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Campanha entra em etapa decisiva com os debates na TV

Aécio e Dilma estreiam no primeiro encontro cara a cara desde o resultado do último dia 5

Dilma e Aécio.
Dilma e Aécio.

A campanha eleitoral brasileira entrou numa fase decisiva esta semana, com a programação de quatro debates eleitorais na televisão. O primeiro acontece nesta noite de terça-feira, promovido pela Band, e vai testar a empatia dos candidatos Dilma Rousseff e Aécio Neves com o público. Ambos estão empatados tecnicamente segundo as principais pesquisas divulgadas até o momento, por isso, o debate ganha um peso importante para que eles consigam arregimentar mais eleitores.

A presidenta entra, a priori, com a desvantagem de ser "vidraça", principalmente depois do vazamento de trechos das gravações da delação premiada do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, que acusou nominalmente o PT de receber propinas que seriam incluídas nos custos cobrados de fornecedores da petroleira. Nos comícios, e nas propagandas de TV, a campanha petista vem tentando inverter o jogo, e começou a apontar os esqueletos no armário de Aécio Neves. Desde a construção do aeroporto na cidade de Cláudio, vizinho a uma fazenda da sua família, até o fato de Neves ter sido derrotado por ela no primeiro turno em Minas Gerais, Estado que foi governado por ele duas vezes, e que depois manteve uma gestão tucana, agora derrotada pelo petista Fernando Pimentel.

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Neves, por sua vez, chega fortalecido pelos apoios que recebeu logo após ser confirmado no segundo turno. O efeito que Marina Silva pode trazer a sua campanha ainda é uma incógnita, uma vez que o apoio da ex-presidenciável ao PSDB acabou gerando reações fortes dentro do próprio PSB, e também do grupo Rede. O agora ex-presidente dos socialistas, Roberto Amaral, assinalou que apoiará Rousseff. Amaral, em todo caso, já foi substituído por Carlos Siqueira na presidência da legenda.

No caso da Rede Sustentabilidade, fundado por Marina Silva, o grupo político manteve a posição de sugerir o voto nulo, branco ou em Aécio, mas alguns integrantes redigiram um manifesto contrários a essa proximidade entre tucanos e peessebistas.

Segundo Rafael Cortez, cientista político da consultoria Tendências, Dilma Rousseff reforçará durante no debate a estratégia de focar nas incertezas em relação a uma mudança de governo. "O eleitorado sempre vai ter a incerteza sobre qual é a consequência da chegada da oposição ao governo", diz. Já Neves deverá tentar minimizar essas inseguranças, realçando a agenda negativa de Rousseff, e o caso de corrupção na Petrobras.

Cortez acredita que os embates televisionados são fundamentais para conquistar eleitores, uma vez que muitos deixam para tomar suas decisões de última hora, e a TV ainda é a mídia mais poderosa do Brasil. "O primeiro e o último debates são os mais importantes. O primeiro, porque existe uma certa tendência do eleitor de se guiar pelas pesquisas e pelo desempenho dos candidatos. E o último pode ser fundamental para aquele eleitor que se decide na última hora, e a gente viu no primeiro turno que é uma parcela grande de gente que faz isso", afirma Cortez.

Muitos especialistas acreditam que a participação de Neves no último debate antes do primeiro turno foi definitivo para que ele tivesse um crescimento inesperado e deixasse Marina Silva para trás.

Além do encontro desta terça, há outro debate na quinta, do SBT, no domingo, transmitido pela TV Record, e o último, no dia 24, pela rede Globo, dois dias antes da eleição. Na quarta, ainda, novas pesquisas eleitorais serão divulgadas pelos principais institutos, o que promete mais fervura neste caldo da campanha.

Ou seja, ainda há espaço para eventuais mudanças no comportamento do eleitorado que podem afetar o resultado final dessas eleições. "A competição está aberta e os dois candidatos continuam com condições de igualdade de vencer", completa o analista da Tendências.

Para ele, a propaganda política na televisão ainda é a maior responsável por regular o tom da campanha, e não o debate. "As críticas virão muito mais pela campanha publicitária do que pelo discurso dos dois nesses próximos debates", diz.

O presidenciável do PSDB partiu para uma campanha mais ativa, incluindo mensagens gravadas e transmitidas pelo serviço de mensagens WhatsApp. Ao mesmo tempo, Rousseff e o PT estão fechando foco no nome da presidenta, deixando de exibir o nome do PT em material de campanha, além de incentivar a militância a sair às ruas. Os dois partidos contam ainda com artistas conhecidos que estão abrindo em público seus votos para um ou outro candidato.

O PT, em todo caso, enfrenta o ônus de se defender diante dos caso de corrupção na Petrobras. A legenda vem tentando ter acesso ao conteúdo completo da delação premiada de Costa, uma vez que só foram divulgados trechos, que citam o PT, e ainda, o PP e o PMDB. "Estamos vendo vazamentos seletivos da delação premiada, sem que a gente tenha qualquer chance de se defender", disse o presidente do partido, Rui Falcão, nesta segunda. O PT reconhece que a campanha vive um momento sensível, e não há espaço para otimismo exagerado com o resultado do pleito.

Mas se os tucanos estão em posição mais confortável, nesse sentido, ninguém no país é capaz de arriscar uma previsão acertada, uma vez que as reviravoltas vividas nesta eleição deixaram todos os 'futuristas' mais cautelosos. Por ora, o Brasil voltou a se dividir numa espécie de "Fla Flu" já conhecido das últimas eleições disputadas entre os dois partidos, com eleitores apaixonados na defesa de seus candidatos.

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