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Governo Johnson proíbe uso da tecnologia da Huawei a partir de 2027

Empresas britânicas de telecomunicações não poderão comprar material novo do fabricante chinês a partir de 1º de janeiro

O primeiro-ministro Boris Johnson na segunda-feira, 13 de julho.
O primeiro-ministro Boris Johnson na segunda-feira, 13 de julho.POOL (Reuters)
Rafa de Miguel
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Boris Johnson compreendeu finalmente que as soluções salomônicas não servem quando se trata da China. O caso Huawei demonstrou que, no novo cenário internacional, é preciso escolher um lado, independentemente das consequências econômicas da decisão, e o primeiro-ministro teve que dar um giro de 180 graus na sua estratégia. As empresas britânicas de telecomunicações terão que eliminar qualquer participação do gigante tecnológico chinês Huawei nas novas redes 5G a partir de 2027, anunciou nesta terça-feira, na Câmara dos Comuns (deputados), o ministro da Cultura Digital, Oliver Dowden. Junto a essa restrição temporária, o Governo britânico decidiu também proibir a aquisição de novos materiais desta empresa a partir de 1º de janeiro de 2021.

Johnson presidiu a reunião do Conselho de Segurança Nacional em que se discutiu um relatório do Centro Nacional de Segurança Cibernética que questiona a conveniência de que a Huawei participe das novas infraestruturas de comunicação, uma vez conhecidas as sanções impostas em maio à empresa pela Administração de Donald Trump, que limitam a capacidade da companhia de adquirir novos microprocessadores ou software de tecnologia norte-americana.

O relatório serviu a Johnson para sair de uma situação de bloqueio, em que recebia uma dupla pressão ―por um lado, de Washington e de um importante grupo de deputados conservadores para ser mais duro em sua política para a China; de outro, das empresas de telecomunicação britânicas, que enfrentariam prejuízos consideráveis em seus investimentos se fossem obrigadas a substituir a tecnologia da Huawei. A BT e a Vodafone são as duas empresas do Reino Unido mais dependentes do gigante chinês, embora todas as companhias do setor usem seus componentes em maior ou menor grau. Ambas exerceram pressão sobre Downing Street para impedir o veto ou adiar por pelo menos uma década sua entrada definitiva em vigor. A BT já anunciou, depois da primeira decisão restritiva do Governo Johnson, que estimava prejuízos equivalentes a mais de 3,3 bilhões de reais, que serão ampliados com a nova medida. “É uma questão de tempo e equilíbrio. Se se quiser que a Huawei desapareça de todas as infraestruturas de comunicação do Reino Unido, é impossível fazê-lo em menos de 10 anos”, disse à BBC o diretor-executivo da companhia, Philip Jansen. “Infelizmente, nosso futuro no Reino Unido se viu politizado. Tudo isto tem a ver com a política comercial dos Estados Unidos e não com a segurança”, afirmou um porta-voz da empresa tecnológica chinesa. A notícia representou um triunfo para Washington, que não deixou de pressionar Downing Street nos últimos meses para que agisse com mais dureza contra a Huawei.

Em uma primeira decisão, no começo deste ano, Downing Street impôs uma limitação de 35% à participação da Huawei no desenvolvimento da nova tecnologia 5G, além de impedir o acesso do material da companhia aos núcleos estratégicos da nova rede. Segundo o Governo britânico, o gigante tecnológico estava qualificado como “fornecedor de alto risco” e, portanto, deveria enfrentar condições duras no seu acesso ao mercado britânico. O argumento não convenceu os deputados conservadores liderados por Ian Duncan Smith, ex-líder dos tories e uma das vozes mais poderosas na exigência de endurecer a atitude contra a China. Temiam, sobretudo, que o assunto ―a caminho de se tornar o novo Brexit a dividir internamente o partido― se arrastasse até as próximas eleições gerais, em 2024.

Este grupo de “rebeldes” já lançou uma primeira advertência a Johnson em março passado, quando 38 deles votaram contra uma moção parlamentar do Governo para fazer constar sua oposição à entrada da Huawei nas infraestruturas britânicas de comunicação. E nas últimas horas deixaram claro que continuarão travando uma batalha na Câmara dos Comuns, quando iniciar a tramitação da nova lei de telecomunicações. Afirmam somar 60 deputados e pretendem utilizá-los, advertem, para reduzir ainda mais o prazo estabelecido para que desapareça totalmente a participação da empresa chinesa. Exigem que seus componentes já sejam utilizados no Reino Unido a partir de 2023, e que se force também a substituição imediata de sua tecnologia nas redes 3G e 4G. O Governo considerou suficientemente seguras estas últimas, permitindo que continuem em funcionamento.

Dowden reconheceu que a decisão do Governo representará um atraso de dois a três anos no desenvolvimento nacional da nova rede 5G e um custo adicional superior a 18 bilhões de reais, mas garantiu que o Governo colocará a segurança acima da eficácia. As companhias de telecomunicações deverão planejar a substituição de torres de comunicação e do material já instalado pela Huawei, além de começar a buscar alternativas a todos os componentes fornecidos por essa empresa e que fazem parte das atuais redes 3G e 4G, para quando chegar o momento de renová-las. O ministro, entretanto, confia em que a nova tecnologia 5G substitua rapidamente as infraestruturas atuais e torne sua manutenção obsoleta.

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