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Coluna
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Por que todos temem Eduardo Cunha

Há algo misterioso no medo que o Governo e a oposição demonstram diante da polêmica figura do presidente da Câmara

Juan Arias
Cunha durante a sessão da última quinta-feira.
Cunha durante a sessão da última quinta-feira.A. FERREIRA (CÂMARA)

Há algo misterioso no medo que todos, Governo e oposição, demonstram diante da polêmica figura do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, investigado no caso de corrupção da Operação Lava Jato.

Parece temê-lo a presidente Dilma Rousseff, que em sua minirreforma deu um ministério importante como o da Ciência e Tecnologia para o deputado Celso Pansera, um político sem nenhuma qualificação para a função, numa afronta ao mundo científico, apenas por se tratar de um deputado ligado a ele.

Teme-o o ex-presidente Lula, se é verdade que foi ele quem aconselhou Dilma a favorecer o grupo ligado a Cunha, para tentar conter o processo de impeachment. Por que veem nele tanta força, já que certamente não se trata de prestígio? É apenas pelo poder que seu cargo representa, ou por alguma coisa a mais?

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Teme-o a oposição, que tem dificuldade de romper com ele, pois poderia perder uma peça crucial para a abertura do caminho para o processo de impeachment contra Dilma Rousseff. Por que o acham tão poderoso assim?

Quem parece ter um senso maior de responsabilidade talvez seja a opinião pública, que mostra forte rejeição pelo personagem, dado o seu possível envolvimento no escândalo de corrupção da Petrobras. E por suas posições conservadoras em assuntos relacionados à religião e aos costumes.

É a sociedade, bem mais do que os políticos do Governo ou da oposição, que condena com mais vigor a figura de Cunha, como se pode verificar nas redes sociais.

É a sociedade a única que não teme Cunha, talvez por saber que ele é apenas uma peça secundária em um jogo de xadrez no qual o rei e a rainha são as figuras principais. Cunha seria apenas mais um dentre todos aqueles que se aproveitaram de um banquete organizado por outros, mais responsáveis do que ele pela situação.

Ao lado da opinião pública, quem menos teme Cunha hoje (e talvez a única instituição da qual ele próprio manifeste temor) é a Justiça.

Boa parte do Congresso talvez o tema por ter navegado nas mesmas águas turvas em que ele agora se afoga. Quantos congressistas não temem acabar como ele? Quantos também não sabem o quanto ele sabe e com os quais ele poderia contar?

Teme-o uma parte do Legislativo, que prefere não confrontá-lo; e teme-o uma parte do Executivo, pois é sabido que ele pode ser um inimigo fatal. No fim das contas, todos preferem não enfrentá-lo, permanecendo à espera de que ele desapareça de cena, sem correrem riscos maiores.

Há um temor quase generalizado em relação a Cunha, que pode ser parte de sua força e do medo de suas possíveis chantagens. Dele já se disse que poderia “morrer matando”. E isso me fez lembrar a cena bíblica de Sansão, que morre junto com seus inimigos filisteus, esmagados, todos, pelas colunas do templo que ele próprio decidiu derrubar.

Como evangélico, Cunha deve conhecer bem essa história da Bíblia. Sansão foi um juiz abençoado por Deus, que lhe concedera uma força especial que o tornara capaz de estrangular um leão com suas próprias mãos. Os filisteus eram considerados homens maus, inimigos dos israelitas. Mas Sansão trai Iavé e se apaixona pela filisteia Dalila. Esta, por sua vez, o trai por dinheiro e revela aos seus próximos o segredo da força de seu amante, que residia na longa cabeleira. Os filisteus lhe cortam o cabelo para acabar com sua força, arrancam-lhe os olhos e o transformam em seu escravo. No entanto, Iavé resolve ajuda-lo e faz com que seu cabelo cresça novamente. Sansão recupera sua força e a utiliza para se vingar daqueles que o haviam cegado e humilhado.

E trama em detalhes essa vingança. Cego, pede que o deixem entrar no templo onde 3.000 filisteus celebram seu culto. Sem saber que ele recuperara a força, eles o deixam entrar. Sansão então adentra o templo às apalpadelas, avança até uma das colunas, apoia-se nela, balança-a com sua força recuperada e grita: “Aqui morre Sansão, com todos os filisteus”. O templo vem abaixo, sepultando a todos os presentes.

Não sei quantos dos políticos e governantes que expressam um temor reverencial em relação a Cunha temem que esse Sansão do Congresso, apesar de ter perdido a força por causa de seus supostos crimes de corrupção, surpreenda-os derrubando, antes de morrer, as colunas das instituições, semeando de cadáveres o templo do poder político.

Se a narrativa bíblica em que Deus devolve o poder ao infiel Sansão para que este possa se vingar de seus inimigos –ainda que fosse apenas para morrer com eles-- é bastante intrigante, também poderia surpreender que o infiel Cunha acabe por recuperar o seu poder de destruição, nem que seja apenas para não morrer sozinho na guerra em que todos se veem envolvidos.

Será esse o verdadeiro medo, quase reverencial, que o poder demonstra ter em relação a ele? Não deveremos esperar muito para saber.

Neste momento, o Sansão do Congresso parece ter perdido a força que tantos lhe atribuíam. Mas então, por que continuar tendo medo dele?

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