_
_
_
_
_

Mercadante desponta como o homem forte para o futuro de Dilma

O ministro da Educação, com perfil político, pode se confirmar no papel de articulador na pasta mais importante da Esplanada dos Ministérios

O ministro da Educação, Aloizio Mercadante.
O ministro da Educação, Aloizio Mercadante. Elza Fiúza/ABR

Sai uma ministra executiva da Casa Civil, entra um perfil mais político para cuidar das articulações do Governo Dilma, a exemplo do que outros antecessores fizeram na pasta. Se as notícias forem oficialmente confirmadas, Gleisi Hoffmann, que teve papel preponderante para negociar as concessões de infraestrutura, será substituída por Aloizio Mercadante, o atual ministro da Educação, velho de guerra nas trincheiras do PT. Na comando da Educação, cogita-se o nome do atual secretário executivo, José Henrique Paim.

Se Hoffmann atuou de maneira discreta à frente da Casa Civil, como ela mesmo admitiu em entrevista ao jornal paranaense Gazeta do Povo, Mercadante pode imprimir um perfil mais conciliador, próprio de quem esteve nas mesmas articulações do presidente Lula, e do ex-ministro José Dirceu, dentro do Partido dos Trabalhadores. Assim, o quase ex-ministro da Educação daria ao Governo Dilma, nos próximos meses, e talvez, num segundo mandato, o que falta de traquejo político à presidenta.

De sua longa carreira no PT, esta pode ser sua maior oportunidade política, capaz, inclusive, de pavimentar seu caminho para uma eventual candidatura à presidência em 2018. Mas, antes de pensar nisso, a reeleição da presidenta cairia muito bem para este paulista nascido na cidade de Santos, que completa 60 anos em maio, quase sempre ofuscado por outros grão-duques da legenda, cujo personalismo era maior que o cargo.

Mercadante coleciona conquistas importantes no currículo, como a de ter sido eleito o senador mais votado na história do país em 2002. Na Casa, apresentou diversos projetos ligados a educação, como a remissão de pena em troca de estudo de presidiários, ou acesso à tecnologia nas escolas, e outros menos relevantes, como a habilitação de casamento pela internet.

À frente do ministério da Educação, Mercadante teria marcado a sua digital no programa Ciências sem Fronteiras, que ofereceu milhares de bolsas de estudos para brasileiros no exterior. No Brasil, o ministro da Casa Civil é considerado o braço direito do presidente, e equivale, sem figura de linguagem, a um primeiro-ministro. O comandante da pasta é responsável por articular o funcionamento gerencial do Governo, e manobra, quando há uma lei de interesse do Executivo, para que o andamento das projetos seja favorável a seus interesses.

Já passaram pelo cargo José Dirceu e Antonio Palocci, o que confere à pasta uma certa fama de “maldita” aos que passam por ali. Mas, a lenda é desmentida pela própria presidenta Dilma, que esteve ali trabalhando para erguer o Programa de Aceleração do Crescimento, que irrigou de recursos projetos de infraestrutura, antes de ser candidata à presidenta.

Na avaliação do cientista político Cláudio Couto, a chance de políticos com perfil menos técnico de manter-se na Casa Civil após as eleições é maior, e isso favoreceria Mercadante no caso de Dilma, de fato, ser reeleita. Deste modo, a sorte de Mercadante de se converter no principal braço de articulação do Governo começa a ser lançada.

Couto avalia que Mercadante não deve alterar o perfil de diálogo do Governo com seus aliados. “Como o estilo de Dilma é muito centralizador e presencial, não é fácil imaginar que o sucessor de Hoffman na Casa Civil encontre uma autonomia maior”, afirma.

No final de novembro do ano passado, Mercadante fez um balanço dos anos do PT no Governo em entrevista ao EL PAÍS em novembro passado por ocasião do lançamento do seu livro Brasil: de Lula a Dilma (2003-2013). “Mantivemos a estabilidade, fizemos todas as mudanças dentro da democracia, fortalecendo as instituições republicanas, nunca questionamos uma decisão da Justiça ou do Legislativo, com a mais ampla liberdade de imprensa e manifestação. Fizemos o mais importante processo de inclusão social da história do Brasil”, disse. Mas ele admite que o desafio agora é outro, de atender a expectativas bem mais elevadas, e é preciso encontrar uma nova formula para atender aos novos anseios.

Formado em Economia pela Universidade de São Paulo, onde teve uma intensa atuação política como presidente do centro acadêmico quando ainda era estudante, Mercadante foi um dos fundadores do Partido do PT em 1980. Dez anos depois, foi eleito o deputado federal mais votado pelo partido.

No ano de 1994, abriu mão de concorrer a uma reeleição na Câmara dos Deputados para ser o candidato a vice-presidente na chapa de Lula, que acabou perdendo para Fernando Henrique Cardoso na ocasião. Depois de um hiato sem cargos, período em que colaborou com a campanha de Luiza Erundina a prefeitura de São Paulo, Mercadante foi eleito deputado federal novamente em 1998.

Em 2002, concorreu ao Senado Federal pelo Estado de São Paulo somando cerca de 10,5 milhões de votos e estabelecendo um recorde. Em 2010, se candidatou ao Governo de São Paulo, mas perdeu para o atual governador Geraldo Alckmin. Com isso, ele foi chamado por Dilma para ser ministro da Ciência e Tecnologia a partir do seu primeiro dia de Governo, no dia primeiro de janeiro de 2011. Em 2012, com a eleição do ex-ministro da educação Fernando Haddad para a Prefeitura de São Paulo, Mercadante assumiu a pasta.

Segundo informações da imprensa brasileira, hoje ele teria se reunido com a presidenta e com Lula para começar a ficar a par dos assuntos de que terá de tratar.

Outras baixas

Além da saída de Hoffmann, Dilma terá de lidar com o êxodo de figuras destacadas em sua gestão, como o atual titular da saúde, Alexandre Padilha, que deve concorrer ao Governo de São Paulo, o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, eventual postulante ao executivo mineiro, o ministro dos Transportes, César Borges, que está de olho no Governo da Bahia. Completam a lista Maria do Rosário, Marcelo Crivella, Antônio Andrade, Gastão Viera, Aldo Rebello, Aguinaldo Pinheiro e Ideli Salvatti, totalizando 12 ministros que vão testar suas chances nas urnas em seus respectivos Estados.

Para o cientista político Flávio Wanderley, as mudanças que deverão ocorrer, em sua maioria, trarão ministros menos qualificados para ocupar os cargos vacantes. “Os partidos de origem dos ministros substitutos devem ser os mesmos que apoiarão o Governo nas eleições. É sempre assim, quando a atenção se desvia da administração e se foca nas eleições”, diz.

Oficialmente, o Planalto diz que a reforma ministerial acontecerá quando Dilma voltar do Fórum de Davos.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_