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Júri popular considera três grandes redes de farmácias responsáveis ​​pela crise de opioides nos EUA

É a primeira vez que o segmento varejista do setor é destacado por seu papel em uma epidemia que já matou meio milhão de pessoas em duas décadas

María Antonia Sánchez-Vallejo
Crisis de opioides cadenas de farmacias, presentes en todo el territorio de EE UU.
Logotipos das três principais redes de farmácias, que estão presentes em todos os Estados Unidos.REUTERS PHOTOGRAPHERS (Reuters)

A grande epidemia de opioides, a crise de saúde pública mais séria nos Estados Unidos, entre a AIDS e a covid-19, continua a gerar manchetes. Não apenas como efeito colateral indesejado da pandemia, mas também por conta de uma decisão, divulgada nesta terça-feira, que responsabiliza as grandes redes de farmácias CVS, Walgreens e Walmart por perpetuar a crise, conforme noticia o jornal The New York Times. Um júri federal em Cleveland decidiu que as três empresas listadas, que estão entre as maiores redes de farmácias do país, contribuíram substancialmente para a crise de overdoses e mortes por opioides em dois condados de Ohio.

Depois da distribuição e assunção de culpas entre as grandes farmacêuticas, lideradas pela Purdue Pharma, é a primeira vez que o segmento varejista da indústria é responsabilizado por uma epidemia que dura mais de duas décadas e em que as estimativas apontam a morte de meio milhão de norte-americanos. Só de abril de 2020 a abril de 2021, as overdoses custaram a vida a 100.000 norte-americanos. Os óbitos por essa causa, em muitos casos devido ao consumo do potente fentanil, aumentaram 28,5% em relação ao mesmo período de 2019-2020.

A decisão de Cleveland gerou polêmica. Este é o primeiro veredito alcançado por um júri popular em um caso de opiáceos. E foi baseado em um argumento legal importante rejeitado por juízes em casos anteriores na Califórnia e em Oklahoma, disse o jornal. Os demandantes de Ohio argumentaram que as empresas de distribuição farmacêutica instigaram ou, pelo menos, ignoraram deliberadamente o excesso de oferta e a prescrição em massa de opioides, comprometendo a saúde e a segurança públicas. O tribunal de primeira instância de Cleveland determinará o valor da compensação que cada empresa deve pagar a ambas as administrações.

A decisão é animadora para os milhares de processos ainda pendentes no país que se baseiam na mesma estratégia jurídica utilizada neste caso, ou seja, que as empresas farmacêuticas contribuíram para “prejuízo ou dano público”, termo que, segundo os autores das denúncias, definem a grave crise de saúde pública causada pelos opioides. As decisões da Califórnia e de Oklahoma estabeleceram que entre as mortes e a venda de drogas —especialmente analgésicos potentes derivados do ópio sintético, como a oxicodona, que são altamente viciantes— existe um trecho que exclui qualquer relação direta de causa e efeito.

A decisão representa um golpe para as redes de distribuição e principalmente para a gigante CVS, que, a partir da próxima primavera, e nos próximos anos, planeja fechar 900 de seus estabelecimentos em todo o país, após constatar uma mudança de hábitos no comportamento do consumidor. O norte-americano está cada vez mais inclinado a comprar online depois que gigantes como a Amazon anunciaram, há um ano, uma grande farmácia online.

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