiro Sardemberg que, segundo as investigações, prestaria serviços de segurança à empresa de bebidas.M. M.O parque de Madureira, inaugurado recentemente pelo prefeito Eduardo Paes, é um dos poucos lugares de lazer da periferia carioca. O parque, relativamente próximo de Costa Barros, foi onde os cinco jovens passaram a tarde comemorando o primeiro salário de um deles antes de morrerem. O local, coroado por os cinco anéis olímpicos, foi o lugar escolhido para reunir as famílias em protesto pelo crime. Costa Barros é o penúltimo bairro do Rio no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), baseado na saúde, educação e dignidade dos moradores.m.m.Mônica e Rosileia, mães de Cleiton e Wesley, seguram dois caixões durante a primeira passeata organizada pelas famílias em protesto pela chacina em Costa Barros. Mônica, que promete não se render até os quatro policiais envolvidos no crime serem declarados culpados, fez um apelo à todas as mães: “Não se arrependam como eu. Cuidem dos seus filhos todos os dias, o tempo todo. Deem carinho e abraços neles, façam de tudo para demonstrar que os amam. Porque na noite em que eu perdi meu filho, nem me despedi”. Mônica, dona de casa, tem mais seis filhos e mora em condições precárias.M. M.Mônica, mãe de Cleiton, mora com seu marido e cinco filhos em uma casa na comunidade da Lagartixa. As paredes caem aos pedaços pela umidade e a água da chuva cai nos cômodos pelo telhado. Na foto, a cozinha da casa da família. Mônica, durante seu depoimento no ato, foi muito crítica com o governador Pezão. “Tentei falar com o senhor na educação, mas agora vou falar como favelada: ‘seu covarde!’. Peço a Deus que ninguém tire seu filho como você tirou o meu. Porque se você fosse capaz de cuidar da nossa segurança, meu filho estaria vivo, e faria a carreira militar, como era o sonho dele”.Os irmãos de Cleiton, de 14 e 16 anos, desabaram em vários momentos do ato. Eles, assim como o resto de familiares, foram avisados minutos depois do tiroteio e presenciaram a agonia dos jovens dentro do carro antes de morrer. “Eu ainda estou tentando entender”, disse Jefferson, o menor deles.M. M.Roberto, de 16 anos, comemorava naquele sábado seu primeiro salário como aprendiz em uma rede de supermercados. Jorge Roberto Lima da Penha, seu pai, um soldador que graduou-se em direito em 2013, não sai de casa sem o crachá e a carteirinha de trabalho do adolescente. Seu Jorge não conseguiu acompanhar a passeata deste sábado em homenagem aos jovens que partiu do Parque Madureira, o último local onde os rapazes estiveram. “Estou me sentindo muito mal, não consigo”, disse à reportagem. O caso dos cinco jovens será alvo de um processo criminal por homicídio doloso (com intenção de matar) e fraude processual (por terem colocado uma arma na cena do crime), um processo interno da PM para apurar a responsabilidade dos agentes e decidir seu destino e uma ação indenizatória que as famílias ainda devem articular.M. M.