A campanha eleitoral começa na televisão mas esquenta nas redes sociais
Propaganda eleitoral, que começou hoje, vai fomentar ainda mais material para os 100 milhões de brasileiros conectados à rede, o dobro da última eleição
Eram 19h30 da terça-feira e a entrevista com a presidenta Dilma Rousseff no Jornal Nacional, da Rede Globo, na noite anterior, ainda era comentada no Facebook e no Twitter. O nome do apresentador William Bonner, aliás, entrou nos trend topics do microblog ao longo do dia. A entrevista da presidenta teve ibope de 32 pontos no Rio de Janeiro e de 28 pontos em São Paulo, ainda dentro da média do principal telejornal brasileiro, mas o eco nas redes sociais amplificou o seu alcance. O brasileiro volta a debater política.
Na semana passada, era o nome de Marina Silva que despontava nas redes quando a possibilidade de que se tornasse presidenciável após a morte de Eduardo Campos ainda era uma possibilidade. Com a quase confirmação do seu nome, as redes foram tomadas por textos e mensagens temerosos da sua ascensão na campanha, principalmente depois da divulgação da pesquisa Datafolha, nesta segunda-feira, que a mostrou com 21% das preferências do eleitorado, praticamente empatado com o tucano Aécio Neves, e com grandes chances de ir ao segundo turno, quando aparece também empatada tecnicamente com Rousseff (47% a 43%). “Houve um festival de compartilhamento de textos contrários a ela, parecia um contra-ataque”, diz Fabio Malini, Doutor em Comunicação, e Pesquisador no CIBERCULT - Laboratório de Pesquisa em Comunicação Distribuída e Transformação Política.
Nesta terça, com o início da propaganda gratuita em rádio e televisão o eco tende a crescer, com seu ápice durante os debates televisionados. “A TV será muito potencializada pela rede, mais inclusive que em 2010”, prevê Malini. Isso porque o número de internautas cresceu, com ajuda dos celulares com acesso a web. De 54 milhões de brasileiros que acessavam a rede há quatro anos, o total ultrapassa os 100 milhões, segundo o instituto Ibope. A rede traz dinamismo e acaba por envolver mais os eleitores, segundo especialistas. “Se fosse só na TV haveria uma certa apatia. Hoje, se vive um momento de interesse muito grande”, completa Malini.
A campanha começou nesta terça na TV, sob a emoção da morte do candidato do PSB, Eduardo Campos, enterrado neste domingo em Recife. Com seus dois minutos e três segundos, o PSB colocou no ar um filme já gravado por Eduardo Campos com passagens da suas andanças em campanha pelo país. “Nós temos uma tarefa, não vamos desanimar, e construir uma grande união no Brasil, com o povo brasileiro”, dizia o candidato, enquanto aparecia ao lado de eleitores, e também em cenas ao lado da sua família.
As propagandas de seus principais adversários também mencionaram o candidato morto num acidente de avião no último dia 13. O PT, porém, deixou para o seu maior cabo eleitoral, o ex-presidente Lula, o espaço para a homenagem a Campos. Lula lembrou da relação de “pai e filho” com o ex-governador de Pernambuco que foi seu ministro de Ciência e Tecnologia em seu primeiro mandato (2002 a 2006). “Suas últimas palavras precisam ser incorporadas pelo Brasil. Nuca vamos desistir do Brasil”. Coube a Rousseff a defesa do seu Governo, lembrando os milhões de empregos gerados, “enquanto 60 milhões de empregos foram destruídos lá fora”, disse a presidenta. Neves, por outro lado, lembrou os projetos em comum que tinha com Campos, e manteve a linha de crítica à gestão petista.
Ao menos em tempo de exposição, a presidenta Rousseff já sai ‘vitoriosa’. A coligação da presidenta conta com nove partidos, o que lhe garantiu 11 minutos e 24 segundos, enquanto Aécio Neves, por exemplo, que conseguiu o segundo maior tempo, tem apenas quatro minutos e 35 segundos. Embora o candidato tucano também tenha aglutinado nove partidos, incluindo o próprio PSDB, o tempo de TV leva em conta a bancada no Congresso de cada um. O PT conta com o PMDB, que tem 75 dos 512 parlamentares da Câmara, a segunda maior bancada, depois do PT, que tem 87 representantes.
O tempo, porém, nem sempre é tão decisivo assim. Marina Silva, por exemplo, teve um minuto e 23 segundos nas eleições de 2010, quando concorreu a presidência, e obteve 20 milhões de votos na ocasião. Embora tenha o dobro do tempo, Marina terá de correr para estruturar uma arma poderosa que ela e seus militantes cativaram com muito esmero na eleição passada: a comunicação com o eleitor via rede. Por enquanto, o PSB corre para oficializar o nome do candidato a vice e iniciar sua campanha na TV, nas ruas e claro, na web. O PT e o PSDB também sabem que o papel nas redes é fundamental. Prova disso é que mantêm segredo sobre o tamanho das suas equipes para a campanha na Internet por considerar a informação “estratégica”. Numa das eleições mais competitivas da história brasileira, cada centímetro de terreno conquistado na rede vale ouro.
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