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A pandemia causa a maior queda na expectativa de vida nos países ocidentais desde a Segunda Guerra Mundial

Estudo da Universidade de Oxford publicado nesta semana levou em conta dados de 29 países da América e Europa. Entre os analisados, quem mais sofre com a pandemia nesses termos são os EUA

Divorcio en mayores
Homem idoso caminha pelo Parque Caramuel, no bairro Puerta del Ángel, em Madri, em 5 de junho.Olmo Calvo
Emilio Sánchez Hidalgo

Em 2019, uma espanhola vivia em média 86 anos e seis meses. Em 2020, houve uma diminuição de um ano e meio. A queda é ainda maior nos Estados Unidos (um ano e oito meses) e semelhante à da Lituânia (15 meses). Esses são alguns dos 29 países cuja queda na expectativa de vida por causa do coronavírus foi analisada pela Universidade Oxford em estudo publicado nesta segunda-feira. A principal conclusão é catastrófica: a crise da saúde levou à maior contração da expectativa de vida nos países ocidentais desde a Segunda Guerra Mundial. A Espanha está entre os mais afetados nesse índice. É o segundo país em que as mulheres perderam mais meses de vida e o quinto entre os homens.

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O estudo Quantificação dos impactos da pandemia de covid-19 por meio da perda de expectativa de vida: um estudo com população de 29 países compara dados dos Estados Unidos, Chile e da maioria dos países europeus. Analisa a expectativa de vida de cada país, ou seja, a idade média de todas as pessoas que morreram em um determinado período. Nesse caso, ao longo de 2020, ano em que começou a pandemia. “O fato de que nossos resultados demonstram um impacto tão grande diretamente atribuível à pandemia mostra o quão devastadora a covid-19 tem sido para muitos países”, disse à Reuters Ridhi Kashyap, coautor do estudo publicado no Journal of Epidemiology. “A magnitude das perdas observadas em 2020 não era vista desde a Segunda Guerra em muitos países da Europa Ocidental, como Espanha, Inglaterra e País de Gales, Itália, Bélgica, França, Holanda, Suécia, Suíça e Portugal, com dados disponíveis para o século XX”, explica o estudo da Universidade Oxford.

Entre os países analisados, quem mais sofre com a pandemia em termos de expectativa de vida são os Estados Unidos. Entre os homens, esse índice caiu em 2020 para 74 anos e meio (dois anos e três meses a menos que em 2019) e entre as mulheres, para 80 anos (um ano e oito meses a menos). Precisamente os Estados Unidos —cuja expectativa de vida está entre as mais baixas dos 29 analisados— são o país que mais registra mortes desde o início da pandemia (quase 700.000).

Nos Estados Unidos, a queda na expectativa de vida foi muito mais pronunciada entre os homens do que entre as mulheres, cerca de sete meses. Esse padrão se repete, embora não tão pronunciado, na maioria dos países analisados. Vários estudos mostraram que os homens são mais sensíveis às piores consequências do vírus. Uma das exceções é a Espanha, onde a análise da Universidade Oxford mostra que a expectativa de vida caiu um pouco mais para as mulheres do que para os homens.

Assim, depois dos Estados Unidos, o país em que a expectativa de vida das mulheres mais diminuiu foi a Espanha (de 86 e meio em 2019 para 85 em 2020), seguida da Lituânia e da Bulgária. Entre os homens, a Espanha é o quinto mais afetado, com queda de um ano e meio (de 81 anos em 2019 para pouco mais de 79 e sete meses em 2020), superada pelos Estados Unidos, Lituânia, Bulgária e Polônia.

A queda da expectativa de vida na Espanha, reduzida aos níveis de 2012, é a maior registrada na série histórica do Instituto Nacional de Estatística, que se inicia em 1975, um conjunto de dados que crescia cada vez mais quase ininterruptamente até 2020.

Espanha, na vanguarda da queda do índice entre as mulheres

Apesar desses dados, a Espanha é o país com maior expectativa de vida entre as mulheres entre os 29 analisados pela Universidade Oxford. No entanto, a liderança sofreu durante a pandemia: em 2019 as espanholas estavam 11 meses à frente das suíças, mas a diferença foi reduzida para apenas duas semanas. Entre os homens, porém, a Espanha cai para o sétimo lugar, superada pela Noruega, Suíça e Islândia. Em 2019 estava em sexto lugar. Em nível mundial, de acordo com os números do Our World in Data em 2019, a Espanha é um dos países com maior esperança de vida do mundo, só superado por Mônaco, San Marino, Hong Kong, Japão, Macau, Ilhas Cayman, Suíça, Andorra e Cingapura.

Esta análise da Universidade Oxford é limitada para compreender o efeito da pandemia na expectativa de vida no mundo. Não inclui dados do Brasil, o segundo país mais afetado pelo coronavírus (cerca de 600.000 mortes), nem da Índia (450.000), o terceiro. No total, de acordo com a Universidade Johns Hopkins, 4,7 milhões de pessoas morreram de covid-19 desde o início da crise. Na Espanha, mais de 86.000 pessoas morreram por coronavírus, de acordo com o Ministério da Saúde —esse cálculo não inclui milhares de mortes sem um teste diagnóstico no início da pandemia.

É possível que a expectativa de vida continue a piorar em nível mundial assim que forem conhecidos os dados de 2021. Apesar de as vacinas terem melhorado substancialmente a situação (especialmente nos países ricos, com maior cobertura vacinal), ao longo deste ano houve muito mais mortes (2,88 milhões) do que em 2020 (1,88).

Diego Ramiro, diretor do Instituto de Economia, Geografia e Demografia do Conselho Superior de Pesquisas Científicas (CSIC), acredita que, embora muitas pessoas tenham morrido de coronavírus na Espanha ao longo de 2021, o golpe na expectativa de vida não será tão severo quanto em 2020. Ele considera que “o normal” é que em breve a expectativa de vida volte aos níveis de 2019, mas “isso vai depender dos efeitos colaterais que a covid-19 deixar, o que pode levar a um aumento mais lento da expectativa de vida”. “A Espanha sofreu a pior parte da pandemia no início de 2020, durante a primeira onda. Por isso a expectativa de vida baixou tanto. Países que sofreram mais na segunda metade de 2020 ou início de 2021, e com maior rejeição às vacinas, ainda podem registrar quedas significativas”, acrescenta Ramiro.

Diferenças de idade

O estudo da Universidade Oxford não diferencia apenas por sexo. Também estima como a mortalidade em cada faixa etária afetou a variação da expectativa de vida em cada país. O vírus foi mais letal principalmente nos maiores de 80 anos. Na Espanha, considerando o ano e seis meses de redução na expectativa de vida das mulheres, independentemente da idade, um ano corresponde à mortalidade no grupo das maiores de 80, mais de cinco meses para a faixa de 60 a 80 e cerca de um mês para as com menos de 60.

Entre os homens, a queda de um ano e cinco meses se distribui de forma mais uniforme nos idosos: oito meses nas pessoas com mais de 80 anos, outros oito nas pessoas entre 60 e 80 anos e um mês nos menores de 60 anos.

Esses dados não são substancialmente diferentes no restante dos países europeus, mas a diferença em relação aos Estados Unidos é impressionante. Entre os homens, a expectativa de vida —que caiu um ano e oito meses— piorou mais pela mortalidade entre os menores de 60 anos (um ano) do que entre os maiores de 80 (seis meses).

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