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Medo e ansiedade com a crise do coronavírus? Conselhos dos psicólogos para tranquilizá-lo

Prestar atenção aos cuidados relacionados à prevenção da transmissão e tentar manter a calma estão entre os principais fatores, de acordo com os psicólogos

Coronavírus ansiedade
Agencia Getty

Diante da incerteza gerada por esse tipo de situação de emergência sanitária e de reordenamento social, o Colégio de Psicólogos de Madri divulgou um comunicado nesta semana para ajudar a superar o mal-estar emocional, oferecendo conselhos para quem tem e para quem não tem relação direta com o vírus

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Se você não foi afetado pela doença

A ansiedade pode se manifestar de várias formas: nervosismo, agitação, estado de alerta; não conseguir pensar em outra coisa; necessidade de ver e ouvir constantemente informações sobre o coronavírus; dificuldade para realizar tarefas diárias. Também é percebida nas pessoas que estão com problemas para adormecer e que “acham difícil controlar sua preocupação e perguntam persistentemente aos familiares sobre seu estado de saúde, alertando-os sobre os graves perigos que correm toda vez que saem de casa”.

Diante dessa situação, o Colégio de Psicólogos propõe:

Identificar pensamentos que possam lhe causar mal-estar. “Pensar constantemente na doença pode causar o aparecimento ou o aumento de sintomas que ampliem seu mal-estar emocional.”

Reconhecer nossas emoções e aceitá-las. “Se necessário, compartilhe sua situação com os mais próximos para encontrar a ajuda e o apoio necessários.”

Questione: procure provas de realidade e dados confiáveis. “Conheça os fatos e dados confiáveis oferecidos pelos meios de comunicação oficiais e científicos e fuja de informações que não provenham dessas fontes, evitando informações e imagens alarmistas.”

Informe seus entes queridos de maneira realista. “No caso de menores ou pessoas especialmente vulneráveis, como idosos, não minta para eles e forneça explicações verdadeiras, adaptadas ao seu nível de compreensão.”

Evite informações em excesso. “Estar permanentemente conectado não o deixará mais bem informado e poderia aumentar desnecessariamente sua sensação de risco e nervosismo.”

Comprove a autenticidade das informações que você compartilha. “Se você usa as redes sociais para se informar, procure fazê-lo com fontes oficiais.”

Como cuidar de si mesmo nestes casos: os colegiados da Comunidade de Madri recomendam manter “uma atitude otimista e objetiva”. Evite falar o tempo todo sobre o assunto, apoie-se na família e nos amigos e ajude a família e os amigos a manter a calma e um pensamento “adaptativo a cada situação”, além de tentar levar uma vida normal na qual não se alimente o medo dos outros.

Se você pertence à população de risco, de acordo com as autoridades sanitárias

O Colégio de Psicólogos propõe:

Siga as recomendações e medidas de prevenção determinadas pelas autoridades sanitárias. “Confie nelas porque sabem o que fazer. Têm o conhecimento e os meios”.

Informe-se de forma realista.

Não trivialize seu risco “para tentar evadir a sensação de medo ou apreensão com a doença”.

Tampouco o amplifique. Seja cauteloso e prudente sem se alarmar.

Se lhe recomendarem medidas de isolamento, lembre-se de que “é um cenário que pode levar você a sentir estresse, ansiedade, solidão, frustração, tédio e/ou irritação, juntamente com sentimentos de medo e desespero, cujos efeitos podem durar ou aparecer mesmo depois do confinamento. Tente se manter ocupado e conectado com seus entes queridos.”

Crie uma rotina diária e aproveite para fazer as coisas que você gosta, mas que geralmente, por falta de tempo, não pode fazer (ler livros, assistir filmes, etc.).

Se você está sofrendo da doença

Além de seguir as recomendações acima, os colegiados indicam vários pontos importantes para o autocuidado:

Administre seus pensamentos intrusivos. “Não se ponha na pior situação antecipadamente.”

Não se assuste desnecessariamente. “Seja realista. A imensa maioria das pessoas está se curando.”

Quando sentir medo, conte com a experiência que você tem em situações semelhantes. “Talvez agora não associe isso por ter uma percepção de maior gravidade. Pense quantas doenças você superou com sucesso na vida.”

