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Copa do Mundo

A ONU pede que o Brasil melhore a prevenção para garantir a segurança

O PNUD defende um trabalho mais amplo com comunidades locais para que se sintam mais responsáveis pela realização do torneio e evitem problemas relacionados à falta de segurança

Manifestante segura cartaz contra a Copa neste mês em São Paulo.
Manifestante segura cartaz contra a Copa neste mês em São Paulo. BOSCO MARTÍN

Faltando apenas dois meses e meio para o início da Copa do Mundo no Brasil, a segurança continua sendo a grande preocupação ante a possibilidade de que se repitam os protestos sociais em massa de junho do ano passado ou que ocorram ataques de facções do narcotráfico. Há alguns dias, precisamente, o Exército brasileiro voltou a ocupar algumas favelas do Rio de Janeiro. O Governo brasileiro tenta garantir de todas as formas possíveis que haverá segurança para o torneio e os seus visitantes, mas é habitual ouvir vozes que acham que teria de fazer muito mais para isso, como as ouvidas nesta sexta-feira em Washington.

Em um colóquio no Instituto Brasil do Wilson Center, Érica Machado, responsável por projetos do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) no Brasil, pediu uma maior ênfase na prevenção para se melhorar a segurança e, por sua vez, conseguir fazer com que os cidadãos se sintam mais envolvidos com o evento mais importante do mundo do futebol, embora tenha sugerido que pode ser muito tarde para isso. "Nossa posição é a de que se dê prioridade à prevenção, mas isso deveria ter sido iniciado lá atrás. Agora não há", afirmou. Mas, querendo evitar soar alarmista, logo depois mostrou-se convencida de que será uma Copa segura, embora tenha admitido, de forma genérica, que há certamente um "cenário de incerteza" em algumas das cidades que receberão as partidas.

Segundo Machado, a prevenção é a "melhor forma" de reduzir os índices de violência, como, assegura, demonstram alguns projetos do PNUD no Brasil, os exemplos das cidades colombianas de Bogotá e Medellín, ou iniciativas de "participação social" nos Estados Unidos. No caso do Mundial, por exemplo, a analista considera que isso ajudaria a  impulsionar muitos projetos sociais dentro das comunidades, em especial para mulheres e jovens, para melhorar suas condições de vida e evitar possíveis casos de insegurança, e ao mesmo tempo reforçar sua relação com as autoridades policiais e estabelecer uma relação de maior igualdade. "Se há uma relação melhor entre a comunidade e a polícia, a melhoria é incrível", sustentou. E tudo isso, em paralelo, ajudaria a fazer com que os cidadãos se envolvessem mais com a Copa e em seu sucesso, porque a sentiriam mais como algo seu. E assim se sentiriam mais responsáveis pela luta contra a violência.

Mas por enquanto isso não está ocorrendo. Paradoxalmente, em um dos países onde o futebol mais move paixões, segundo uma pesquisa recente do instituto Datafolha, o apoio dos brasileiros ao Mundial era, em fevereiro, de 52%, o seu nível mais baixo desde novembro de 2008, quando o respaldo chegou a 79%. Para a responsável do PNUD, tudo isso se deve ao chamado "padrão FIFA" e ao mal-estar -que foi a semente dos protestos de junho- de que se invista mais dinheiro nas instalações do torneio do que em educação e saúde, e não se combata a corrupção com mais vigor.

Falando sobre a experiência do PNUD na melhoria da segurança em partes do país, Machado fez questão de destacar a importância de se blindar os projetos dos ciclos eleitorais, de fazer políticos e cidadãos entenderem que "o protagonismo é de todos, e não só da polícia", de aumentar a participação das comunidades e dos governos, e de melhorar a situação econômica das prefeituras, que em ocasiões carecem de mão-de-obra.

Do colóquio no Wilson Center também participaram outros especialistas brasileiros. Dino Caprirolo, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), lamentou que, apesar do aumento dos gastos públicos com segurança, a taxa de homicídios mal foi reduzida no Brasil -que é o nono país latino-americano em taxa de homicídios-, o que atribuiu em parte à falta de coordenação entre as diferentes esferas governamentais e à lentidão da Justiça.

Caprirolo também condenou a excessiva repressão policial, por exemplo, nos protestos sociais que aconteceram desde junho passado. Nesta sexta-feira, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) realizou em Washington sua primeira audiência sobre o assunto, com depoimentos de representantes de organizações de direitos humanos e das autoridades brasileiras.

José Luiz Ratton, professor da Faculdade de Sociologia da Universidade Federal de Pernambuco, destacou uma redução de mortes violentas, mas que esta foi desigual ao longo do país, e criticou que, apesar dos numerosos programas de assistência social impulsionados pelo ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e mantidos por sua sucessora Dilma Rousseff, o Governo não aproveitou a preparação da Copa para fazer grandes investimentos em regiões mais pobres, o que também ajudaria a prevenir possíveis episódios de insegurança.

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