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América Latina corre para se preparar antes do pico da pandemia

Brasil e México se aproximam do pior momento com escassez de recursos e medidas controvertidas após ver como foram atingidos Ásia, Europa e Estados Unidos

Trabalhadores preparam um hospital de emergência em Monterrey,
Trabalhadores preparam um hospital de emergência em Monterrey,Héctor Guerrero
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GRAF9071 MADRID 11/04/2020.- Cuidadores atienden a los ancianos alojados en la residencia Casablanca, en el barrio madrileño de Villaverde, este sábado. Se va a proceder a la desinfección de las instalaciones para evitar la propagación del coronavirus. EFE/Mariscal
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Vatican City (Vatican City State (holy See)), 12/04/2020.- A handout picture provided by the Vatican Media shows Pope Francis leads the Easter Mass in St. Peter's Basilica with no public participation due to the outbreak of the coronavirus disease (COVID-19), at the Vatican, 12 April 2020. The mass is held behind closed doors during the lockdown aimed at curbing the spread of the COVID-19 infection, caused by the novel coronavirus. (Papa) EFE/EPA/VATICAN MEDIA / HANDOUT HANDOUT EDITORIAL USE ONLY/NO SALES
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A América Latina viu como a pandemia do coronavírus se propaga por todo o mundo. Como vantagem, viu como a doença e sua gestão evoluíam na Ásia, na Europa e nos Estados Unidos, mas com o passar dos dias se comprova que não foi suficiente para se preparar adequadamente. A maioria dos países da região, especialmente os dois gigantes, Brasil e México, correm para se mobilizar para tentar comprar respiradores e material de proteção para os profissionais de saúde, cujas denúncias começam a se multiplicar e evidenciam as carências de sistemas de saúde já por si frágeis. A alta demanda que todos os países enfrentam e a escassez de recursos econômicos, em alguns casos, colocam em xeque a capacidade de resposta ao pico da epidemia, que deve ocorrer nas próximas semanas.

No Brasil, o Governo anunciou a fabricação e compra de 6.500 respiradores a um consórcio de fabricantes nacionais, mas a entrega demorará semanas ou meses. Cada vez mais brasileiros desobedecem a recomendação de ficar em casa para deter os contágios do coronavírus como mostram os dados de São Paulo, a megalópole epicentro da pandemia no Brasil. Nesta semana somente a metade de seus milhões de habitantes se manteve confinada frente aos 60% das semanas anteriores, o que ainda está distante dos 70% que os especialistas sanitários consideram necessário para que os casos não disparem e colapsem os hospitais. Ainda que os números de mortos e novos casos sejam maiores a cada dia ―1.124 mortos e 20.727 contágios até este sábado em todo o país― as medidas de isolamento social não estão sendo feitas.

O Brasil também enfrenta um notável déficit de análises ―só fez 63.000 testes, dos quais 13.000 deram positivo―, de equipamentos de proteção porque precisa importá-los e as dificuldades inerentes a um país de 210 milhões de habitantes em um território vastíssimo em que o Estado sequer chega a todos os locais em circunstâncias normais. O Amazonas alertou que suas UTIs estão prestes a colapsar e nas favelas do Rio algumas pessoas já morreram.

As escolas estão fechadas há três semanas em São Paulo, o comércio e os museus também, mas a imensa rede de metrô continua aberta, os restaurantes servem refeições para levar e quem quis pôde ir no feriado às cidades do litoral. O governador paulista, João Dória, alertou que esse final de semana de Páscoa é um teste. Se a população não levar a ameaça a sério e se isolar, imporá multas e até prisão. A equipe de Dória estima que, com um isolamento rígido, os mortos no Estado podem ser 110.000; sem nenhuma medida, chegariam a 270.000.

