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Acordo entre Doria e China para vacina da covid-19 não garante produção em massa no Brasil

Em entrevista ao 'Estadão', o presidente do Instituto Butantan afirma que os estudos do imunizante precisam avançar e que contrato com a Sinovac Biotech deve ganhar termos aditivos

João Doria no Instituto Butantan
O governador João Doria visita o Instituto Butantan e assina acordo para testes de vacinas, no dia 10 de junho.Sergio Andrade (Governo de S. Paulo)
Felipe Betim

Ao contrário do que anunciou o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), o acordo do Instituto Butatan com o laboratório chinês Sinovac Biotech para a realização do estudo clínico de uma possível vacina contra o coronavírus não garante que a instituição produza o imunizante em larga escala para todo o Brasil. De acordo com uma reportagem do jornal Estado de S. Paulo, que entrevistou o presidente da entidade, Dimas Covas, as partes envolvidas ainda devem assinar termos aditivos conforme as etapas sejam superadas. “O acordo inicial é que o Butantã seja responsável pela produção de vacinas, mas é lógico que isso [produção] não está contratada ainda”, disse Covas.

A assinatura do contrato, anunciada em 11 de junho, foi bastante celebrada pelas autoridades do Estado de São Paulo, epicentro da pandemia no Brasil. Até esta quinta-feira, 17 de junho, foram registradas 11.521 mortes por covid-19, sendo que 389 óbitos foram confirmados nas últimas 24 horas, novo recorde pelo segundo dia seguido. O total de infectados registrados ficou em 191.517. Apesar de os números continuarem crescendo, o Governo Doria já apresentou um plano para a retomada gradual das atividades econômicas.

Uma semana antes, Doria afirmou que o Instituto Butatan estaria apto a fazer a produção em larga escala para todo o Brasil até meados do ano que vem. “O acordo prevê a participação de São Paulo na realização de testes clínicos da vacina (...). Comprovada a eficácia e a segurança da vacina, o Instituto Butatan terá o domínio da tecnologia e a vacina poderá ser produzida em larga escala no Brasil pelo próprio Butatan para o fornecimento ao SUS de forma gratuita até junho de 2021″, afirmou.

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Mas não é bem assim. De acordo com Dimas Covas, que prevê um investimento de 85 milhões de reais para o estudo clínico da vacina, a produção em larga escala pelo Butantan ainda não está especificada no contrato e será avaliada com o tempo. “Você não vai contratar uma coisa que ainda está em desenvolvimento. O acordo tem ‘se’, tem fases. Se essa fase for bem-sucedida, vou para a próxima fase. São os ‘ses’ que envolvem essa parceria”, afirmou o presidente da instituição ao Estadão. O jornal tentou sem sucesso obter uma cópia do contrato, que permanece sob sigilo. O EL PAÍS entrou em contato com o Butatan para esclarecer os termos do acordo, mas até o fechamento desta edição não obteve resposta.

Ainda que a parceria “Butantan-Sinovac” esteja no rótulo da futura vacina, Covas afirmou que o SUS poderá importar o imunizante feito na China ao menos “num primeiro momento”, enquanto as fábricas em solo nacional não estão em operação. Apesar de já conhecer a tecnologia que será empregada na nova vacina e de possuir instalações para sua produção, o Butatan ainda não possui fábricas suficientes para a produção em larga escala. “O Butantã vai fazer o estudo clínico e ele tem acesso a essas vacinas, produzidas na China. Em um segundo momento, o Butantã vai discutir a tecnologia para a produção em larga escala. Aí, em um terceiro momento, e aí a vacina vai ter de estar adiantada, você fala: vou investir de fato em uma fábrica”, explicou o presidente da instituição. O investimento para a produção nacional deverá estar atrelado tanto à eficácia da vacina como à disponibilidade das doses importadas.

O contrato prevê “desenvolvimento clínico, transferência de tecnologia e produção” da vacina, mas termos aditivos entre as duas partes ainda deverão ser assinados a cada nova etapa, explicou Covas. Comprovada a sua eficácia, ainda será preciso saber qual será a demanda pelo novo imunizante até o ano que vem. “Não se sabe se essa vacina será necessária no futuro. O risco é enorme, você não sabe. Você está fazendo uma parte agora, lá na frente você não sabe qual vai ser a real necessidade dessa vacina. O vírus pode não circular mais, como aconteceu com SARS”, afirmou o médico.

De todas as formas, Covas ressalta que o estudo clínico da vacina, que envolverá 9.000 voluntários já a partir de julho, é o principal ponto do acordo assinado. “Eu não pago royalties. O Butantã é sócio dos chineses. O Butantã é dono do estudo clínico. O sucesso da vacina está no que nós estamos fazendo. A vacina da Sinovac, sem o estudo clínico, ela vai poder ser usada na China. Não vai poder ser usada aqui no Brasil”, argumentou ao Estadão.

Ocupação de leitos e permissão para treinos de futebol

Na coletiva de imprensa desta quinta-feira, o secretário da Saúde José Henrique Germann ainda afirmou que a taxa de ocupação de leitos de UTI está em 70,6% em todo o Estado e 77,1% na Grande São Paulo. Em números absolutos, 5.257 pacientes estão internados em leitos de UTI e 8.423 em leitos de enfermaria com suspeita ou confirmação de covid-19.

De acordo com Carlos Carvalho, coordenador do comitê de saúde, nos últimos 15 dias a taxa de ocupação na Grande São Paulo não passou de 80%. “Viemos monitorando o número de leitos e a expansão dos casos respiratórios. À medida que foi aumentando a demanda, foram fornecidos respiradores e leitos”, afirmou. Por sua vez, a secretária de Desenvolvimento Econômico, Patricia Ellen, afirmou que o número total de óbitos está dentro do esperado e que até o fim do mês está previsto um total de entre 15.000 e 18.000 mortes por coronavírus. Ela afirma que as previsões foram revisadas para baixo e que a taxa de letalidade está caminhando para a estabilização.

Doria aproveitou a ocasião para anunciar a autorização do Governo para que os clubes paulistas voltem a treinar. Haverá protocolos de cuidado obrigatórios, como testes regulares dos jogadores e comissão técnica, limitação do número de pessoas nos CTs, a não presença de torcida, uso de máscara e medição de temperatura.

De acordo com Carvalho, as equipes médicas dos clubes de futebol apresentaram um plano detalhado para o comitê de saúde, o que facilitou a decisão do governo estadual. Ele explicou ainda que vários setores da economia, como bares e salões de beleza, vêm solicitando a retomada das atividades. Esses pedidos estão sendo analisados por relatores designados para cada área. “As áreas de salões de beleza, restaurantes, feiras, eventos, clubes sociais, outras atividades esportivas, estão sendo estudadas por relatores dentro do comitê de saúde para que, na sexta-feira, sejam apresentadas as normas que sugerimos”, afirmou.

Carvalho ainda afirmou que a volta dos jogos de futebol do Paulistão só deve começar a ser discutida em agosto. Além disso, cidades paulistas que estiverem na fase vermelha do Plano São Paulo não poderão retomar as atividades de futebol.

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