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Equipe de contenção do coronavírus na China dá bronca na Itália: “Ainda há festas nos hotéis”

O vice-presidente da Cruz Vermelha chinesa critica a falta de rigor das políticas de confinamento

Sun Shuopeng, vice-presidente de Cruz Vermelha na China.
Sun Shuopeng, vice-presidente de Cruz Vermelha na China.Domenico Stinellis (AP)

Os médicos chineses que ajudaram a superar o coronavírus em Wuhan, o epicentro da pandemia, alertaram que o confinamento aplicado na Itália não é suficiente para conter o vírus e recomendaram a adoção de medidas muito mais severas. A equipe de nove especialistas da China, que trabalha desde quinta-feira em Milão para ajudar as autoridades italianas criticou duramente, depois de visitar a cidade, a leveza das restrições postas em prática no país e recomendou medidas mais rígidas para que todas as pessoas fiquem em casa, a única maneira, dizem eles, de impedir a propagação do vírus.

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An employee of the Russian Federal Service for Surveillance on Consumer Rights Protection and Human Wellbeing (Rospotrebnadzor) takes swab samples to test for the coronavirus, at the special outdoor screening station for COVID-19 coronavirus at Pulkovo airport in St. Petersburg, Russia, Friday, March 20, 2020. The Russian government says that it has decided to bar entry to all foreigners starting Wednesday. For most people, the new coronavirus causes only mild or moderate symptoms, such as fever and cough. For some, especially older adults and people with existing health problems, it can cause more severe illness, including pneumonia. (AP Photo/Dmitri Lovetsky)
Perguntas não respondidas sobre coronavírus impedem saber o que acontecerá nos próximos meses

“As medidas adotadas são muito pouco rigorosas. Se não for alterado o modo de enfrentar esse problema, o vírus continuará circulando", afirmou o vice-presidente da Cruz Vermelha chinesa, Yang Huichuan, em entrevista coletiva em Milão, capital da Lombardia, a região mais afetada, com 15.757 dos 41.035 casos no país. “A vida de nossos cidadãos é a coisa mais importante agora. Não há uma segunda chance quando se fala de vidas", continuou Yang, que também é responsável pelo grupo de médicos chineses enviados à Itália.

Yang expressou à mídia seu espanto com o número de pessoas que viu nas ruas de Milão, a capital econômica do país.“O transporte público continua funcionando, há muitas pessoas pelas ruas e ainda há jantares e festas em hotéis. Além disso, na área mais atingida pelo vírus, as pessoas não usam máscaras, criticou. Ele também observou que o quadro vivido agora na Itália, que já ultrapassou a China no número de mortes, e particularmente na Lombardia, é “muito semelhante” ao que de alguns meses atrás em Wuhan, foco do surto. “Somente após um mês de fechamento completo da cidade os hospitais puderam começar realmente começar a tratar os pacientes e superar o pico da doença”, alertou o médico. Ele recomendou que, para acabar com o contágio, é necessário “interromper toda atividade econômica e bloquear a mobilidade das pessoas”.

Ele também destacou a importância de que todos os cidadãos, não apenas as autoridades e o pessoal de saúde, se envolvam na luta contra o vírus e sigam “de forma rigorosa as políticas de fechamento”. “Essa pandemia só vai parar se todas as pessoas ficarem em casa”, resumiu o médico. E aplaudiu o fato de que o mundo está se movendo “em direção a uma prática internacional de controle de doenças infecciosas”.

O governador da Lombardia, Attilio Fontana, que há dias pede novas restrições ao Governo central, como a proibição expressa de sair de casa para passear ou praticar esportes ao ar livre e o envio do Exército para conter deslocamentos, anunciou nesta sexta-feira que 114 militares começarão patrulhar as ruas das cidades lombardas para controlar os movimentos das pessoas. “Infelizmente, ainda hoje os números não são bons, nem em termos de novos casos nem em termos de mortes. As cifras não se aproximam de uma mudança de tendência, ao contrário, estão aumentando de forma significativa", alertou Fontana.

Outros governadores de diferentes regiões também fazem pressão em Roma para reforçar as restrições. A Sicília e a Campânia também pediram patrulhas militares, para as quais o Executivo deu aval. O presidente do Vêneto, Luca Zaia, estabeleceu que quem for levar seus animais de estimação para passear não pode se afastar mais de 200 metros de sua casa. E sugeriu que as forças policiais possam controlar os movimentos das pessoas mediante a localização de seus telefones celulares, seguindo o exemplo de países como China, Coreia do Sul e Israel.

O governador de Friuli Venezia Giulia, Massimiliano Fedriga, decretou por conta própria a proibição de caminhar ou praticar esportes ao ar livre e o fechamento no domingo de todas as atividades comerciais, exceto farmácias e quiosques. A Prefeitura da capital também anunciou que, a partir deste final de semana, a polícia abandonará a técnica de controles aleatórios e parará todos os veículos que circulam na cidade para verificar o motivo do deslocamento.

Os ministros da Defesa e do Interior, Lorenzo Guerini e Luciana Lamorgese, indicaram que mais de 20.000 agentes e soldados das forças armadas e das forças de segurança do Estado estão disponíveis para participar da luta contra o coronavírus. “A melhor garantia de um resultado positivo seria que cada um de nós se tornasse seu próprio controlador”, disse Lamorgese em entrevista ao jornal La Repubblica, em que também confirmou que não está descartada a aplicação de novas restrições se não for respeitada a ordem de ficar em casa e sair somente para o estritamente necessário.

Em Roma, dois conventos foram isolados depois que sessenta freiras deram positivo para coronavírus. As autoridades iniciaram um estudo epidemiológico para determinar como as infecções ocorreram. Um deles é dedicado ao cuidado dos doentes e o outro, ao ensino.

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