8 fotos“Quero o impeachment, mas se Lula voltar, eu voto nele”Longe do centro, as opiniões da periferia são mais complexas do que as de manifestantes contra ou a favor do impeachmentMarina RossiSão Paulo - 16 abr. 2016 - 21:29BRTWhatsappFacebookTwitterLinkedinLink de cópiaAnthony Cavalcante, dono de uma loja de livros, revistas e vinis no Mercado de Guaianases há dez anos, já foi em duas manifestações pelo impeachment na avenida Paulista. Embora queira a destituição de Dilma Rousseff, ele não acredita que ela seja corrupta. "Ela foi usada como laranja". Ele explica que não irá às ruas neste domingo porque trabalha, mas conhece muita gente da região de Guaianases que vai. "O povo tem que tomar consciência de que ele faz diferença", diz. Embora tenha votado em Dilma em 2010, afirma estar decepcionado. "Eu não votaria em Lula em 2018. Acho que ele perdeu toda credibilidade". Embora ele seja favorável ao impeachment, acha que isso não vai acontecer. "No Brasil, a única coisa que pune alguém é você não pagar pensão. Aí você é preso. O resto, eu só acredito vendo".Victor MoriyamaJoão da Silva, motorista de ônibus há 15 anos e morador do Grajaú, no extremo sul de São Paulo, é a favor do impeachment. E de Lula também. Ele explica que os atos de corrupção ocorrem desde muito antes do PT chegar ao poder. "Essa corrupção é de longa data, mas a bomba estourou na mão da Dilma", diz. Ele acha que ir para as ruas não causa efeito algum. "Se você dissesse que se fôssemos na manifestação a Dilma deixaria o Governo, o bairro todo iria". Ele não acha que se o PT sair do Governo os programas sociais, como Bolsa Família, serão cortados. "Todo programa que beneficia pobre é eleitoreiro. Por isso, quem quer que entre, irá mantê-los", diz. Apesar de ser a favor do impeachment, votaria no PT novamente: "Se o Lula voltar em 2018, eu votaria nele. É um Governo que eu já conheço".Victor MoriyamaHelberton Rodrigues da Silva vende doces e balas no terminal de ônibus do Grajaú, zona sul de São Paulo. Diz que desde que começou a trabalhar ali, há cerca de oito meses, já teve que subir o preço da mercadoria ao menos duas vezes. "As coisas estão caras demais", diz. "Se eu não subir o preço, não sobrevivo aqui". Ele conta que nunca foi a uma manifestação política mas, se fosse, iria no ato a favor do impeachment. "Não sei se ela [Dilma Rousseff] é corrupta, mas ela não está conseguindo governar". Explica que, apesar de ser a favor do impedimento da presidenta, não vai se manifestar neste domingo, porque trabalha. "Se bem que mesmo que eu não trabalhasse, não iria. Domingo é difícil, né?".Victor MoriyamaA vendedora Maria Assunção Araújo se diz "petista até morrer". Moradora do Grajaú, saiu do Maranhão no ano 2000 e afirma que depois que o PT entrou no Governo sua vida melhorou. "Depois do meu querido Lula, eu viajo de avião todo ano pra minha terra", diz. "Estou injuriada que não deixaram ele assumir o ministério. E a Dilma? Que crime que ela cometeu?". Apesar de ser "totalmente contra" o impeachment, afirma não ir para as ruas se manifestar. "Tenho labirintite e passo mal", explica. "Mas Dilma não tem que sair. Se está ruim com ela, vai ficar muito pior. Seremos escravos do PMDB".Victor Moriyama"Errar na segunda chance não dá", diz José dos Santos, o 'Coquinho', dono de uma banca de jornal em Guaianases, na zona leste de São Paulo. Para ele, se Dilma Rousseff estivesse no início do primeiro mandato, "ainda daria tempo de melhorar". Ele é a favor do impeachment porque acha que a presidenta não está conseguindo governar. "Vamos continuar insistindo no erro?", pergunta. Ele diz que não vai às manifestações porque acha que "não faz diferença". "Você acha que alguém vai sair daqui para protestar de graça? Quem vai, é porque recebe dinheiro para isso", diz. Votou no PT em todas as eleições, mas não vota mais. Nem mesmo se Lula voltar em 2018. "Lula fez muita coisa, a gente gosta dele. Mas a Dilma estragou o trabalho dele".Victor MoriyamaPara Claudenir Maurício Gomes, um dos maiores culpados pela crise política é o próprio PT. "O PT chegou ao poder e não fortaleceu suas bases", diz. Presidenta da Associação de Mulheres do Grajaú, ela diz que a periferia não está organizada, mas que ali na região a maioria é contra o impeachment. "Aqui muita gente é beneficiada por programas sociais", explica. Apesar disso, não vão para as ruas "por falta de informação". Ela acredita que se Dilma cair agora, Lula volta mais fortalecido em 2018. "Michel Temer é um ditador", afirma. "Antes [do Governo PT], era como se a gente morasse em Marsilac (distrito no extremo sul, distante mais de 50 quilômetros do centro da cidade). Agora a gente mora no centro", diz, em analogia à melhora de vida depois do início do Governo petista.Victor MoriyamaNo Mercado Municipal de Guaianases, na zona leste de São Paulo, o vendedor José Francisco de Oliveira, morador do bairro desde 1988, afirma não acreditar no poder das manifestações de rua. "Fica um monte de gente lá e não adianta nada", diz. "Ela [Dilma Rousseff] só sai de lá se eles [os políticos] quiserem". Apesar disso, ele é a favor do impeachment. "Não posso dizer que ela roubou, porque não sei. Mas se estão pedindo o impeachment, é porque alguma coisa ela fez", afirma. Para ele, a administração da petista corrobora para essa insatisfação "geral". "Ela pode ser muito boa na casa dela, mas no Governo não é", diz. Oliveira acha que, independentemente do que acontecer no domingo, o impeachment passando ou não, a vida não deve melhorar tão cedo. "Se alguém chegar lá e disser que tudo vai melhorar, é mentira".Victor MoriyamaEm Guaianases, a vendedora Mayara Souza não defende Dilma Rousseff. Mas teme pelas incertezas que surgirão com uma possível queda do Governo. "Com ela na presidência, a gente ao menos já sabe como é", diz. Ela não vai às manifestações de nenhum dos lados. "Eu trabalho", diz. "Mas se não trabalhasse, também não iria. O povo daqui não vai para manifestação não". Para ela, só vai quem ganha dinheiro para isso. Apesar do ceticismo em relação ao Governo, ela diz não saber se votaria ou não em Lula se ele voltasse em 2018. "Eu realmente não sei", disse.Victor Moriyama