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Facebook proíbe todos os grupos e páginas vinculados à teoria conspiratória QAnon

Medida se aplica também às páginas que não incluam conteúdo violento, pois desde agosto estas comunidades são consideradas um risco público

Adesivo que faz referência ao slogan do QAnon em um trailer de Adairsville, na Geórgia.
Adesivo que faz referência ao slogan do QAnon em um trailer de Adairsville, na Geórgia.ELIJAH NOUVELAGE (Reuters)
Guillermo Vega

O Facebook cede às pressões para acabar com as teorias conspiratórias pró-Trump e anunciou que eliminará todas as páginas do QAnon de sua plataforma. A maior plataforma de redes sociais do mundo informou no final desta terça-feira que havia atualizado suas políticas para proibir páginas e grupos que representem esse movimento, assim como suas contas no Instagram. A plataforma Reddit já tinha proibido o QAnon em 2018. Há cerca de três meses foi a vez do Twitter.

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Apenas dois meses atrás, o Facebook não tinha nenhuma política sobre o QAnon. Há mais de um ano o FBI considera o QAnon e outras teorias conspiratórias marginais como uma ameaça de terrorismo doméstico, por considerar que elas têm o potencial de alentar “grupos e extremistas individuais a realizarem atos criminais ou violentos”. A mudança por parte do Facebook se deve às constantes críticas que a companhia recebeu por agir de forma muito lenta na hora de responder à ameaça representada pelo QAnon e por contribuir, inclusive, para o seu crescimento ao direcionar os usuários para suas páginas e conteúdos, devido ao funcionamento dos seus algoritmos de recomendação.

“No primeiro mês, eliminamos mais de 1.500 páginas e grupos do QAnon que mostravam conteúdo potencialmente relacionado com a violência e mais de 6.500 páginas e grupos vinculados a mais de 300 movimentos sociais militarizados”, informou a companhia em seu comunicado. Esta primeira medida, tomada em agosto, foi criticada na época por ser branda demais.

Mas o Facebook se esforçou desde então em demonstrar sua preocupação com esta teoria conspiratória e sua utilização recorrente do tema da segurança infantil e de hashtags como #savethechildren (“salve as crianças”). Entretanto, a empresa acrescentou que os esforços promovidos até o momento “devem ser fortalecidos quando se trata do QAnon”.

Ocorre que o Facebook é o principal suporte para a propagação de suas ideias. A comunidade do QAnon explodiu no Facebook em 2020 após superar quatro milhões de seguidores e membros em agosto, frente aos três milhões do mês de junho, segundo uma investigação do jornal britânico The Guardian.

Uma história delirante

O QAnon surgiu no final de 2017, quando um usuário chamado Q, apresentando-se como funcionário público federal, publicou um post no fórum de extrema direita 4chan em que alegava ter acesso a informação sigilosa do Governo dos Estados Unidos sobre a suposta detenção de Hillary Clinton. Afirmava existir uma suposta elite pedófila mundial formada, entre outros, por George Soros, pelos Rothschild e por Angela Merkel (que na verdade seria neta de Adolf Hitler). Na malévola rede militariam também destacados políticos do Partido Democrata, atores de Hollywood e inclusive o papa Francisco.

Donald Trump conta com um papel messiânico, dado que é a figura que está tentando acabar com esta trama dedicada a traficar crianças, que são estupradas e assassinadas em cerimônias secretas. O lema do QAnon, “Onde vai um vamos todos”, vem do filme Tormenta (1996), de Ridley Scott. Do mesmo filme procede também outra expressão central: “A calma antes da tempestade”.

Este suposto funcionário federal não era o primeiro a publicar alegadas informações sigilosas no grupo 4chan. Antes dele houve usuários como CIAAnon e FBIAnon. Mas Q, por seu tom críptico e dramático, ou pelas informações que fornecia, de alguma forma recebeu mais atenção.

A base ideológica do QAnon está no tráfico infantil em benefício de um grupo de poderosos que comandam o mundo e a mídia a partir de um escritório secreto (e do qual Donald Trump e um seleto grupo de militares quer nos liberar).

Por isso, a criação do QAnon teve um prólogo ainda mais chamativo, chamado Pizzagate. Durante a campanha eleitoral de 2016, uma operação russa vazou e-mails de John Podesta, chefe de campanha de Hillary Clinton. Muitos se lançaram a analisar as mensagens em busca de chaves ou crimes. E padrões: concluíram que e-mails sobre comida deviam ocultar uma linguagem em código que ocultava terríveis práticas sexuais. Podesta falava de cheese pizza (pizza de queijo), que tem as mesmas iniciais de child pornography (pornografia infantil). E citava também uma pizzaria de Washington, a Comet Ping Pong.

Os adeptos das teorias conspiratórias chegaram à conclusão de que no porão dessa pizzaria alguém comandava um prostíbulo infantil para os ricos e poderosos. Em dezembro daquele ano, um jovem de 28 anos se levantou um domingo em um povoado da Carolina do Norte, percorreu mais de 500 quilômetros até a capital acompanhado de seu fuzil e entrou na Comet Ping Pong, que estava cheia de famílias com crianças. Em vez do esperado prostíbulo encontrou o típico depósito de um restaurante, com latas de tomate e sacos de farinha. Entregou-se após admitir que “a inteligência não era 100% confiável”. Foi condenado a quatro anos de prisão.

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