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Pandemia adia igualdade de gênero por mais uma geração

Fórum Econômico Mundial calcula que o tempo necessário para alcançar a paridade passou de 99,5 para 135,6 anos nos últimos 12 meses. O Brasil ocupa a 93ª colocação entre 156 países

Manifestação feminista em 8 de março deste ano, em Barcelona.
Manifestação feminista em 8 de março deste ano, em Barcelona.Alejandro García (EFE)
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A ansiada paridade entre os gêneros vai demorar uma geração a mais. Ao longo do último ano, a pandemia acrescentou 36 anos ao tempo necessário para reduzir a disparidade entre homens e mulheres, que passou que 99,5 para 135,6 anos. É o que conclui o Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês) no seu relatório anual sobre a disparidade de gênero, atribuindo essa deterioração à menor representação política das mulheres nas grandes economias e ao estancamento dos avanços econômicos, por causa da necessidade de oferecer cuidados familiares e porque as mulheres trabalham nos setores mais afetados pelo confinamento.

Os avanços em direção à paridade estancaram em muitas grandes economias e setores, e isso pesou no cômputo global do progresso. Embora haja cada vez mais mulheres em trabalhos qualificados, as disparidades de renda persistem e ainda há pouquíssimas mulheres em cargos de direção. Tanto é que a paridade econômica, neste ritmo, só será alcançada dentro de 267,6 anos. Também pesou o retrocesso na participação política das mulheres nos países analisados, onde ocupam apenas 26,1% da representação parlamentar e 22,6% dos ministérios. Eliminar essa lacuna levará 145,5 anos, cerca de 50% a mais do que os 95 anos previstos em 2020.

O WEF ―organização que realiza anualmente um encontro com personalidades da economia global na localidade suíça de Davos― não hesita em afirmar que a pandemia teve um impacto mais negativo para as mulheres do que para os homens, começando pelo desemprego, que, segundo a Organização Internacional do Trabalho, afetou 5% das mulheres, contra 3,9% dos homens. Isso se deve em boa medida à desproporcional presença feminina em setores afetados diretamente pelo confinamento, como o consumo. No caso dos Estados Unidos, recorda a organização, as mais afetadas foram as mulheres de grupos étnicos e raciais em posições desfavorecidas.

Além disso, a pandemia, o teletrabalho e o confinamento decretados pelas autoridades para enfrentar a covid-19 fizeram recair majoritariamente sobre as mulheres as tarefas domésticas e os cuidado com crianças e idosos, “o que aumentou seus níveis de estresse e reduziu seus níveis de produtividade”. A recuperação, entretanto, não dá prioridade às mulheres. Segundo dados do LinkedIn citados pelo WEF, a contratação de mulheres está ocorrendo em um ritmo menor em muitos setores, e elas não costumam ser as candidatas preferidas para disputar cargos de direção, “o que está provocando um retrocesso após dois anos de avanços”, diz o relatório, que chega nesta ano à sua 15ª edição.

O relatório analisa a paridade em quatro áreas: participação econômica, educação, saúde e poder político. Em educação e saúde, a disparidade já foi quase eliminada, mas os avanços rumo à paridade total estancaram no último ano.

“A pandemia afetou a igualdade de gênero tanto no local de trabalho como no lar, dando marcha a ré em anos de progresso. Se quisermos uma economia dinâmica no futuro, é vital que as mulheres estejam representadas nos empregos de amanhã. Agora mais que nunca é crucial centrar-se na liderança feminina, comprometer-se com objetivos e mobilizar recursos para alcançá-lo. É o momento de incluir a paridade de gênero no desenho da recuperação”, afirma Saadia Zahidi, diretora-gerente do WEF.

Islândia segue à frente

Há 12 anos, a Islândia lidera a lista de países com maior igualdade entre homens e mulheres em termos gerais, seguida por Finlândia, Noruega, Nova Zelândia e Suécia. Os maiores avanços, entretanto, foram vistos na Lituânia, Sérvia, Timor Leste, Togo e Emirados Árabes Unidos.

O Brasil ocupa a 93ª colocação entre 156 países que integram a lista, e caiu uma posição em relação ao ano anterior. A má posição se explica, entre outras coisas, pela baixa representatividade feminina no parlamento ou em ministérios do Executivo, com menos de 15% desses assentos e postos ocupados por mulheres ―percentual similar ao de países como Belize, Bahamas e Paraguai.

As desiguldades de gênero no Brasil também persistem em termos de participação e oportunidade, diz o estudo, com “apenas 66,5% da lacuna [entre homens e mulheres] reduzida, uma ligeira melhoria em relação à edição anterior”. “Essas lacunas manifestam-se principalmente em termos de salários e rendimentos. Até esta data, 54,2% da desigualdade salarial e 56,7% da diferença de renda foram reduzidas”, segundo o relatório.

O WEF chama a atenção de que em 81 países nunca uma mulher ocupou a máxima posição política, como presidenta ou primeira-ministra, e isso inclui países considerados relativamente progressistas em relação à paridade, como Suécia, Espanha, Países Baixos e Estados Unidos.

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