No Brasil, a cacofonia das autoridades é um pesado estorvo no momento de enfrentar a pandemia. O presidente, Jair Bolsonaro, continua insistindo que a população quer voltar ao trabalho na rua enquanto os governadores tentam, com maior ou menor empenho, que a população siga as recomendações da OMS e do Ministério da Saúde para que a estrutura sanitária se prepare para o pico da doença. Também não há unanimidade aqui sobre a conveniência ou de não de utilizar a polêmica cloroquina, que Bolsonaro defende com entusiasmo desde o começo da crise. O mandatário anunciou que no final de semana chegará da Índia um carregamento de matéria prima para produzir hidroxicloroquina localmente.

No México, a segunda economia da região, o panorama não é nada animador, prestes a encarar a fase mais complexa. O presidente, Andrés Manuel López Obrador, tentou transmitir uma sensação de tranquilidade, quando não minimizar, o impacto da pandemia. O Governo, até essa semana, evitou aplicar medidas de confinamento rígidas à população para tentar mitigar os danos econômicos. Concretamente, avançou na paralisação da atividade econômica do país; na prática, não está sendo simples conter milhões de pessoas em casa: mais da metade do país precisa sair todos os dias para conseguir seu sustento.

No plano sanitário, o giro foi radical nos últimos dias. Poucos dias depois de o porta-voz do Governo ao combate à pandemia, Hugo López-Gatell, defender que os testes não eram tão relevantes para evitar a propagação do vírus, a Administração voltou atrás, diante da pressão dos governadores e dos hospitais, e aprovou a distribuição de 300.000 testes, quase cinco além do estimado no começo durante a fase 2. O país norte-americano adquiriu os testes na Europa, basicamente com a Alemanha; China e Estados Unidos. Do gigante asiático em uma semana chegaram dois aviões carregados de toneladas de material médico aos profissionais de saúde. Os profissionais do sistema de saúde público mexicano protestaram nos últimos dias pelas carências que enfrentam, tanto de preparação como de falta de material, que fez com que se produzissem vários surtos em diversos hospitais do país entre os profissionais que trataram algum contaminado de Covid-19. A falta de equipamento ficou latente também na sexta-feira, quando López Obrador, em uma ligação com seu homólogo norte-americano, pediu a Donald Trump que os Estados Unidos vendessem 10.000 respiradores e 10.000 monitores, o que ele aceitou em um primeiro momento.

No Cone Sul, o Equador se transformou no epicentro da crise na América Latina, na medida em que o Estado entrou em crise pela incapacidade de retirar cadáveres das casas, especialmente na cidade de Guayaquil. O colapso sofrido pelo país sul-americano é o maior medo de toda a região. A Argentina, um dos países que mais rapidamente adotou medidas drásticas ―neste final de semana completa 20 dias de confinamento obrigatório, com fronteiras fechadas e a atividade econômica em hibernação―, acredita que a quarentena e o fortalecimento da estrutura sanitária ajudarão a mitigar o golpe. O Governo tomou no começo de março o controle da única fábrica argentina de equipamentos de respiração assistida e tem o monopólio das compras de testes, todos importados. O sistema sanitário também recebeu mais 15.000 profissionais da saúde, entre residentes que devem ficar em seus postos, estudantes de medicina e voluntários. Para evitar conflitos sociais, o Governo deu dinheiro extra às populações periféricas da cidade de Buenos Aires, onde se concentram os maiores focos de pobreza.

Os alarmes também soaram cedo na Venezuela, onde a destruição do sistema de saúde há anos complica ainda mais um possível cenário de propagação do vírus. Nicolás Maduro proibiu a entrada e saída de voos ao país e ordenou o uso de máscaras a toda a população, assim como pediu ajuda à China. Ajuda, uma das palavras que mais se repetem, no caso da América Latina também é econômica. A Colômbia, consciente do impacto da crise, pediu ao FMI a renovação da linha de crédito de 11 bilhões de dólares (56 bilhões de reais). O país decretou em 25 de março uma quarentena obrigatória que se prolongará pelo menos até o final de abril, ao mesmo tempo em que, como a Argentina, fechou as fronteiras e paralisou o tráfego aéreo.

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