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Lava do cone principal do vulcão de La Palma transborda e engole campo de futebol

Os mantos de lava fluida ampliam a destruição, devastando também um supermercado nas áreas evacuadas e cobrindo 674,5 hectares da ilha

Guillermo Vega
Los Llanos de Aridane (La Palma) -

Não há trégua em La Palma. Passados 25 dias de sua erupção, o vulcão de Cumbre Vieja mantém seu vigor destrutivo e não para de expelir lava. E é tanta que às 14h15 desta quinta-feira (horário local) o magma que surge do interior da terra ultrapassou a capacidade do cone principal e transbordou, segundo imagens divulgadas no Twitter pelo Instituto Vulcanológico das Ilhas Canárias (Involcan). “É uma ocorrência comum pelas flutuações do fluxo de lava no cone principal. Nada preocupante por enquanto”, asseguram fontes da Involcan. “O normal”, complementam fontes do Instituto Geográfico Nacional (IGN), “é que acabem se reinserindo na lava principal”.

A atividade vulcânica afetou nas últimas horas os moradores de La Laguna, o bairro do município de Los Llanos de Aridane que foi esvaziado em três operações sucessivas desde a manhã do dia 12 até esta quinta-feira. A principal remoção ocorreu no dia 12. Nessa terça-feira as autoridades obrigaram cerca de 800 pessoas do centro de La Laguna a sair devido à proximidade da lava. Um dia depois, na noite de quarta, foi decretada a evacuação de outro bairro localizado mais a leste, medida que abrangeu cerca de 100 pessoas cadastradas, segundo os últimos dados. E apenas 12 horas depois, na manhã desta quinta-feira, foi decretado o esvaziamento de mais superfície, desta vez a oeste, até a divisa do município de Tazacorte, onde vivem cerca de 300 pessoas.

No entanto, como assinalou o porta-voz do Comitê Diretor do Plano de Emergência Vulcânica das Canárias (Pevolca), Miguel Ángel Morcuende, muitos desses moradores já haviam abandonado as suas casas dias antes. No total, em apenas dois dias, cerca de 1.200 residentes deixaram suas residências, elevando o número total de deslocados para perto de 7.000. Destes, apenas 283 solicitaram as acomodações que o Governo das Canárias providenciou num hotel em Fuencaliente (sul da ilha).

A lava continua o seu caminho imprevisível e destrutivo, depois de devastar 674,5 hectares de terra, 34,2 mais do que no dia anterior. “É o que acontece com todos os fluxos de lava”, declarou o próprio Morcuende em entrevista coletiva, “que sempre nos surpreendem com seu comportamento”.

A sua trajetória, de fato, é um reflexo fiel de um comportamento guiado tanto pelas nuances do relevo como pelas modificações no cone vulcânico, que criam centros de emissão inesperados onde antes só havia uma montanha de bagacina. Há um fluxo de lava, que o Pevolca qualifica de primeva. Atualmente essa lava está estancada. Esta língua topou com a Montanha de Todoque durante a primeira semana após a erupção e virou para o sul. Este avanço acabou chegando ao mar e formando o delta lávico, que hoje mede cerca de 34 hectares e cujo crescimento parou. Com o passar dos dias, no entanto, surgiu outro braço apenas duzentos metros mais ao sul.

O magma que o formou também seguiu ladeira abaixo, arrasando plantações de banana, e interrompeu seu curso a cerca de 100 metros do mar. Este braço também acabaria rodeando a Montanha de Todoque ao norte, engolfando tudo o que encontra pelo caminho.

Sobre essa lava primeva corre outra que também se move na direção oeste-noroeste. Este manto, por sua vez, se dividiu em dois apêndices: o primeiro que até esta quarta-feira apresentava “alta intensidade e longo percurso” e que ao longo da noite destruiu o edifício em que operava um supermercado da rede Spar.

A noroeste deste fluxo está o outro braço de lava. Foi este que cruzou o polígono do Callejón de la Gata, continuou a descer o morro na tarde desta quarta e na manhã desta quinta-feira atravessou o campo de futebol do bairro. “Esta língua é o motivo que nos levou a evacuar toda La Laguna em bloco” explicou Morcuende.

Um caminhão da unidade de emergências se afasta da lava no bairro de La Laguna (Los Llanos de Aridane), em La Palma.
Um caminhão da unidade de emergências se afasta da lava no bairro de La Laguna (Los Llanos de Aridane), em La Palma. SERGIO PEREZ (Reuters)

O supermercado e o campo de futebol são as últimas perdas de uma lista já longa: 1.634 edificações afetadas pela erupção, das quais 1.548 ficaram totalmente destruídas. A estes números se somam mais 179,3 hectares de cultivo engolfados. Destes, mais da metade (92,9 hectares) são de bananeiras. A boa notícia é que, segundo Pevolca, essas duas últimas frentes “estão perdendo a capacidade de se locomover no território” por causa da crescente viscosidade e da grande quantidade de materiais que estão arrastando.

Durante a última noite, a ilha registrou mais de cinquenta terremotos, um deles de magnitude 4,5. Este último foi o maior desde o início da erupção. O sismo, segundo relatou o Instituto Geográfico Nacional, ocorreu a uma profundidade de 37 quilômetros, por volta de 1h30 da manhã. Os abalos, no entanto, continuam em grandes profundidades (mais de 20 quilômetros) e, em princípio, não representam risco maior.

O terreno, ao contrário dos dias anteriores, se encontra ligeiramente deformado na localidade de Las Manchas, já evacuada, a pouco mais de um quilómetro em linha reta do cone vulcânico. A porta-voz do Comitê Científico, María José Blanco, esclareceu que esta deformação pode ameaçar o trabalho das forças de segurança e dos cientistas que atuam na área, embora não represente grandes perigos para a população em geral.

A qualidade do ar tem sido boa nos últimos dias graças aos ventos que permitem a dissipação e a ausência de inversão térmica. A partir de sexta-feira, no entanto, as condições devem mudar por causa da alta pressão atmosférica e ao influxo de ar do leste. Este evento, sim, vai facilitar as operações no aeroporto da ilha.

Campanha de dinamização da economia

O Governo das Canárias anunciou nesta quinta-feira que trabalha num “plano de choque” para reativar o consumo e o comércio na ilha de La Palma. Este programa tem, a curto prazo, um orçamento de 165.000 euros (1,05 milhão de reais) que serão investidos numa campanha de incentivo e dinamização do consumo sob o lema #ConsumeLaPalma. Tanto o porta-voz Miguel Ángel Morcuende como o presidente do Governo de La Palma, Mariano Hernández Zapata, insistiram em suas declarações que a ilha é um “destino seguro” para os visitantes e que seus produtos agrícolas e pesqueiros são perfeitamente adequados ao consumo comercial.

Aulas serão retomadas na segunda-feira em Los Llanos de Aridane, El Paso e Tazacorte.

O Ministério da Educação, Universidades, Cultura e Esporte do Governo das Ilhas Canárias anunciou que na próxima segunda-feira, dia 18 de outubro, as aulas serão retomadas nas instituições educacionais dos municípios de Palma de Los Llanos de Aridane, El Paso e Tazacorte. Assim, um total de 4.606 alunos e 583 professores de várias unidades voltarão às classes na próxima semana.

A conselheira Manuela Armas explicou que em caso de eventuais circunstâncias derivadas da atividade vulcânica que possam interromper a atividade docente, “as instituições educacionais vão ativar os mecanismos necessários para garantir o ensino não presencial, ou seja, online”.

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