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Coluna
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Agora é que são elas!

A questão deste segundo turno será saber se os eleitores de Marina, parte deles petistas decepcionados parte militantes que buscam mudança, vão querer apoiar Dilma ou Aécio

Certamente, o fato mais surpreendente desta eleição foi o crescimento vertiginoso do candidato do PSDB, Aécio Neves, na reta final da campanha, ao mesmo tempo em que Marina Silva, do PSB, cumpria uma trajetória oposta. Aécio, que aparecia nas pesquisas na última semana empatado tecnicamente com Marina, após amargar um incômodo terceiro lugar, reagiu e conseguiu arregimentar 33,5% do total dos votos, menos de oito pontos percentuais em relação à presidenta Dilma Rousseff. Uma performance que nem o mais otimista dos tucanos ou mais pessimista dos petistas poderia desenhar.

Marina Silva, de certa forma, repetiu a história da eleição de 2010. Ex-ministra do Meio Ambiente do governo Lula, a então senadora candidatou-se à Presidência da República pelo PV com um discurso crítico à situação e colocando-se como alternativa ao PT. Angariou simpatias à esquerda e à direita e chegou-se até mesmo a cogitar que seria ela a candidata da oposição a disputar o segundo turno contra Dilma. No entanto, amargou o terceiro lugar, com cerca de 20 milhões de votos, praticamente o mesmo que recebeu agora, se levarmos em conta o crescimento de 5% do número de eleitores.

A questão deste segundo turno será saber se os eleitores de Marina, parte deles petistas decepcionados, parte militantes que acreditam que a candidata do PSB oferece uma mensagem nova, vão querer apoiar Dilma, depois da esculhambação em que se transformaram os debates televisivos. Além disso, o que se espera é que ambos os candidatos, a presidenta e o tucano, apresentem propostas concretas para que os eleitores possam decidir quem deverá administrar o país nos próximos quatro anos. Porque, até agora, o que vimos não foram argumentos para a resolução dos inúmeros e gravíssimos problemas do Brasil, e sim brigas acirradas de vizinhos que se detestam.

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Abaixo, alguns dados, fatos e curiosidades colhidos nos boletins de apuração.

Dilma Rousseff – A presidenta conseguiu 70% dos votos dos piauienses – sua melhor performance – e apenas 23% da simpatia dos moradores no Distrito Federal. No estado onde tem domicílio, o Rio Grande do Sul, terminou em primeiro lugar, com 43% dos votos, mas bastante próxima de Aécio Neves, com 41%. Em São Paulo, estado do ex-presidente Luiz Ignácio Lula da Silva, seu principal cabo eleitoral, seu desempenho foi bem ruim: 19 pontos percentuais atrás do candidato tucano.

Aécio Neves – O ex-governador de Minas Gerais esteve à frente em nove dos 27 estados da federação. Não conseguiu vencer em seu estado – Dilma obteve 43,5% dos votos contra 39,8% -, mas ganhou bem em São Paulo: 44,2% contra 25,8%. Sua pior atuação deu-se na Bahia: apenas 18% dos eleitores demonstraram simpatia por sua candidatura.

Marina – A candidata do PSB conseguiu o primeiro lugar em apenas dois estados: no Acre, onde tem domicílio eleitoral, e em Pernambuco, terra de Eduardo Campos, com 42% e 48% do total dos votos, respectivamente. Sua pior performance foi em Rondônia, com 10% dos votos.

Divididos – Os capixabas foram os brasileiros mais hesitantes: fracionaram sua opinião entre os três principais candidatos: Aécio conquistou 35% dos votos, Dilma 33% e Marina 28,7%. Os brasilienses também não estavam muito convictos: deram 36% dos votos para Aécio, 35,8% para Marina e 23% para Dilma.

Luciana – A candidata do PSOL conquistou o coração dos jovens eleitores, ao se posicionar claramente em relação a alguns assuntos que os concorrentes, com medo de perder votos, se esquivaram de abordar, como a união civil entre homossexuais, aborto e racismo. Conseguiu, assim, emplacar um quarto lugar, com mais de 1,6 milhão de votos, fazendo de seu partido o único, entre os nanicos, a ultrapassar a barreira do 1 milhão de eleitores.

Suplicy – Depois de exercer três mandatos sucessivos, Eduardo Suplicy (SP) despediu-se do Senado obtendo metade dos votos de seu concorrente, José Serra. O senador, após 24 anos em Brasília, já declarou que poderá, a partir de agora, dedicar-se à carreira musical, unindo-se aos filhos Supla e João na banda Brothers of Brazil.

Alagoas – Alagoas, o estado com pior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Brasil, o mais violento (cerca de mil assassinatos por ano), o pior em educação, reelegeu para o senado o ex-presidente Fernando Collor, deposto por um processo de impeachment por corrupção. Collor obteve quase dois terços dos votos. O mesmo estado elegeu como governador Renan Filho, filho do senador Renan Calheiros, suspeito da autoria de uma penca de irregularidades, e que, apesar disso, exerce atualmente o cargo de presidente do Congresso, o terceiro na linha de sucessão da Presidência da República, em caso de vacância.

Maranhão - O estado foi uma das economias mais prósperas do Brasil até meados do Século XIX. Hoje, só perde em pobreza para Alagoas. Metade da população não tem água tratada em suas casas e 90% não têm acesso à rede de esgoto. A família Sarney manda no Maranhão desde quando o patriarca, José, foi eleito governador em 1966, em plena ditadura militar. Disputando o cargo de governador contra Lobão Filho, filho do ministro das Minas e Energia, o candidato do PC do B, Flávio Dino, venceu o pleito com 64% dos votos. Pode ser o início de uma mudança. A ver...

Piauí – Os piauienses, que já tiveram como governador e senador um médico proctologista chamado Mão Santa, elegeram para o senado Elmano – O veín trabalhador... Veín, que é uma corruptela de velhinho, ganhou 62% do total dos votos...

Rio de Janeiro – Não deixam por menos os fluminenses. Pezão vai para o segundo turno na disputa pelo governo do estado, deixando Garotinho a ver navios...

Novas dinastias – Aécio Neves representa o avô, Tancredo Neves, assim como Eduardo Campos representava o avô, Miguel Arraes. E novas dinastias vão surgindo no Brasil. Reeleito governador do Paraná, Beto Richa é filho do ex-governador José Richa. Eleito senador por Pernambuco, Fernando Bezerra Coelho é sobrinho do ex-governador Nilo Coelho. Vão para o segundo turno os candidatos a governador, filhos de ex-governadores: Camilo Capiberibe (de João Capiberibe), no Amapá; Helder Barbalho (de Jader Barbalho), no Pará; Cássio Cunha Lima (de Ronaldo Cunha Lima), na Paraíba. Perderam a eleição para governador, o filho do ex-governador e atual ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, Lobão Filho, no Maranhão, e Nelsinho Trad, filho do ex-deputado federal Nelson Trad, em Mato Grosso, estado que elegeu senadora Simone Tebet, filha do ex-governador Ramez Tebet. Já o filho do ex-vice-presidente José Alencar, Josué Alencar, não conseguiu se eleger senador por Minas Gerais. Assim como Paulo Bornhausen, filho do ex-governador de Santa Catarina, Jorge Bornhausen, e Ivone Cassol, mulher do ex-governador de Rondônia, Ivo Cassol, que viu ainda sua irmã, Jacqueline Cassol, ser derrotada como candidata a governadora.

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