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BENEDITO MEIRA/ COMANDANTE DA POLÍCIA MILITAR PAULISTA

Meira: “A polícia agiu de maneira legítima no protesto”

Comandante da Polícia Militar de São Paulo, afirma que ações de vândalos são potencializadas pela imprensa

O comandante-geral da PM de São Paulo, coronel Benedito Meira.
O comandante-geral da PM de São Paulo, coronel Benedito Meira.Amanda Claudino (Divulgação SSP)

O comandante da Polícia Militar de São Paulo, o coronel Benedito Roberto Meira, diz que a ação dos policiais que balearam um rapaz após uma manifestação no sábado foi legítima. Irritado com as críticas que tem recebido em virtude da ação dura de seus comandados, Meira diz que a situação tem se agravado porque a imprensa dá espaço para os vândalos o que potencializaria a ação deles.

Em entrevista ao EL PAÍS, o homem que comanda a maior tropa policial do Brasil, com quase 90 mil profissionais, diz que a sua polícia está preparada para atuar nas manifestações contra a Copa do Mundo que ocorrerão nos próximos cinco meses em diversas cidades brasileiras.

Pergunta – Como a PM agiu durante o protesto de sábado? Atuou de maneira adequada?

Resposta – O protesto começou com um grupo pacífico que estava acampado no Masp (Museu de Arte de São Paulo) que até pediu para ser revistado. Era claro que eles queriam fazer um manifesto pacífico, tranquilo e que desse garantia para eles. Em um determinado momento chegaram muitas pessoas mascaradas, com roupa preta, mochila nas costas e entre eles houve muita discussão sobre o que fazer.

P- Eram praticantes da tática black bloc?

R- Sim. Estavam todos mascarados, usando balaclavas e de maneira agressiva, provocando os policiais. Eles mudaram o trajeto e nós tínhamos a noção de que quando escurecesse eles iriam atacar. Para se ter uma ideia teve um grupo de manifestantes black bloc que foi para a Praça da República (no centro) que tomou um pau lá. Apanhou do público que não queriam esses manifestantes lá. Deram um cacete nele e ele fugiu.

Houve dois disparos de bala de borracha [no hotel] porque estávamos com seis policiais e o grupo partiu para cima de nossos policiais.

P- E como prosseguiu isso tudo?

R- Em um determinado momento, eles separaram os grupos e começaram a depredar algumas agências na região central. Foi quando a polícia teve de reagir com o uso de munição química. Porque havia vários grupos separados. Um grupo maior seguiu para a rua Augusta depredando lixeiras e foi acompanhado pelos policiais. A Tropa de Choque estava posicionada na região e quando cercou o grupo que causou o problema nos bancos fugiu para dentro de um hotel. Entraram pelas escadas de emergência e a polícia seguiu atrás para prendê-los.

P- Há relatos de que houve uso de munição química dentro do hotel também.

R- Houve dois disparos de bala de borracha porque estávamos com seis policiais e o grupo partiu para cima de nossos policiais. Mas ninguém foi atingido.

P- E vocês detiveram várias pessoas? Por quais razões?

R- Foram 108. Quebraram sete agências bancarias, quebraram uma concessionária, tocaram fogo em um fusca. Por vandalismo, por depredação do patrimônio.

P- E o rapaz que foi baleado, o Fabrício Mendonça Chaves? O que seus policiais te contaram sobre essa ocorrência?

R- Ele foi detido em uma outra situação. Já tinha acabado o protesto. Estávamos com vários policiais espalhados pela região. Um grupo de policiais estava abordando pessoas em atitude suspeita. Quando esses dois jovens chegaram, os policiais foram abordar. Eles saíram correndo. Um foi detido com uma espécie de chave inglesa, combustível, máscara balaclava. O outro fugiu. Esse que correu foi parado depois por dois policiais. Em um momento o rapaz parou com um estilete na mão. O policial que estava próximo dele sacou a arma e mandou parar. Só que ele não parou. Continuou vindo para cima. Foi quando o policial atirou duas vezes. Um tiro atingiu a clavícula e outro os testículos dele. Mesmo assim ele não parou. O outro policial atirou, mas não sei se o acertou. Quando o rapaz parou no chão, um terceiro policial deu um chute na mão dele e tirou o estilete dele. Depois eles chamara o socorro, que demorou, e decidiram socorrê-lo. O rapaz estava sangrando muito e poderia morrer.