O telefone como foco de ansiedade

“Tenho ansiedade porque todas as conversas, grupos de WhatsApp, noticiários e timelines das redes sociais (bem, menos o Instagram, que como sempre faz o que quer) são sobre o mesmo assunto. Não é possível escapar do circuito em nenhum momento”, explica Lucía Benito, uma barcelonesa grávida de cinco meses que sofre de mal-estar emocional e físico devido ao ciclo de informações e ao alarme sanitário do coronovírus. Lucía, como boa parte da população, trabalha remotamente de casa. “Como grávida, sinto falta de mais informações específicas sobre como isso nos afeta. Li coisas contraditórias sobre os efeitos do vírus na gravidez. Tenho um pouco de taquicardia à noite (embora seja normal tê-la durante a gestação) e é difícil me concentrar no trabalho”, acrescenta. Lucía não está sozinha. “Não assisto televisão, mas é impossível me isolar, minha ansiedade disparou”, explica Cristina González, assistente social de uma prefeitura da província de Barcelona. O coronavírus invadiu grupos de conversas familiares em que abundam áudios com boatos sobre supostos transbordamentos nos hospitais. Está em fotos de supermercados vazios que viralizaram e que ridicularizam certos setores da população. Também em memes racistas sobre a epidemia, é o protagonista dos surtos de histeria nas conversas de WhatsApp, onde se especula sobre supostos fechamentos do espaço aéreo ou de fronteiras sem qualquer confirmação oficial ou governamental.

Abrir as redes sociais hoje em dia não é uma tarefa fácil, especialmente para quem tem altos níveis de ansiedade. “Sinto-me exausta, minha cabeça vai explodir. Estou trabalhando de casa e me conectar às redes ou olhar para o meu celular gera muitíssima ansiedade”, explica Laura Montes, trabalhadora do setor de comunicação de 38 anos. Sua situação a inclui na população de risco. “Pacientes com transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) ou ansiedade generalizada são população de risco psicológico no momento e estamos recebendo muitas perguntas sobre a incerteza causada pelo coronavírus. Tanto para eles quanto para os outros é importante manter a calma, não se alarmar e seguir as recomendações das autoridades sanitárias”, aconselha a psicóloga Silvia García Graullera, especialista em transtornos de ansiedade e diretora do centro PSICIA.

Aprender a reconhecer seus medos

“O medo não é uma emoção ‘ruim’ em si”, esclarece o psicólogo Rafael García. “O que é ‘ruim’ é que apareça quando não é adaptativo (em uma situação em que não corremos risco); que não apareça quando seria adaptativo se ocorresse (em situação de risco) ou que apareça com uma intensidade tal que nos bloqueia”, alerta antes de analisar a sensação de mal-estar emocional generalizada pelo alarme sanitário. Uma situação excepcional em que a disparidade social e de assistência também influenciam. Não é a mesma coisa enfrentar um chamado à reclusão tendo que cuidar das crianças e fazer teletrabalho sem nenhum tipo de ajuda do que com a possibilidade (e dinheiro) de tê-la.

Nossas experiências e traumas do passado também podem influir de forma problemática nesse período extraordinário. “O fato de termos vivido situações traumáticas (no caso que nos diz respeito, falaríamos de doenças próprias ou alheias ou de mortes de entes queridos) pode alterar a relação que temos com o nosso mundo emocional e, a partir daí, viver o medo, neste caso, de um lugar inapropriado”, adianta. Para García, o importante é colocar o medo no contexto que estamos enfrentando no momento. “Para administrar a ansiedade diante do alarme sanitário, acho que seria importante que cada um escutasse a mensagem do seu medo. Esse medo seria de se infectar e morrer, de se infectar e matar, de nossos entes queridos serem infectados, de perdas financeiras, de isolamento, de estar desabastecido, de rejeição, de não poder assumir responsabilidades de cuidados...? Seria importante conhecer esse medo: se é um medo antigo; se é novo ou se você aprendeu com alguém”.

Controlar o consumo de informações (com fontes confiáveis)

Os conselhos de García envolvem contextualizar nossos medos e tentar acalmá-los com “recursos pessoais que nos regulam emocionalmente” e um consumo limitado de notícias, colocando o foco nos meios de comunicação oficiais. “A busca excessiva por informação é uma ação que nos oferece controle para acalmar o medo, mas paradoxalmente o aumenta, pois alimenta o obsessivo diante do racional. Fazer uso adequado das informações (especialmente as provenientes da mídia oficial) e conceder-lhes um espaço mental também adequado pode nos ajudar a transitar pelas circunstâncias atuais da maneira mais saudável possível.”

Buscar fontes confiáveis é outra recomendação da psicóloga Yolanda Cuevas Ayneto. “Devemos limitar a exposição aos meios de comunicação. As informações nos dão segurança, mas se nos empanturramos, nos confunde e aumenta a vulnerabilidade. Mas lembre-se, ser vulnerável não anula seus recursos”, ressalta. A psicóloga, como remédio, aconselha “praticar o autocuidado” nesse estado excepcional com o autoconhecimento. “Você pode aprender a acalmar sua mente desses pensamentos de ansiedade antecipatória, pensamentos alarmistas e pessimistas. Você pode se conectar à sua respiração, sentir o ar entrando e saindo, seu percurso e toda vez que você cair nesses pensamentos, volte sua atenção para o nariz, esse lugar por onde o ar entra e sai. Repetidas vezes, sem se deixar levar pelos juízos. Não se trata de não ter pensamentos, mas de saber acompanhá-los e soltar”.

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