_
_
_
_
Editoriais
São da responsabilidade do editor e transmitem a visão do diário sobre assuntos atuais – tanto nacionais como internacionais

O petróleo agita a América Latina

As petrolíferas com participação pública devem ser transparentes e bem administradas

Uma das primeiras consequências da queda do preço do petróleo foi o rápido enfraquecimento das empresas petrolíferas de caráter estatal que canalizam, totalmente ou em parte, a riqueza do petróleo dos países produtores. Essa depressão é detectada com intensidade especial no caso das petrolíferas latino-americanas, da Petrobras à PDVSA. É claro que na Petrobras ocorre também um caso de corrupção amplo e intenso; mas o problema principal é o mesmo do que no resto das petrolíferas nacionais da Argentina, Venezuela, Colômbia e México, ou seja, a incapacidade em dar uma resposta rápida à queda do preço do petróleo. Na configuração do negócio petrolífero, o princípio que costuma ser cumprido praticamente sem exceções é que as empresas dedicadas somente à extração e venda de petróleo enfrentam grandes dificuldades quando o preço da matéria-prima cai bruscamente; as que menos sofrem o impacto da queda dos preços são as companhias integradas que dispõem de atividades de refino ou comercialização.

O primeiro ponto importante da posição das petrolíferas nacionais radica logicamente na evolução imediata do preço do barril. Hoje está claro que o preço começa a crescer e que essa será a tendência dominante durante os próximos meses. Os analistas que, como em quase todas as atividades, costumam equivocar-se, usam a progressiva recuperação da demanda para justificar a continuação da tendência de alta. O segundo ponto importante é qual será a velocidade de recuperação do preço; os mesmos analistas, com os mesmos riscos de erro, sugerem um amplo leque de possibilidades, dos que dizem que o preço pode chegar aos 70 dólares (198 reais) no final do ano, aos otimistas que preveem uma subida até os 80 dólares (226 reais).

O último ponto a ser destacado é qual será o valor do investimento. Com o preço atual, as petrolíferas nacionais simplesmente aproximam-se da ruína. Não somente pela diminuição da renda, mas porque seus investimentos em exploração ficaram momentaneamente desvalorizados. Nos preços atuais (o Brent gira em torno de 57 dólares [161 reais]), não existe investimento rentável possível em exploração convencional e fracking. O mínimo aceitável está em torno de 80 dólares. Enquanto se atinge esse preço, o mercado está expulsando a produção mais cara e este é um dos fatores de correção no qual os especialistas confiam.

As empresas públicas do setor não podem ser somente uma máquina de extrair mais-valias

Para as petrolíferas estatais o preço é somente uma advertência – pode ser grave, mas conjuntural se a cotação se recuperar – de que não podem operar somente como máquinas extratoras de mais-valia dos hidrocarbonetos que, além disso, pode ser manipulada para que os governos consigam os votos. Da queda petrolífera (propiciada pela Arábia Saudita), os governos latino-americanos deveriam tirar duas lições principais: os hidrocarbonetos são uma riqueza que o dominador do mercado pode manipular arbitrariamente e que as petrolíferas não podem utilizar-se deles (como no caso evidente da Argentina) para mascarar os preços pagos pelos consumidores nacionais. Dessa forma, as companhias nacionais quebram e o suposto maná da riqueza petrolífera é dilapidado.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_