Os policiais atuaram de forma legítima

P- Mas a ação desses policiais foi correta, na sua avaliação?

R- Só tínhamos a versão dos policiais e umas imagens. Diz que um defensor público viu, mas ele não fala com a polícia. Gozado que ele fala com repórteres, mas não com a polícia.

P- Vou repetir a pergunta. Qual é sua avaliação da ação de seus comandados?

R- Foi legítima. Nosso corregedor já viu esse vídeo e me assegurou que estava tudo correto. Os policiais atuaram de forma legítima. De qualquer forma, vamos instaurar um inquérito interno para avaliar a conduta deles.

P- Para ficar claro, você considera a ação desses policiais, na manifestação, um revide ?

R- Não considero esse caso relacionado à manifestação. Foi um fato isolado. Não sabemos nem se ele participou do protesto. Estava em uma área completamente distante dos demais.

Você vê manifestação no Egito, na Ásia ou na Europa. Lá você tem 30 mortos. E o padrão de ação da polícia é igual.

P- Coronel, o protesto de ontem resultou em depredações e em uma repressão violenta da polícia. Há várias críticas contra vocês pela maneira que agem...

R- Eu quero que esse crítico me aponte qual comportamento a polícia deveria ter nesse caso? É abandonar tudo e não fazer sequer a cobertura da manifestação? Deixo tudo à vontade? Agora você vê manifestação no Egito, na Ásia, na Europa, em tudo que é lugar. Lá você tem 20, 30 mortos. E o padrão de ação da polícia é igual. Não tem outra. Se a manifestação terminasse como começou, não teria problema. Agora, chega em um momento e as pessoas começam a depredar tudo a polícia agiu.

P- Mas não foi de uma maneira exagerada?

R- É para deixar quebrar agências bancárias? Teve um guarda civil que apanhou. E apanhou muito. Ninguém fala disso. Ele fugiu e continuaram batendo nele. Tivemos duas policiais femininas que tiveram de fugir de um grupo de 60 vândalos também. Eles iam matar as duas policiais, se não chega um grupo da Força Tática e dá um cacete naqueles caras as meninas iam morrer.

P- E por que chegou neste ponto de agressão mútua?

R- Porque vocês, jornalistas, potencializam a ação deles. Desculpe eu te dizer isso, mas a imprensa potencializa a ação de vândalos. Porra, tem de repudiar isso aí. Quanto mais vocês dão a oportunidade, vídeo deles, vídeo de não sei o que, mostra aqui e pega uma ação isolada da polícia e não mostra o principal.

Estamos para defender a sociedade. O problema é que vez em quando os vândalos se infiltram e passam a dominar a situação.

P- Mas isso é censura.

R- Repito. Não dá para pegar uma ação isolada da polícia e esquecer o principal. Foram eles que depredaram agência bancária. Foram eles que iniciaram o vandalismo. Aí reverte o negócio e bota a culpa na polícia. Enquanto continuar assim não tem jeito. Por isso, buscamos apoio da Polícia Civil para identificar os envolvidos para prender esses caras. É só assim.

P- Nos próximos cinco meses, até a Copa do Mundo vai ter uma série de protestos. Vocês estão preparados?

R- Vai ter vários. Estamos prontos para garantir a livre manifestação. Agora tem alguns pseudotecnocratas que defendem a prática do vandalismo. Escrevem artigos defendendo esse quebra-quebra. O que eu posso fazer? Estamos para defender a sociedade. O problema é que vez em quando os vândalos se infiltram e passam a dominar a situação. Isso se chama inversão de valores?

P- Como assim?

R- O que a sociedade quer? O que é democracia? É defender a ordem pública ou a baderna, a depredação. Eu defendo a democracia. Mas ela tem regras, tem direito e deveres. É isso que as pessoas não entendem. Na Itália, na Espanha, na França, tem manifestações, mas há regras, há limites. Se passar do limite, a punição é exemplar. Ela acontece, para todos os envolvidos.

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