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Remédios contra AIDS curam paciente com coronavírus na Espanha

Hospital de Sevilha usa com bons resultados um tratamento experimental contra o SARS-CoV-2, combinando os antivirais lopinavir e ritonavir e o interferon beta

Oriol Güell
O hospital Virgen del Rocío de Sevilla, na Espanha.
O hospital Virgen del Rocío de Sevilla, na Espanha.JOSÉ MANUEL PÉREZ CABO

Um tratamento experimental, baseado nos medicamentos mais utilizados contra a AIDS há mais de uma década, foi a opção escolhida pelos médicos do Hospital Virgen del Rocío de Sevilha (sul da Espanha) para tratar com sucesso o primeiro paciente contaminado na Espanha com o coronavírus SARS-CoV-2. Trata-se da aplicação de lopinavir/ritonavir, também usado para combater infecções pelo HIV, junto ao interferon beta, uma proteína que ajuda as células a se protegerem da infecção, confirmaram fontes médicas ao EL PAÍS.

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“É um tratamento experimental que deu bons resultados frente a outros vírus”, explica Albert Bosch, presidente da Sociedade Espanhola de Virologia. “Uma de suas maiores vantagens é que são fármacos aprovados e utilizados em outras indicações, por isso não há dúvidas sobre sua segurança”, acrescenta.

Um destes vírus suscetíveis ao tratamento é o que causa a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS, na sigla em inglês). Embora uma recente comunicação publicada na revista Nature recordasse que “não existem tratamentos aprovados contra a MERS”, a Arábia Saudita —país mais afetado por essa doença— está promovendo estudos clínicos em seres humanos. “Os resultados são promissores, mas ainda não há suficiente evidência para sua aprovação, e estão em fase experimental”, afirma os especialistas consultados.

Santiago Moreno, chefe de doenças infecciosas do Hospital Ramón y Cajal (Madri), explica que “a protease do SARS-CoV-2 se parece muito com a do HIV”, e que “essa enzima é fundamental para que o vírus possa se replicar”. “A combinação de lopinavir e ritonavir a inibe e bloqueia o HIV”, acrescenta. “Os resultados que conhecemos até agora sobre seu uso contra o coronavírus são animadores”, afirma.

O interferon beta, o outro fármaco utilizado em Sevilha, tem um mecanismo de atuação semelhante. É uma das chamadas proteínas sinalizadoras produzidas de forma natural pelas células humanas ao serem infectadas por um vírus. “O objetivo é alertar às demais células, que desenvolvem assim uma maior resistência à infecção”, ilustra Bosch. Alguns hospitais de Wuhan também utilizaram o tratamento empregado no Virgen del Rocío em pacientes com o coronavírus CoV-19, segundo várias comunicações publicadas em revistas científicas, embora novamente “as provas sobre sua eficácia sejam escassas”, segundo os especialistas.

O uso de lopinavir/ritonavir junto ao interferon beta é um dos chamados tratamentos para “uso compassivo experimental” aprovados pelo Ministério da Saúde da Espanha. São terapias cujo uso pode ser solicitado quando não existirem alternativas terapêuticas disponíveis, habitualmente em doenças graves ou potencialmente letais. Os médicos que considerem que pode ser útil para um determinado paciente devem obter por escrito uma autorização para administrá-lo, tanto do doente como das autoridades sanitárias.

Os bons resultados obtidos no Hospital Virgen do Rocío nesse paciente, de 62 anos, são notáveis devido ao recente surgimento da Covid-19 e porque oferece uma nova evidência clínica. Como ocorre na medicina, entretanto, um caso isolado não significa que possa ser utilizado em outros doentes, nem que o resultado será o mesmo. Essa é a tarefa dos testes clínicos.

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