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Espanha atribui morte de militar por trombose a aplicação de vacina da AstraZeneca contra a covid-19

Apesar da “dura notícia”, ministra da Defesa enfatiza a importância da vacinação. Fiocruz, que produz o imunizante no Brasil, diz que eventos são “extremamente raros” e reafirma segurança

A chefa do Governo de Navarra, María Chivite, à esquerda, e a ministra da Defesa, Margarita Robles, durante a homenagem ao cabo que morreu dias depois de ser vacinado com a AstraZeneca.
A chefa do Governo de Navarra, María Chivite, à esquerda, e a ministra da Defesa, Margarita Robles, durante a homenagem ao cabo que morreu dias depois de ser vacinado com a AstraZeneca.PABLO LASAOSA
Pedro Gorospe

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A morte do cabo Francisco Pérez, de 35 anos, após sofrer uma “trombose venosa cerebral com trombocitopenia e hemorragia” no dia 24 de abril, está diretamente relacionada à vacina da AstraZeneca que ele tomou 17 dias antes de sua morte, afirmou a ministra da Defesa da Espanha, Margarita Robles. Ela informou nesta segunda-feira que laudos médicos concluíram que a morte do soldado, estacionado em um quartel em Navarra, foi consequência da administração da vacina contra a covid-19. “Nos relatórios médicos que nos entregaram parece que não há nenhuma dúvida de que foi uma consequência da administração da vacina”, disse a ministra à imprensa. A Agência Europeia de Medicamentos (EMA) reconheceu uma “possível ligação” entre esta vacina e casos muito raros de coágulos sanguíneos associados a baixos níveis de plaquetas. Até a morte do militar, 222 casos de coágulos tinham sido contabilizados entre 35 milhões de doses administradas na União Europeia. A vacina é aplicada no Brasil —a Fiocruz, parceira na produção, reafirma a segurança do imunizante, enquanto a Anvisa diz que não alterou sua orientação sobre a relação risco-benefício do medicamento.

O cabo foi vacinado com a AstraZeneca na tarde do dia 7 de abril em sua própria unidade. A Associação de Tropas e Marinheiros Espanhóis (ATME) explicou, após a morte, que nos dias seguintes à aplicação ele sofreu “fortes dores de cabeça e um mal-estar agudo”, o que o obrigou a ir ao serviço de primeiros socorros do quartel e depois a um posto de atendimento de emergência em Pamplona. Na noite de quarta-feira, 21 de abril, o cabo sofreu um desmaio em sua casa, segundo informou a unidade do Exército à qual pertence o regimento América 66.

A ministra da Defesa visitou nesta segunda-feira o Regimento de Infantaria América 66 de Caçadores de Montanha, baseado no quartel de Aizoáin (Navarra), ao qual pertencia o cabo. Acompanhada pela presidenta do Executivo (primeira-ministra) navarro, María Chivite, e do delegado do Governo, José Luis Arasti, transmitiu suas condolências à viúva do soldado morto e sua mãe. Robles destacou que a morte do militar “é uma notícia muito dura”, mas, ao mesmo tempo, enfatizou que “é importante que as pessoas se vacinem”. “A vacina também é uma segurança”, disse ela. “Queríamos estar aqui para transmitir a nossa gratidão, o nosso carinho, e ao mesmo tempo dar esta mensagem de que temos de vencer o vírus e que a melhor maneira de o vencer, mesmo que haja momentos difíceis e dolorosos, é precisamente se vacinando”, manifestou.

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Na Espanha, 3,8 milhões de pessoas receberam a vacina do laboratório anglo-sueco, segundo dados do Ministério da Saúde em 30 de abril. Um milhão e meio dessas pessoas têm menos de 60 anos e aguardam a decisão do ministério sobre a segunda dose. Depois do relatório da EMA que encontrou ligações entre a vacina e os casos de coágulos, o Governo decidiu limitar o uso do imunizante e administrá-lo exclusivamente a pessoas entre 60 e 69 anos. Na última sexta-feira, a Comissão de Saúde Pública do Ministério da Saúde adiou por quatro semanas a decisão sobre o que fazer com o grupo que tomou uma dose, enquanto se aguarda o resultado de um estudo sobre os efeitos da combinação de uma primeira dose da AstraZeneca com uma segunda da Pfizer.

No Brasil, cerca de 10 milhões de doses da vacina foram aplicadas —ela representa 23% das imunizações realizadas no país, ainda dominadas pela chinesa Coronavac. Segundo a Fiocruz, parceira na produção do imunizante, os eventos de trombose relatados na Europa são “extremamente raros”, de acordo com estudos das agências de medicamentos europeia e do Reino Unido. Além disso, informa, um estudo de pesquisadores da Universidade de Oxford indica que o risco de ocorrer trombose venosa cerebral em pessoas com covid-19 é de 8 a 10 vezes maior do que em pessoas que tomaram a vacina para a doença. “Recomenda-se fortemente a continuidade da vacinação, pois os benefícios superam em muito os riscos. A vacina oferece alto nível de proteção contra todos os graus de severidade da covid-19″, afirma a fundação.

Já a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que concedeu registro definitivo para o imunizante no Brasil, afirma que vem monitorando e avaliando todas as notificações referentes à vacinas contra o coronavírus. “Até o momento, não houve indicação técnica sobre uma alteração da relação risco-benefício da vacina no Brasil”, afirma o órgão. Segundo a agência, a ocorrência de eventos tromboembólicos consta com um dos eventos muito raros previstos para a vacina e foi incluída na bula no início de abril.

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